Quatro de julho de 1954. Uma Alemanha repartida ao meio por nove anos devido ao conflito de ideologias comunista e capitalista comemorou a primeira das quatro conquistas na Copa do Mundo. Título improvável para uma nação destroçada pela derrota na Segunda Guerra Mundial e pelo adversário na decisão na Suíça: a Hungria. A seleção liderada pelo craque Ferenc Puskás era a favorita ao título, mas testemunhou uma reviravolta que entrou para a história e ganhou as telonas como O Milagre de Berna. Setenta anos depois, alemães e húngaros retornam aos papéis de protagonistas no duelo desta quarta-feira (19/6), às 13h, pela Eurocopa.
Dirigido por Sonke Wortmann, o filme O Milagre de Berna retrata a conquista da primeira Copa do Mundo da Alemanha sob a ótica da família Lubenski, moradora de Essen-Katernberg, cidade a mais de 500km da capital Berlim, e fortemente impactada pela Segunda Guerra. A obra é protagonizada por Matthias Lubanski (Louis Klamroth), 11 anos, jovem apaixonado por futebol cujo melhor amigo é o atacante Helmut Rahn (Sascha Gopel).
O garoto tem a vida mudada com o retorno do pai Richard (Peter Lohmeyer) ao país após 11 anos como prisioneiro soviético e com a convocação de Helmut Rahn para jogar pela seleção na Suíça. Em um momento de reconexão com o filho Mathais, Richard Lubanski resolve pegar a estrada para Berna e assistir à final da Copa do Mundo. Os dois a comemoram e partilham da alegria da conquista sem precedentes.
A Hungria era a materialização do futebol arte, vistoso. Em 1938, havia amargado o vice para a Itália. Dezesseis anos depois, retornou à decisão como time incontestável. Antes do jogo derradeiro, havia sofrido sete gols e marcado 27. A maior exibição foi na goleada por 8 x 3 sobre os alemães. Puskás e companhia também deixaram para trás Brasil e Uruguai nas quartas e na semi.
Aquele 4 de julho de 1954 em Berna indicava alegria húngara ao fim da partida no Wankdorfstadion. Em oito minutos, a Hungria abriu dois gols de vantagem, com Puskás Zoltan Czibor. O roteiro, porém, foi escrito para premiar a determinação. Morlock e Helmut Rahn, o grande amigo do protagonista do Milagre de Berna, Mathais, desafiou os húngaros ao empatar e virar a partida com gol aos 40 minutos do segundo tempo.
De lá para cá, os encontros entre Alemanha e Hungria jamais foram um jogo qualquer. Se até mesmo os amistosos costumam ser levados a sérios pelas seleções, imagine um confronto capaz de selar o destino em uma Eurocopa, o segundo torneio mais relevante do Velho Continente. Os registros apontam para 36 partidas entre os países. Embora pequena, a vantagem é húngara, com 13 vitórias, contra 11 dos rivais e 12 empates.
Alemanha e Hungria não se enfrentam há quase dois anos. O último embate havia sido pela Liga das Nações da Uefa, em 23 de setembro. Adam Szalai emulou Puskás e garantiu a vitória por
1 x 0 em Leipzig, pela fase de grupos. Vinte e um jogadores estiveram no último confronto. A maioria deles, da Alemanha: 13 "novatos". Uma das justificativas está na mudança de comando. Naquele período, Hansi Flick era o dono da prancheta tetracampeã mundial. Hoje, a função foi delegada a Julian Nagelsmann. O italiano Marco Rossi segue à frente da trupe húngara.
Derrotada por 3 x 1 pela Suíça na estreia, a Hungria precisa da vitória para não se complicar na última rodada. "A Alemanha é o adversário mais difícil de enfrentar nesta Euro e melhor do que nós. É preciso dizer e ninguém pode ficar ofendido com isso. Temos que fazer uma partida perfeita e todos têm que dar 100%. Vimos no jogo contra a Escócia o que a seleção alemã é capaz de fazer", analisou Rossi, lembrando da goleada por 5 x 1 dos anfitriões do torneio sobre a Escócia.
Seis dos 26 convocados da Hungria atuam na Bundesliga, a elite do Campeonato Alemão, entre eles, o meio-campista András Schafer, do Union Berlin. Para o camisa 13, o resgate das características da equipe pode influenciar no desafio contra os donos da casa. "A Alemanha tem muitos bons jogadores e seria um erro destacar um ou dois deles. Não devemos nos concentrar nos indivíduos, mas sim em nós. Ninguém jogou bem contra a Suíça, temos de encontrar a nossa identidade como time e trazer à tona aquele nosso lado que fez com que os nossos adversários não gostassem de jogar contra nós até agora", discursou Schafer.
Embora o favoritismo de 70 anos atrás esteja invertido, o goleiro Manuel Neuer pede cautela da equipe. "É um adversário difícil. Eles tentam lutar por cada bola perdida. Isso significa que não podemos subestimá-los e temos de manter o ritmo. Estamos cheios de confiança depois do primeiro jogo, mas a Hungria será um desafio diferente. Os suíços os atacaram várias vezes e marcaram gols, mas a Hungria também passou por fases de pressão e esteve perto de marcar alguns", ressaltou o paredão alemão na Copa de 2014.
Mais jovem entre os 24 donos da prancheta da Eurocopa, Julian Nagelsmann (36) estudou a Hungria e comentou qual pode ser a chave para a vitória e classificação antecipada da Alemanha às oitavas de final. "Eles são muito fortes no contra-ataque. Embora não tenham uma estratégia clara quando recuperam a posse de bola, muitas vezes conseguem fazer com sucesso. Os atacantes também fazem cruzamentos precisos e as bolas paradas são ajustadas quase com perfeição. Isso significa que precisamos manter as bolas paradas o mais longe possível da nossa área. Preparei a equipe para todas as eventualidades e espero que isso se manifeste em campo."
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