Qual maneira melhor de dizer adeus do que logo após gritar "é campeão"? Dessa maneira, Marco Reus e Toni Kroos, personagens do terceiro capítulo da série do Correio sobre a final da Champions League, sonham encerrar os capítulos com as camisas de Borussia Dortmund e Real Madrid, na decisão deste sábado (1º/6), às 16h, em Wembley. Ex-companheiros de seleção alemã, o camisa 11 do time aurinegro deixará o clube após mais de uma década de serviços prestados, enquanto o meio-campista da equipe merengue se despede dos gramados ao fim da temporada, com a chance de aumentar a coleção de Orelhudas.
Criado nas categorias de base do Dortmund, Reus partiu para o RW Ahlen antes de se tornar profissional. Jogou pelo Monchengladbach e retornou ao time do coração em 2012. A paixão evoluiu para um casamento. Doze anos depois, o meia se tornou um dos maiores ídolos do clube fundado em 19 de dezembro de 1909. O diferencial está na lealdade. A qualidade técnica avançada gerou interesses. Não faltaram flertes de gigantes, como do arquirrival Bayern de Munique e do Barcelona. No entanto, o amor pelo Borussia sempre foi verdadeiro e o fez ficar.
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A idolatria e o talento, porém, não foram convertidos em muitas conquistas. Os títulos obtidos por Reus são duas Copa da Alemanha e três Supercopas do país, mas as vezes em que bateu na trave são as que mais doem. No ano passado, teve a chance de faturar a Bundesliga pela primeira vez, mas os aurinegros perderam em casa na última rodada e desperdiçaram a oportunidade de interromper a hegemonia de 10 temporadas do Bayern de Munique. A derrota mais dolorsa completou 11 anos. Em 25 de maio de 2013, a companhia aurinegra ficou com o vice da Liga dos Campeões contra os bávaros. O palco? Justamente o Wembley.
Reus era um dos jovens talentos daquela equipe, ao lado de Lewandowski, Gotze e Gundogan. Agora, é um dos remanescentes, ao lado do zagueiro Mats Hummels. Neste sábado, eles têm a chance da redenção. A conquista seria um baita presente de aniversário para Reus. O meia completa 35 anos nesta sexta-feira (31/5) e erguer o troféu da Champions League em Wembley serviria como coroação para a história escrita em preto e amarelo. A decisão em não renovar o contrato foi mútua entre as partes. O provável destino de Reus é a Major League Soccer, a liga norte-americana, casa de craques como Lionel Messi e Luis Suárez.
"Eu diria que não há nada melhor do que disputar o último jogo na final da Champions League e vencê-la. Começar com uma final da Champions League em Wembley, em 2013, e terminar com uma em 2024, no último jogo: há formas piores de encerrar uma carreira no Dortmund", brincou Reus, em entrevista à Uefa.
Um ano mais novo que Reus, Kroos também tem memórias daquela final alemã em Wembley. A dele, porém, é melhor. Naquela temporada, o jovem meio-campista defendia as cores do Bayern de Munique, mas uma lesão o tirou das quartas, semis e final. O título da ocasião, somado aos outros quatro conquistados como jogador do Real Madrid, o colocam como segundo jogador mais vitorioso da história da Champions. Se vencer amanhã, ele e os companheiros Modric, Carvajal e Nacho Fernández se juntam a Paco Gento na liderança do ranking de Orelhudas.
Criado no gigante da Baviera, o camisa 8 passou dois anos emprestado ao Leverkusen, voltou para o time bávaro e desembarcou em Madrid no verão europeu de 2014. Daí em diante, foram títulos empilhados e a pompa de formar um dos meio-campos mais dominantes do futebol moderno, com Casemiro e Modric. Após uma década nos galácticos, o desejo foi encerrar a carreira como sempre sonhou: no auge.
A decisão da Champions é a última parada de Kroos por clubes, mas a despedida será na Eurocopa, disputada em solo alemão. Campeão da Copa do Mundo de 2014, voltou a ser convocado pela seleção e virou esperança para o inédito tetra no torneio continental. Se levar a melhor amanhã e ainda for coroado com o título da Euro, o meio-campista pode reforçar o argumento para ser eleito o Bola de Ouro da temporada. Atualmente ele é cotado como o terceiro na corrida, atrás dos companheiros de Real, Vini Jr. e Jude Bellingham.
Papéis distintos
Embora Reus e Kroos tenham semelhanças, a temporada de cada um teve protagonismos para lá de diferentes. Apesar do papel de ídolo em Dortmund, Reus perdeu espaço no time titular e veio do banco na maioria das partidas. Mesmo assim, a contribuição, majoritariamente no segundo tempo ou nas ocasiões em que substituiu companheiros, esteve longe de ser ruim. Com nove gols e 10 assistências, foi o quarto maior artilheiro e o segundo que mais serviu os companheiros para marcar.
Enquanto isso, Kroos não se intimidou com a sombra dos jovens meio-campistas do Real Madrid e, apesar de ter sido opção no começo da temporada, não demorou para continuar ostentando o status de intocável do italiano Carlo Ancelotti. São 53 partidas na temporada, um gol e nove assistências, terceiro da equipe no quesito.
Depois das despedidas no Signal-Iduna Park e no Santiago Bernabéu, Marco Reus e Toni Kroos agora dividem o holofote do adeus em Wembley. Para um, a redenção. Para o outro, a coroação final. Para o futebol, a saudade.
*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini