O Distrito Federal tem uma jogada ensaiada para se manter no mapa da mina de ouro dos torneios de futebol nos Jogos Olímpicos. No Rio de Janeiro, em 2016, a conquista do título que faltava à Seleção Brasileira masculina teve assinatura de Felipe Anderson, talento forjado em Santa Maria. Cinco anos depois, Reinier, boleiro do Guará, obteve a única medalha de Brasília em Tóquio, após o sucesso na final contra a Espanha. A seis dias da estreia da Amarelinha em Paris-2024, a bola da vez é Gabrielle Jordão Portilho.
Gabi, como é carinhosamente chamada no mundo do futebol, desembarcou ontem na França para a primeira Olimpíada da carreira, a uma semana da estreia contra a Nigéria, em Bordeaux. Para ela, a etapa representa a realização de um sonho. "Estou muito feliz, mas acredito que minha ficha só vai cair quando estiver lá (jogando). Grata a Deus por me permitir viver um momento como este! Estou muito motivada e confiante", compartilhou ao Correio.
Confiança é item indispensável para Gabi Portilho. A função não a permitirá titubear em momentos decisivos. A menina que jogava bola nas ruas do Guará na infância é, hoje, atacante da Seleção Brasileira. Inclusive, o setor ofensivo é o mais observado pelo técnico Arthur Elias. Das 18 convocadas, sete atuam no último terço do campo. Gabi, Adriana, Kerolin, Ludmila, Jennifer, Gabi Nunes e Marta não deram chance à concorrência da experiente Cristiane, figurinha no álbum da Amarelinha em quatro edições de Jogos Olímpicos.
- Équipe Brasília: Gabriela Muniz colhe frutos com vaga olímpica na marcha
- Équipe Brasília: Caio Bonfim, a esperança do pódio inédito na marcha
- Équipe Brasília: Ernesto, o principal técnico do vôlei de praia e estreante
A brasiliense não caiu de paraquedas na França. Aos 29 anos, completados ontem, orgulha-se de ser uma das jogadoras mais vitoriosas da era recente do futebol brasileiro, sob forte influência do dono da prancheta verde-amarela. Gabi e Arthur Elias estabeleceram uma dinastia do Corinthians nos gramados do Brasil e da América do Sul. Juntos, conquistaram 13 títulos, incluindo duas Libertadores e quatro Campeonatos Brasileiros.
"Ele foi e continua sendo um cara que sempre acreditou em mim, no meu potencial, e sempre soube tirar o meu melhor. Sou muito grata a ele e a toda comissão, afinal, todos me ajudaram de alguma forma, não só dentro de campo como atleta, mas também como ser humano", reconhece a campeã da Copa América de 2022, sob a batuta da técnica sueca Pia Sundhage.
Além de Arthur Elias, Gabi Portilho terá o trunfo do apoio de cinco companheiras de Corinthians — as laterais Tamires e Yasmim; as meias Yaya e Duda Sampaio; e a atacante Jheniffer. "Isso facilita o nosso entendimento. O período de preparação aqui na Granja nos fez criar conexão umas com as outras e aumentar o nosso entrosamento."
A Seleção Brasileira é uma espécie de transição. Quatorze jogadoras vivem a expectativa da estreia em Olimpíada. A zagueira Rafaelle, a lateral Antônia e as atacantes Ludmila e Marta tem no currículo uma disputa olímpica. Inclusive, Paris-2024 pode marcar a despedida da Rainha com a Amarelinha. Para Gabi, atuar ao lado da camisa 10 torna tudo mais especial. "Ela é seis vezes a melhor do mundo, quem não quer jogar ao lado dela? Graças a Deus, Ele me deu a oportunidade de jogar ao lado da Marta nessa Olimpíada e, para ficar mais especial, esperamos fazer um bom trabalho e conquistar a tão sonhada medalha", ressalta.
- Équipe Brasília: André Mariano, o único árbitro brasileiro do judô
- Équipe Brasília: Felipe Gustavo sonha em quebrar o gelo do Brasil no skate
- Équipe Brasília: Hugo Parisi, o único juiz brasileiro dos esportes aquáticos
A camisa 18 também joga em outra posição: de defensora do futebol feminino. Nos últimos anos, endossou discurso em prol da modalidade. Criticou como a categoria é tratada por aqui e ingressou no movimento por evolução. "Isso sempre será uma luta de todas nós, para o melhor desenvolvimento do futebol no país, independentemente se está na Seleção ou não. Precisamos entender que, juntas, a nossa voz ecoa muito mais alto e mais forte."
O Guará está cotado a medalhar em Paris-2024. A quinta região administrativa mais populosa do Distrito Federal também será representada pelo skatista Felipe Gustavo. Gabi Portilho se orgulha de ser da cidade e conta com o apoio da família para subir ao pódio. "Minha família é toda de Brasília. Sempre que posso aproveito os poucos momentos que tenho ao lado deles. Eles sempre me acompanham, tanto no clube como aqui na Seleção e, inclusive, estão superempolgados com essa Olimpíada", conta.
O torneio olímpico de futebol feminino é disputado por 12 seleções, divididas em três grupos com quatro. Classificam-se às quartas de final líder e vice, além das duas melhores terceiras colocadas. O Brasil está na chave C. Estreia contra a Nigéria em 25 de julho, em Bordeaux. Depois, encara duas campeãs mundiais. No dia 28, mede forças com o Japão, e encerra a busca por vaga diante da Espanha, vitoriosa na Copa do Mundo de 2023 (31/7). Os melhores resultados da Amarelinha são as pratas em Atenas-2004 e Pequim-2008. Em Tóquio-2020, foi eliminada nos pênaltis pelo Canadá.
*Estagiária sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br