O slogan "Juntos num só ritmo" da segunda Copa realizada no Brasil pode ser adaptado a "Juntos numa só profissão". Dez anos depois da vitória do Brasil por 3 x 1 contra a Croácia no jogo de abertura na Neo Química Arena, em 12 de junho de 2014, um dos legados daquela edição é a troca dos pés pelas mãos para substituir a profissão de jogador pela de técnico. Uma década depois, ao menos 10 dos 736 inscritos naquele Mundial se reinventaram e são cobiçados no competitivo mercado da bola. Não há brasileiros. Nenhum dos 23 convocados por Luiz Felipe Scolari na campanha do quarto lugar é treinador depois da aposentadoria. Três viraram executivos de futebol.
Autor do segundo gol da Alemanha na maior goleada sofrida pelo Brasil em 110 anos de história da Seleção, o ex-centroavante Miroslav Klose quebrou o recorde de Ronaldo e tornou-se o maior artilheiro das Copas com 15 gols naquele 8 de julho de 2014. Aposentado desde 2016, um dos protagonistas do tetra decidiu ser técnico e fez estágio em duas escolas de ponta: Alemanha e Bayern de Munique.
Depois de iniciar a carreira-solo no Rheindorf Altach, Klose foi anunciado, ontem, novo professor do Nuremberg para a temporada de 2024/2025 da segunda divisão do Campeonato Alemão. O tradicional time ficou em 12º lugar na temporada passada entre 18 concorrentes. "Quero ter uma dinâmica. Quero ter a bola e ter um certo domínio em campo. É isso que defendo como treinador. Estou ansioso! É a hora de planejar a nova temporada", discursou o carrasco do Brasil na apresentação ao clube germânico. Segundo maior vencedor da Bundesliga com nove salvas de prata, o Nuremberg não figura na elite desde 2018/2019.
Cinco ex-jogadores badalados tiraram lições da Copa de 2014. Há 10 anos, a Espanha de Xabi Alonso e Xavi; A Inglaterra de Gerrard; e a Itália de Pirlo e De Rossi deixavam o mundo da bola perplexo ao voltarem para a Europa na primeira fase. Os erros cometidos pelos técnicos Vicente del Bosque, Roy Hodgson e Cesare Prandelli certamente foram para o bloquinho de notas do quinteto na transição de carreira.
Xabi Alonso encerrou a temporada como treinador mais disputado do Velho Continente. Levou o Bayer Leverkusen ao título inédito — e invicto — do Alemão. Ganhou a Copa da Alemanha e perdeu a Liga Europa para a Atalanta na única derrota do time dele em 53 jogos. O compatriota Xavi Hernández foi despedido pelo Barcelona, mas deixou troféus no museu do clube catalão. Ganhou o Espanhol em 2022/2023 e a Supercopa da Espanha em 2023.
Em evolução, Steven Gerrard guiou o Rangers ao título do Escocês na temporada de 2020/2021. O clube amargava jejum de nove temporadas. Andrea Pirlo e Daniele De Rossi são outros treinadores em crescimento. Pirlo conduziu a Velha Senhora ao título da Copa Itália e Supercopa da Itália em 2020/2021. Na última temporada, comandou a Sampdoria na Série B. Daniele De Rossi sucedeu José Mourinho na Roma. Ídolo do clube, terminou o Italiano na sexta colocação e foi eliminado nas semifinais da Europa League pelo Bayer Leverkusen de Xabi Alonso.
Figura discreta na seleção de Portugal na Copa de 2014, o ex-meia Rúben Amorim tinha 29 anos quando Cristiano Ronaldo e companhia deram adeus ao Mundial no Mané Garrincha na vitória inócua por 2 x 1 contra Gana. O mico liderado pelo técnico Paulo Bento virou um dos cases de insucesso na transição para a nova profissão.
Aos 39, Rúben Amorim é um dos treinadores mais cobiçados da Europa. Esteve cotado para assumir o Liverpool no lugar do alemão Jürgen Klopp, porém, o holandês Arne Slot ganhou o contrato. Enquanto isso, Amorim não para de empilhar troféus na terra de Camões. Na temporada recém-encerrada, conquistou o Português pela segunda vez em quatro anos. O gajo também estampa no currículo duas Taças da Liga e uma Supertaça.
Outros três personagens da Copa do Mundo de 2014 evoluem na profissão. Vincent Kompany era um dos xerifes daquela Bélgica eliminada pela Argentina no Mané Garrincha nas quartas de final. Fã de Pep Guardiola, com quem trabalhou no Manchester City, o ex-zagueiro de 38 anos foi nomeado técnico do todo-poderoso Bayern de Munique para a próxima temporada. Um prêmio controverso. Em 2021/2022, Kompany levou o Anderlecht ao vice-campeonato na Bélgica. Na temporada seguinte, brindou o Burnley com a conquista da Championship em 2022/2023 — a segunda divisão inglesa. No entanto, o Burnley caiu na última Premier League.
Por sinal, o Bayern de Munique é responsável pela formação de um técnico argentino. Em 13 de julho de 2014, Martín Demichelis amargou a derrota por 1 x 0 para a Alemanha, no Maracanã. O gol de Mario Götze bordou a quarta estrela no peito. O ex-zagueiro iniciou a transição para a carreira de "coach" na academia do clube. Liderou o time sub-19 do Bayern e assumiu o Bayern B. Formado no curso da Uefa, acumulou bagagem nas passagens por Málaga e Espanyol em LaLiga, e topou o desafio de suceder Marcelo Gallardo no River Plate.
O pupilo de Alejandro Sabella na campanha da Copa de 2014 instruiu o River Plate ao título do Argentino em 2023. Protagonizou a melhor campanha da fase de grupos da Libertadores em 2024 e sonha com o título na final única de 30 de novembro, em Buenos Aires.
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