MEMÓRIA

Reinventado, Museu do Futebol reabre as portas em São Paulo

Museu do Futebol é reinaugurado hoje em SP com ampliação do espaço feminino, novos itens e muita imersão

São Paulo* — A reinvenção de um espaço mágico criado para ser palco de devoção à história do esporte mais popular do planeta. Com essa proposta, mas com o cuidado necessário para não se perder a tradicional essência de encanto construída em 16 anos de história, o Museu do Futebol de São Paulo reabre as portas hoje. Após oito meses fechado para reformas estruturais, a exposição volta aos campos apostando na experiência sensorial para proporcionar aos visitantes uma mágica e profunda caminhada no esporte bretão.

O desafio de dar cara nova a um espaço tão adorado por torcedores brasileiros — quase cinco milhões de pessoas dos mais diversos lugares do mundo passaram pelo espaço desde a inauguração — não era fácil. Para isso, a aposta foi alterar pouco um time vencedor. Grande parte do time original dos criados participou da reformulação do espaço. Além de aprimorar pontos existentes e criar novas experiências, os curadores Leonel Kaz, Marcelo Duarte e Marília Bonas tiveram um cuidado especial: não perder a tradição dos detalhes da ideia inicial.

A atualização deveria, simplesmente, ampliar o espaço de protagonismo do Museu. "O que houve aqui foi a coragem da direção do Museu de convidar a equipe original. Através disso, a gente, que sempre viveu esse espaço e nunca abandonou, o repensou para manter tudo o que é extraordinário, aprimorar a qualidade tecnológica e fazer um ato de ornamento para remeter aos dias atuais", explica Leonel Kaz, ao Correio.

Embora a fase mais profunda de reforma tenha entrado nos nove meses fechado, o projeto apresentado teve mais de dois anos de concepção. "A missão era fazer um percurso que agradasse o avô, o pai, o filho, a filha, a mãe... havia várias coisas para fazer. Foi um exercício muito grande. Fica uma sensação de que é o Museu que eu já conheço, mas com tanta coisa nova", detalha Marcelo. Um dos pesquisadores de conteúdo, inclusive, teve um "aprovação" especial na empreitada. "Na nossa primeira reunião, um dos nossos bibliotecários ficou receoso de se perder a essência. Quando o encontrei ao fim da reforma, ele me deu um sorriso e vi que tudo havia dado certo", conta.

O Museu manteve a essência, como a Sala das Copas, a Sala Pelé e a Sala Raízes. Algumas instalações foram ampliadas. Outras, criadas ou substituídas. Além de todo o acerto histórico, o visitante mergulha em vídeos, fotos e outros materiais lúdicos e audiovisuais para vivenciar uma experiência repleta de imersão e conhecimento. Os espaços de atividade e interatividade, como os de salto, mira e velocidade do chute, foram aprimorados para dar um ar de gran finale nos mais de 6.900m² de conteúdo.

Representatividade

Dezesseis anos se passaram desde a abertura do Museu do Futebol no Complexo do Estádio do Pacaembu. Em todo esse tempo, a sociedade mudou nos mais diversos meios. No futebol, não foi diferente. O protagonismo das mulheres cresceu, o apelo de causas sociais, como o racismo, e de diversidade ficou mais forte. Se antes não acompanhava as tendências, a exposição fez questão de tratar a atualização de conceitos como pontapé inicial da reformulação. Agora, os visitantes serão induzidos à reflexão.

"Quando o Museu foi inaugurado, em 2008, o futebol feminino se resumia a algo de seis linhas. Há 16 anos, não foi dada a devida atenção. O primeiro passo da renovação era dar ao futebol feminino o mesmo protagonismo do masculino", explica Marcelo. A missão foi concluída. Agora, elas aparecem nas mais diversas salas do espaço e estão representadas até nos detalhes mais periféricos aos olhos simplórios.

O que se vê no Museu do Futebol tem influência da curadora Marília Bonas. "Quando cheguei, quatro anos atrás, obviamente me veio a lacuna sobre o futebol feminino. Para mim, era muito impressionante a Marta, com tantos prêmios, estar representada só na Sala das Copas. Foi a primeira semente, antes de chamarmos toda a equipe de curadores, falamos que precisávamos ter a Marta dizendo 'Até logo'. Foi um grande processo", compartilha. Na saída da exibição, a camisa 10 da Amarelinha é projetada em uma tela de tamanho natural se despedindo e convidando o público a retornar, em português, inglês e espanhol O agradecimento é feito na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Embora esteja repaginado, o Museu do Futebol está sujeito a mudanças. Mas por uma boa e nobre causa. "Temos um plano para a Copa do Mundo Feminina 2027, que envolve parceiros internacionais. Nossa ideia é seguir sendo a casa do futebol e, na Copa do Mundo, a casa do futebol feminino. Queremos ter uma belíssima exposição, vamos atualizar a Sala das Copas porque, se tudo der certo, vamos ganhar uma Copa do Mundo em casa, em honra à Marta", revela Marília.

*O repórter viajou a convite da Agência Galo

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