Rio de Janeiro — A menos de duas semanas da abertura dos Jogos de Paris-2024, um exercício de memória. Da primeira edição da competição mais nobre do mundo para cá, na Antuérpia-1920, o Brasil conquistou 150 pódios. Treze com o vôlei de praia, a quinta modalidade com maior contribuição nessa linha de produção de medalhas para o país. Duas delas passaram pelas mãos de Adriana Samuel: a prata na estreia da disputa em Olimpíada, em Atlanta-1996, e o bronze na versão de Sydney-2000. Vinte e três anos depois da aposentadoria, ela poderia constatar: sair do esporte é fácil, difícil é ele te deixar.
Adriana Samuel não joga mais profissionalmente, mas atua em uma posição fundamental para o funcionamento das engrenagens olímpica e paralímpica do país. Pioneira do vôlei de praia, hoje ela atua na captação de marcas e incentivos para a formação e gestão de times e competidores. Aos 58 anos, trabalha como gestora do Time Petrobras, projeto tocado desde 2015 com patrocínio a 55 atletas. Ela é uma espécie de embaixadora dos competidores. Defende o apoio financeiro estatal e tem como respaldo a visão e a experiência de quem esteve do outro lado do balcão.
"Imagine um atleta se dedicar. Ele para a vida. As pessoas tendem a achar que os atletas vivem em uma bolha, que não pagam contas, não precisam de plano de saúde para a mãe, não têm de fazer economia, porque a vida é curta e vão parar cedo. A maioria não consegue fazer um pé de meia. É aí que você vem com esse aporte direto para que modalidades sem tanto investimento comprem a primeira casa. Tenho milhões de argumentos para justificar um atleta receber patrocínio direto", expõe ao Correio.
A versão gestora de Adriana Samuel foi descoberta nas areias. Ela não precisou se distanciar do esporte para buscar inspiração para a segunda grande empreitada. "A praia foi meu grande laboratório e faculdade, me fez descobrir uma veia comercial, pois adorava fazer meus projetos de patrocínio e captação. Quando paro de jogar, a Adriana Behar e a Shelda Bedê, adversárias, me chamam para ser empresária delas. Estive com ambas por sete anos, com três contratos. Olha só como são as coisas. Não é de uma hora para outra. Depois veio Ricardo e o Manuel, Tande e Giovane quando foram para a praia, os ajudei em captação de patrocínio", compartilha. Adriana também liderou o Time de Atletas Embratel, entre 2010 e 2018.
- Entrevista: Isaquias relata abdicação da vida social e pede mais provas no DF
- Destaque do halterofilismo, Laura Amaro realiza sonho olímpico
- A menos de um mês de Paris-2024, relembre os brasilienses medalhistas
- Petrobras renova incentivo ao esporte olímpico e paralímpico do país
Visão
A menos de duas semanas da abertura dos Jogos Olímpicos de Paris-2024 e a 46 do início dos Paralímpicos, o Time Petrobras tem 55 protagonistas patrocinados. Em quase uma década de atuação, o projeto viu atletas conquistarem 157 medalhas em Pan-Americanos, Olimpíada e Paralimpíadas. Os R$ 28 milhões injetados em campanhas de figuras conhecidas, como Isaquias Queiroz (canoagem), Ana Marcela Cunha (águas abertas) e Hugo Calderano (tênis de mesa). Outros nem tanto. É aí que entra a sensibilidade da gestora na distribuição dos recursos.
"São níveis salariais diferentes, obviamente, em função dos resultados. O Isaquias construiu quatro medalhas olímpicas e não tem como ganhar o mesmo valor que o Mateus Nunes (canoagem), de 18 anos. Existe a questão de quem é o atleta, a imagem… Pensamos no que o atleta tem para oferecer em termos de contrapartida. As negociações são específicas. No skate e no surfe, não podem colocar logomarca na camisa, não podem usar boné com marca, você tem poucos espaços para aproveitar. São muitos desafios quando você entra no momento da negociação", detalha.
A terceira Olimpíada como capitã do Time Petrobras a leva a crer em resultados expressivos. Isaquias Queiroz, Ana Marcela Cunha, Martine Grael e Kahena Kunze (vela) são palpites seguros. Marcus D'Almeida (tiro com arco), Ana Patrícia e Duda, Carol Solberg e Bárbara Seixas (duplas do vôlei de praia), Keno Marley (boxe), Guilherme Schimidt (judô), Flávia Saraiva (ginástica artística) e Ana Sátila (canoagem slalom) estão no bilhete de aposta.
Além de gestora, Adriana costuma ser conselheira. A experiência a permite bater na tecla do planejamento pós-carreira com os próximos. "Isso é tão difícil, já pensei tanto. No auge, são poucos que enxergam que aquilo acabará. Eu tive muita clareza e fui muito feliz. Eu tinha muita coisa para fazer além do vôlei."
"Coloquei na cabeça de ir a essa Olimpíada, mais em uma vibe de torcedora, a passeio, mas acho que vou trabalhar muito. É muito impactante", ressalta. Ao ser provocada sobre qual edição gostaria de ter jogado após a aposentadoria, ficou em cima do muro. "Páreo duro. Rio de Janeiro, jogar em casa… A briga é pesada, mas, pela arena, Paris. Essa é uma das sacadas legais do vôlei de praia, não é como em Atlanta-1996, quando levaram para um bosque. Sydney também foi maravilhoso", relembra.
*O repórter viajou a convite da Petrobras