Na mala, um par de tênis tamanho 47. No coração, a família, que trilhou o caminho. Na pele, Brasília. Assim Gui Santos desembarca em Paris para representar a Seleção Brasileira de basquete nos Jogos de 2024 como um dos nomes de destaque do plantel verde-amarelo, de volta aos palcos olímpicos da bola laranja. Seguindo os passos do pai e da mãe, também jogadores, o candango de 22 anos se estabeleceu como um talento da nova geração para recolocar o Brasil no pódio e representar o Distrito Federal em meio aos gigantes.
Cria da Vila Planalto, o jovem deu os primeiros arremessos no quadradinho com passagens pelas categorias de base do UniCeub e do Vizinhança. Depois, acompanhou por outras cidades o pai Deivisson, ex-pivô de Franca, Araraquara e São José. A carreira de Gui começou a tomar maior forma com a chegada ao Minas Tênis Clube, ainda aos 15 anos, onde se tornou profissional e estreou pelo NBB. Em quatro temporadas pela equipe, o ala teve mais tempo de quadra nas duas últimas e o desempenho foi reconhecido ao ser eleito o melhor jogador jovem do campeonato em 2020/21 e 2021/22.
Mesmo tendo deixado Brasília ainda aos 10 anos de idade, a cidade sempre foi sinônimo de casa para ele, atualmente morando na Califórnia, como atleta do Golden State Warriors e único brasileiro em ação na NBA, a liga profissional de basquete dos Estados Unidos. O carinho pelo DF, inclusive, está marcado na pele de Gui, com tatuagens da Ponte JK e da Catedral no braço direito, justamente o que usa para arremessar, além de ser onde nasceu a mãe Lucineide. “Me sinto muito bem aqui. Recebo o carinho das pessoas, tenho minha família por perto, o lago. É sempre bom visitar, não tem lugar igual”, comenta.
A última visita à capital foi antes de embarcar para a Croácia, onde se juntou aos companheiros de Seleção para um período de treinamentos nas vésperas de ir para Paris. O motivo da parada em solo croata foi pelo técnico Aleksandar Petrovic, natural do país e responsável por convocar Gui pela primeira vez para vestir a amarelinha na primeira passagem no comando da equipe. Além da preparação, o momento também serve para acalmar o coração para a realização de um sonho de infância.
“Estou muito feliz por estar podendo representar Brasília e o Brasil em uma Olimpíada. Sempre quis jogar uma competição como essa, desde garoto, então é especial, ainda mais por ser jovem. Poder ter essa experiência no currículo é muito bom para mim e minha carreira, traz aquela sensação de ser realizado. Fora que são poucos jogadores do DF que já participaram dos Jogos no basquete”, compartilha o camisa 11.
Antes de se garantir em Paris, a Seleção disputou o Pré-Olímpico em Riga, na Letônia, para conquistar a vaga e desbancar os letões donos da casa, favoritos do torneio eliminatório. Com vitórias contra Montenegro e Filipinas nas fases anteriores, o triunfo na decisão serviu como um momento de virada de chave e de bônus da confiança para desembarcar em solo francês.
“Todo mundo achava que a Letônia ia passar, pelo jogo ser lá, terem a torcida, um time muito bom. Mas mostramos que somos o Brasil. Nossa equipe tem capacidade de surpreender muita gente, então dá uma moral para chegarmos nas Olimpíadas. Agora é seguir trabalhando e dar nosso melhor, quem sabe dá para beliscar uma medalha”, analisa o jogador.
Esperança do país
Longe dos tempos de Oscar Schmidt, Pipoka, Hortência e Magic Paula, o Brasil vive anos difíceis no basquete internacional. A Seleção feminina ficou de fora das Olimpíadas pela segunda vez consecutiva, as equipes de 3x3 não conseguiram a classificação e o masculino também amargou ter que ver os Jogos de Tóquio-2020 pela televisão. Como parte da nova safra, Gui Santos vê a vaga em Paris como a oportunidade de recolocar o país nos trilhos.
“É como se fosse o basquete meio que renascendo. Não temos tanto investimento em outros esportes como se tem no futebol, então para essas modalidades, como o basquete, alcançar as Olimpíadas traz uma representatividade importante. Vai além só da questão de investimento, mas principalmente para a molecada que está vindo agora. Eles vão ter a chance de ver o Brasil em um palco enorme, conhecer os jogadores, ter novos ídolos. Precisamos trazer essas novas referências”, opina.
Apesar da pouca idade, o ala já se tornou uma figura de inspiração para os mais novos. Ainda se acostumando com o status, o candango faz por onde dar exemplo para a garotada e reconhece ser ainda mais aclamado nas visitas ao DF. A relação do torcedor brasiliense com o basquete teve épocas em que a vitória era costume, como no tricampeonato do Brasília no NBB, mas os times locais acumulam anos muito abaixo no torneio nacional. Ainda assim, Gui acredita que podem confiar na Seleção para reacender a paixão pela bola laranja.
“Estamos em um grupo difícil, mas garanto que não vai faltar esforço de cada um de nós. O jogo é jogado e, assim como foi contra a Letônia no pré-Olímpico, podemos surpreender. Ninguém pode duvidar do nosso país. Podem esperar entrega ao máximo e comprometimento para fazer o que se espera de nós, que é levar o Brasil e o povo brasileiro ao patamar mais alto”, avalia o jogador.
Gui e a Seleção entram em quadra pela primeira vez na sexta-feira, às 12h15, contra a França, dona da casa. No grupo B, os comandados por Petrovic ainda têm a companhia da Alemanha, atual campeã mundial, e do Japão. Os dois mais colocados avançam para o mata-mata.
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
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