À altura dos precoces oito anos de idade, Stephan de Freitas Barcha decidiu pular obstáculos para assumir a rédea dos próprios sonhos. Filho do fisioterapeuta Álvaro Barcha, admirador de cavalos, Stephan foi picado pela paixão do pai. “Desde muito pequeno, por alguma razão, sempre gostei muito”, diz ao Correio em entrevista da Holanda, onde encerra o período de treinos para a competição de hipismo salto nos Jogos Olímpicos de Paris-2024.
Aos 34 anos, com a égua Chevaux Primavera Império Egípcio, o carioca radicado em Brasília é uma das apostas do Brasil para findar a busca de 20 anos por uma medalha olímpica na modalidade. A última veio com o ouro de Rodrigo Pessoa, em Atenas-2004. Prestes a participar da segunda Olimpíada na carreira após a participação nos Jogos do Rio-2016, ele desembarcará em Paris como medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023 no salto individual.
Barcha iniciou no esporte aos nove anos. Ao lado do pai, era um assíduo frequentador de fazendas de amigos da família. Antes das primeiras montarias, acumulava experiência. Aos 20, decidiu deixar a Sociedade Hípica Brasileira, no Rio de Janeiro, palco das primeiras cavalgadas, rumo à Itália. Lá, teve a chance de trabalhar ao lado de Nelson Pessoa, referência do esporte e pai de Rodrigo. A experiência de “estágio” foi edificante para ele. “Aprendi muito na Itália, e também consegui um cavalo melhor. Foi muito bom poder aprender com uma referência tão forte, que é o Nelson. Assim, realizei o sonho de ir às Olimpíadas”, conta.
A performance registrada nos Jogos do Rio-2016 ficou aquém das expectativas. Aos 26, era o caçula da Seleção brasileira. A estreia no Parque Equestre General Eloy Menezes, em Deodoro, foi positiva. Finalizou o primeiro percurso sem penalidades. Dois dias depois, não avançou. Na etapa por equipes, causou um leve arranhão no cavalo LandPeter com a espora. O instrumento de encaixe para os pés é utilizado a fim de dar impactos na barriga do animal e incentivá-lo a aumentar a velocidade. “Foi uma fatalidade. Nunca aconteceu na minha carreira e provavelmente não vai mais acontecer”, lamentou à época.
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Depois de ficar fora dos Jogos de Tóquio-2020, Barcha revela ter um diferencial para brilhar na França e colocar no peito a primeira medalha olímpica na carreira: a humildade e o equilíbrio. “Antes de garantir a vaga olímpica, já estava com isso na cabeça, mas continua aqui dentro. A moral fica elevada, é claro, mas isso não garante nada. Sempre tenho meus pés no chão. Nesse esporte, no qual temos apenas 90 segundos, tudo pode dar certo ou errado. A tranquilidade e a humildade são fundamentais”, pondera.
Brasília na veia
Embora tenha nascido no Rio de Janeiro, Barcha tem uma relação especial com o DF. Em dezembro de 2016, deixou a Europa para morar na capital federal. Desde então, apaixonou-se pela cidade. Além de representar a Federação Hípica de Brasília quando compete, ele se considera um brasiliense.
“Minha família não só é de lá, como mora lá. Foi onde meus filhos nasceram, e onde tenho muitos amigos. Vou para lá por sete dias a cada cinco semanas, e não me vejo em outro lugar no Brasil”, conta. Hoje morador da Holanda, ele se sente orgulhoso por representar a capital do Brasil.
“Vai ser um grande prazer. Compito pela Federação de Brasília, então a carrego no peito. Vou levá-la comigo em uma Olimpíada pela segunda vez”, celebra. Ele está no time com Pedro Veniss, Rodrigo Pessoa e Yuri Mansur, além do treinador Philippe Guerdat. Barcha chegará a Paris na sexta-feira. Na próxima segundafeira, a equipe de saltos fará check-in na Vila Olímpica.
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*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
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