O fato de respirar o poder e viver intensamente as articulações dos bastidores políticos costumam vender a impressão de não haver esporte em Brasília. Grande equívoco. O Distrito Federal está há 40 anos no mapa das 26 unidades da Federação que brindaram o Brasil com pelo menos um medalhista em Olimpíadas. A linha de produção de pódios do quadradinho está ativa desde Los Angeles-1984 e tem 13 carimbos do selo de qualidade do megaevento. A fábrica de conquistas não quer parar por aí. Daqui a menos de um mês, quando será aberta a disputa de Paris-2024, buscará atualizar os números. Enquanto a hora não chega, o Correio relembra os 10 protagonistas da cidade na maior competição do mundo e oferece inspiração às pratas da casa da vez na França.
A presença brasiliense no evento mais nobre do calendário esportivo costuma ser respeitada. A delegação subiu pelo menos uma vez ao pódio em nove das últimas 10 edições. A exceção foram os Jogos de Barcelona-1992. De lá para cá, lançou uma coletânea de sucessos em Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004, Pequim-2008, Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020. O repertório é vasto, das pistas às quadras, dos gramados aos tatames, passando pela areia.
O responsável por colocar Brasília no mapa olímpico é Joaquim Cruz. Filho de uma piauiense que resolveu se mudar para a recém-inaugurada e nova capital, foi forjado em Taguatinga, participou de três Olimpíadas. A mais especial delas, Los Angeles-1984, onde conquistou o ouro, o primeiro dele e do Brasil em provas de pista em Olimpíadas. Também faturou a prata em Seul-1988 e se aposentou em 1997. Hoje, aos 61 anos, Joaquim Cruz faz escola como treinador dos Estados Unidos. Foi a mente do atletismo estadunidense olímpico e paralímpico em Pequim-2008, Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020.
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Embora Joaquim Cruz tenha colocado o Distrito Federal e o Brasil em dois pódios, a maior contribuição vem do vôlei: seis conquistas com quatro atletas. A pioneira foi Leila Barros, bronze em Atlanta-1996 com a geração de Ana Moser, Virna, Fofão e companhia, na disputa marcada pelo protagonismo feminino com as primeiras medalhas. A cria de Taguatinga repetiu a dose em Sydney-2000, ao lado da conterrânea Ricarda Lima. Hoje, Leila é senadora da República e tem a ex-companheira como chefe de gabinete.
"Sou privilegiada por tudo que o esporte me proporcionou. Costumo dizer que, embora possamos sair do esporte, ele nunca sai de nós. Tudo o que sou — mulher, cidadã, parlamentar — e os valores que carrego, devo muito ao esporte. Meu sentimento ao ser lembrada como a Leila do Vôlei e ao poder compartilhar com os brasileiros a emoção das medalhas que conquistamos é de pura gratidão", compartilha Leila ao Correio.
Ricarda endossa o discurso da amiga desde os tempos de quadra. "Foi uma realização única, superada apenas pelo nascimento do meu filho. Ali, foi o resultado de muitos anos de trabalho duro, treino, superação de cada cirurgia que precisei fazer no meu ombro para continuar atacando e tendo o desempenho de uma atleta olímpica. Foram três cirurgias e, a cada nova operação, um novo recomeço. Tenho lembranças maravilhosas da equipe e de todos os nossos momentos. Bernardinho sempre foi um mestre, assim como toda a comissão técnica."
Leila e Ricarda foram inspirações para a geração seguinte. Em Pequim-2008, Paula Pequeno voltou a dar um ouro ao Distrito Federal após a vitória da Seleção por 3 sets a 1 sobre os Estados Unidos. Quatro anos depois, em Londres, protagonizou dobradinha com Tandara. "Estar em um time tão restrito, com 12 vagas, é um privilégio e uma bênção de Deus. Tive essa oportunidade, não somente uma vez, mas duas, graças a muito trabalho individual e por equipe, com entrega, dedicação, resiliência e superação. Ao relembrar, é difícil descrever, mas é algo que se eu fechar os olhos me emociono até hoje", comenta Paula Pequeno.
Nas areias, a medalha pertence a Bruno Schmidt, campeão no Rio-2016 na parceria com o capixaba Alison Cerutti. Em Tóquio-2020, foi eliminado nas oitavas de final com o carioca Evandro. Aposentou-se no início de 2023 para se dedicar à advocacia. Nos tatames, o orgulho brasiliense pelo bronze de Ketleyn Quadros em Pequim-2008, o primeiro pódio individual feminino da história olímpica brasileira.
Principal modalidade do país, o futebol ofereceu três conquistas olímpicas. Ex-volante, Grazielle Nascimento foi prata em Atenas-2004 ao lado de Marta e Cristiane. Ela pendurou as chuteiras no ano passado. Na disputa no Rio-2016, o agora palmeirense Felipe Anderson, de Santa Maria, fez parte do grupo que quebrou a escrita verde-amarela de jamais ter alcançado o ouro. O caminho aberto possibilitou o repeteco da Amarelinha no Japão, mesmo palco do penta da Copa do Mundo, com a participação de Reinier, boleiro lapidado pelo Flamengo e criado no Guará.
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