Tão difícil quanto se classificar à Olimpíada como atleta é ser convocado para julgar os melhores do mundo do esporte. Na última sexta-feira, você leu no Correio sobre Hugo Parisi, ex-saltador ornamental criado em Taguatinga e único árbitro brasileiro dos esportes aquáticos nos Jogos de Paris-2024. Hoje, o protagonista da quarta reportagem da série Équipe Brasília, sobre os brasilienses na terceira versão do megaevento na França, orgulha-se da mesma façanha. Os mais de 40 anos de dedicação de André Mariano dos Santos ao judô foram recompensados com o convite para ser o juiz representante do Brasil nos tatames da segunda maior potência da modalidade.
André está entre os 16 árbitros escolhidos a dedo pela Federação Internacional de Judô para Paris-2024. Além de ser o único do Brasil, também é o representante "solitário" da América do Sul. Foram chamados oito profissionais da Europa, três da Ásia, um da Oceania, um da África, além de um mexicano e um dominicano. Aos 53 anos, viverá a terceira experiência olímpica. Foi aos Jogos do Rio-2016 como árbitro responsável pela captação de imagens e aferidor de quimono na Paralimpíada na Cidade Maravilhosa. Qualificou-se para o ciclo seguinte e embarcou como oficial do tatame no berço da modalidade que abraçou como missão de vida.
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Embora esteja acostumado com a responsabilidade de intermediar confrontos nas competições mais nobres da arte do caminho suave, a participação em Paris terá maior valor sentimental para André. "O sonho foi realizado em Tóquio no tatame, mas lá não tínhamos público devido à pandemia. Agora, estaremos na casa de uma das grandes potências do judô. Nas disputas por equipe no Japão, a França venceu os anfitriões. Agora, os japoneses têm a possibilidade de dar o troco, ou a França consolidar essa vitória. Imagino que Paris será A Olimpíada", comenta.
Além de árbitro, André é professor de educação física do Colégio Marista Champagnat Taguatinga e da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF). Na Rede Pública, transmite os ensinamentos no Centro de Iniciação Desportiva (CID) do Centro Educacional 2 de Taguatinga, o Centrão, como retribuição. "Fui aluno do Marista, e treinava com os do CID. Na época, eu tinha um professor também do CID e entrei para o futsal. Não havia judô na década de 1980. Assim que terminei a faculdade, coloquei em mente que queria iniciar um trabalho de CID de judô para oferecer gratuitamente tudo aquilo que o judô me deu. Hoje, preparo as crianças e, quando percebo talentos, diamantes brutos, encaminho para academias e professores especializados. Tenho o privilégio de ter alunos meus, de CID de judô, que são professores da Secretaria de Educação em outras unidades", compartilha, orgulhoso.
O interesse de André pelos fundamentos do judô começou por volta dos 15 anos, quando ajudava a Federação Metropolitana de Judô como mesário e montador de tatames e foi desafiado por um sensei. "Eu ficava na arquibancada e, muitas vezes, reclamava dos árbitros e da atuação deles, pois não faziam o que a regra dizia. Curioso, eu buscava qual era a determinação correta, e aí vinha a minha indignação. Tínhamos um diretor de arbitragem que o considero como meu professor, o professor Luiz Gonzaga Filho, e ele falou: 'Se você sabe tanto de regra, venha nos ajudar'. Aquilo foi um tapa de pelica", conta.
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A provocação do mestre surtiu efeito. Para André, o privilégio recebido pode escancarar portas para mais compatriotas. "São apenas 16 árbitros no mundo todo, pois existem as cotas. Se nós deveríamos estar mais na rota mundial, sim, mas isso é uma situação de preparação, de qualidade do árbitro, de bastante networking. Árbitros brasileiros ainda falham muito na questão do idioma e precisam se qualificar cada vez mais, e isso leva tempo", explica.
André não pode arbitrar duelos de brasileiros. Em disputas por medalhas, os profissionais são determinados pelos chefes. Quando ele não estiver envolvido, Brasília será representada por Guilherme Schimidt e Ketleyn Quadros, bronze em Pequim-2008. A missão deles é atualizar a marca de 24 pódios e manter o judô como modalidade mais vitoriosa do Brasil em Olimpíadas.
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