Tarja das olimpiadas
Paris-2024

Nas águas turvas do Sena: limpeza do manancial gera incerteza olímpica

Às vésperas da realização de provas aquáticas, ainda pairam dúvidas sobre a eficácia do projeto de despoluição do rio. Diversos trechos ainda apresentam mau cheiro, excesso de algas e turbidez

Vários trechos do manancial hídrico apresentam forte cheiro de esgoto, turbidez e excesso de algas -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Vários trechos do manancial hídrico apresentam forte cheiro de esgoto, turbidez e excesso de algas - (crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

Paris — Cada passo às margens do Sena revela um novo rio. Os diferentes pontos do curso mostram desde áreas mais limpas àquelas que exalam mau cheiro e ainda preocupam atletas e comitês olímpicos pouco antes da cerimônia de abertura. Ontem, o Correio conferiu de perto a qualidade e a aparência das águas, uma das grandes controvérsias dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Nos últimos anos, as autoridades francesas executaram uma força-tarefa para limpar o histórico rio que corta boa parte da capital. O projeto era ambicioso: deixá-lo em perfeito estado para banho. Afinal de contas, o local receberá as provas de triatlo (30 e 31 de julho e 5 de agosto) e maratona aquática (8 e 9 de agosto), além, é claro, da abertura nesta sexta-feira.

Nadar no local foi proibido por mais de 100 anos. E a conta para tentar virar esse jogo é assustadora: para limpar o Sena, foram investidos cerca de 1,4 bilhão de euros (R$ 8,58 bilhões). A principal estratégia foi construir um enorme reservatório para captar chuva e reduzir a contaminação.

Após o conturbado processo de higienização, adiado várias vezes pelo alto grau de poluição, governantes locais decidiram colocar a qualidade das águas à prova. Dias antes da abertura, a ministra do esporte e da Olimpíada da França, Amélie Oudéa-Castéra, e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, mergulharam no rio.

Ainda assim, há muita desconfiança. O Sena está realmente próprio para banho? Ao longo dos últimos dias, a reportagem visitou diferentes pontos até o teste final, ontem, quando uma câmera foi colocada dentro d’água. Mais do que mergulhar no local, a ideia foi perceber em imagens a tonalidade e o aspecto do espaço onde nadarão atletas como a brasileira Ana Marcela Cunha — campeã olímpica da maratona aquática em Tóquio, 2021.

Ao longo de todo o curso que será usado para natação, as águas são turvas. A cor esverdeada impede a visualização clara do manancial, centímetros à frente, mesmo em dias de boa iluminação solar. Cientificamente, este não é necessariamente um sinal de contaminação ou sujeira. Aspectos mais visuais, como a ausência de garrafinhas, sacolas e outros tipos de resíduos, por exemplo, reforçam a ideia de que o local está limpo.

Contudo, há pontos de preocupação. Em vários trechos, a presença de algas é grande — tanto nas paredes laterais, quanto no meio do rio. Algumas regiões, como a de Bercy (de onde foram feitas as fotografias desta reportagem), exalam um cheiro forte, que se assemelha ao de esgoto. Uma grande preocupação é a chuva: precipitações intensas aumentam os níveis de bactérias no Sena, tornando-o impróprio para banho. Nesta semana, na terça-feira, choveu em Paris. Depois disso, Sol ou tempo nublado.

Nos últimos meses, a preocupação sobre a qualidade da água repercutiu entre atletas. A própria Ana Marcela Cunha reclamou: “O Sena é lindo, mas ele não foi feito para nadar”, chegou a dizer, em março. Depois, orientada pelo Comitê de Atletas da World Aquatics, voltou atrás e disse que as autoridades tinham um “plano B” caso a despoluição não vingasse. Agora, a dias da prova, um único plano: enfrentar o Sena e buscar o bicampeonato.

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postado em 25/07/2024 23:21
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