Em 124 anos de Brasil em Olimpíadas, uma modalidade se orgulha de ser, disparada, a responsável por proporcionar mais alegrias ao país. Esqueça atletismo, natação e vôlei. Estamos falando do judô. A arte desenvolvida no Japão em 1882 se tornou uma das especialidades da casa no megaevento, com 24 medalhas — quatro ouros, três pratas e 17 bronzes. Essa história vitoriosa está ligada ao Distrito Federal. Dos tatames de Ceilândia, saiu o primeiro pódio feminino brasileiro na modalidade, com Ketleyn Quadros, em Pequim-2008. Ela é inspiração para os judocas da nova geração, como o brasiliense Guilherme Schimidt, convocado para Paris-2024 e protagonista do primeiro episódio do capítulo da Équipe Brasília, série do Correio sobre os personagens locais nos Jogos da França.
Guilherme Schimidt iniciou a trajetória esportiva no Sesi de Ceilândia, por meio do Programa Atleta do Futuro. Não era futebol, mas o projeto previu o lance com o sucesso do protótipo de judoca vitorioso. Aos 23 anos, o faixa preta made in Brasília defende o Minas Tênis Clube e se gaba de ser campeão dos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023, na categoria até 81kg, e vice na disputa por equipes mistas. Também ostenta com orgulho os ouros no Grand Slam da Turquia e da Hungria (ambos em 2022), as pratas no World Masters da Hungria (2023) e no Grand Prix da Croácia (2021), além do bronze no Campeonato Mundial Junior do Marrocos (2019).
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Os resultados alçaram o brasiliense ao quarto lugar do ranking mundial dos 81kg e, em 4 de abril, o recompensaram com a convocação da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) para os Jogos de Paris. "Coroa um ciclo olímpico muito vitorioso. Conquistei medalha em quase todas as principais competições. É um sentimento de muita felicidade, e é só um passo para o meu grande objetivo, a minha medalha olímpica", compartilha ao Correio.
Para Schimidt, a convocação há dois meses provocou um flashback de toda uma vida dedicada ao esporte. "Tenho memórias que me motivaram a conquistar esse grande objetivo. Quando estava iniciando, fui para um Sul-Americano Sub-15 e vi atletas ganhando e o hino do Brasil tocando. Foi a minha primeira grande competição internacional e ali pensei: 'Quero treinar e representar o Brasil nas competições internacionais'. Segui passo a passo. Fui para Seleção Brasileira, Mundial Juvenil e Júnior até chegar no adulto e conquistar essa tão sonhada vaga olímpica", relembra.
"Estar na mesma lista desses grandes ícones é muito gratificante, assim como hoje ter alguns como amigos. O Daniel, eu o ajudei nos Jogos de Tóquio. Eu fui sparring (atleta de apoio) dele, aqueci com ele no dia que ele conquistou a medalha. É um cara em que me inspirei muito neste ciclo olímpico, de buscar minha vaga pela pessoa e pelo atleta que ele é. É muito motivador estar do lado desses ídolos", discursa Schimidt.
Quem também passou de inspiração a amiga de Schimidt é a conterrânea Ketleyn Quadros — no aguardo da confirmação da vaga continental para Paris-2024. "Sempre tenho o privilégio de estar competindo e viajando com ela. É uma atleta referência, nossa primeira medalhista olímpica. É uma pessoa que me ajuda muito com conselhos para evoluir como judoca e pessoa. Torço para que conquiste vaga também. Ter dois brasilienses competindo no mesmo dia será algo mágico, ainda mais se trouxermos duas medalhas para o Brasil. Vai ser marcante", vislumbra.
Para alcançar a meta de se tornar medalhista olímpico, Schimidt acredita na força do trabalho e se apega ao fato de poder manter ativa a linha de produção de pódios do país. "É uma responsabilidade representar o judô nos Jogos Olímpicos, mas, claro, se depender de mim, estaremos no pódio. Estou trabalhando arduamente, desde o início do ciclo, em prol do meu objetivo. Não é só a convocação, não é só estar participando e, sim, conquistar uma medalha e escrever meu nome na história", prospecta.