Rio de Janeiro — Campeã mundial, prata em Pan-Americano, bronze em Olimpíada… O vitorioso currículo de Natália Falavigna é unânime a ponto de garantir à ex-atleta um lugar no panteão das referências do taekwondo brasileiro. Mas ela não é resumida apenas pelas conquistas. Representante do Brasil em três edições de Jogos Olímpicos, a paranaense de Maringá navegou como poucos entre a decepção e a consagração experimentada em grandes eventos. Em Atenas-2004, sentiu a dor de perder uma luta por medalha. Em Pequim-2008, se superou e foi alçada à eternidade ao conquistar um bronze até então inédito para o país. A trajetória pessoal lhe trouxe discernimento. E essa é a lição que a medalhista pretende espalhar em Paris-2024.
Aposentada dos tatames, Natália não estará em ação na Cidade Luz, mas exercerá um papel extremamente nobre na empreitada em busca de sucesso do Time Brasil no taekwondo e em outras modalidades. Ao lado de outros cinco medalhistas olímpicos (Virna, Mauricio Lima, Thiago Camilo, Vanderlei Cordeiro e Janeth Arcain), Falavigna foi escolhida para compor o projeto de Embaixadores da missão Paris-2024. A luta da vez será para inspirar conquistas da nova geração do esporte brasileiro, por meio da responsabilidade de traduzir o significado dos ideais olímpicos. Na receita da paranaense, um sentimento muito além do momento de subir ao pódio.
"Acima de tudo, o atleta precisa ter a consciência de que a maior vitória é a performance. Quando ele foca além do resultado e em entregar o máximo possível dele, as coisas acontecem", defende. "Se você trabalhou em casa a ponto de colocar a cabeça no travesseiro tranquilo pelo trabalho feito, minimizou os riscos e ficou confiante na performance, as medalhas vêm. São consequências daquilo que você faz. Às vezes, olhamos muito lá na frente, na conquista, na medalha, e a gente precisa prestar atenção na caminhada olímpica, naquilo que você pode entregar", discursa.
A consciência na importância do processo defendida por Natália está ligada, também, aos cuidados psicológicos para lidar com a responsabilidade de disputar os Jogos Olímpicos. Na visão da ex-atleta, controlar o gasto de energia emocional é um dos caminhos para evitar desgaste. "É sempre entender aquilo que você pode fazer. É importante o atleta focar na rotina, naquilo que ele consegue controlar, nos aspectos que ele entende serem necessários para performar bem. No resto, as coisas vão vindo e ele vai tomando decisões, mas precisa gastar energia em prever esse momento. Dá tranquilidade para o atleta chegar no dia da competição bem", explica.
Com previsão de passar metade do período dos Jogos Olímpicos na França, Natália terá contato direto com atletas de várias modalidades. No entanto, o taekwondo ganhará dela um merecido cuidado especial. Em Paris-2024, o Brasil será representado por quatro atletas. Maria Clara Pacheco (-57kg), Caroline Santos (-67kg), Henrique Marques (-80kg) e Edival Pontes (-68kg), o Netinho, terão a mentoria especializada como diferencial para lutar por uma medalha ausente do quadro de conquistas nacionais desde o bronze conquistado por Maicon de Andrade na Rio-2016. E Falavigna aposta alto na possibilidade de pódio.
"Temos uma mescla de experiência e juventude na delegação. Eu gosto muito e acho que todos têm condições. Netinho extremamente talentoso, Caroline com volume de lutas muito bom, mas eu gosto muito do ar dessa nova geração com a Maria Clara e o Henrique. Estão em uma idade propícia para os bons resultados e vem aí com os adversários sem terem lutado tanto com eles. Isso pode surpreender. De qualquer maneira, eu torço para uma medalha olímpica para coroar o trabalho feito por todos eles", prospecta. "É sempre uma competição muito difícil, são os 16 melhores, tem o dificultador de os pesos se juntarem, mas os nossos atletas são bons e, se cuidarem de todos os aspectos, eu tenho certeza que eles têm capacidade de entrar na briga por medalhas", avalia.
Poder feminino
Primeira brasileira a conquistar uma medalha para o país no taekwondo, Natália Falavigna verá, na França, a consolidação de uma luta na qual ela, há tempos, é uma personagem central. Nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, o Time Brasil terá uma inédita equidade entre mulheres e homens na delegação. Fato para orgulhar quem, lá atrás, rompia barreiras. "Essa geração de Embaixadoras brigou pelo esporte feminino. Vieram outras antes da gente, mas foi uma crescente e poder ver esses resultados me dá muito orgulho. Vamos continuar lutando, batalhando, para que as mulheres cada vez mais tenham oportunidades", ressalta.
No dia a dia fora dos tatames, Natália tem um papel importante ao estar inserida no dia a dia do Comitê Olímpico do Brasil (COB). A medalhista tem um cargo de gestão na entidade e destaca o trabalho realizado nos bastidores para as mulheres brilharem não somente na conquista de medalhas, mas na construção do esporte no país. "Competência a gente sabe que tem, capacidade a gente sabe que tem. Quando a gente dá oportunidade, dá possibilidade, sabemos que a mulher vai estar preparada para conseguir grandes resultados. Temos que fazer isso agora com as atletas, mas também é preciso buscar em treinadoras, na gestão e em outras áreas que a mulher precisa avançar", aponta.
*O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB)
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br