Vinte e seis das 27 unidades da Federação se orgulham de terem levado, pelo menos, um atleta aos Jogos Olímpicos em mais de 100 anos de história. A exceção à "regra" é o caçula Tocantins, criado em 1988. Os números de uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) apontam para a participação de mais de 4.200 competidores e explica como eles e elas são formados nas 440 cidades contribuintes. Existe um trabalho coletivo por trás, de captação, desenvolvimento e projeção. Um dos braços responsáveis por fazer a engrenagem funcionar continuamente, e não apenas a cada quatro anos, é o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC).
A entidade, sediada em Campinas (SP) e com escritório em Brasília, é a responsável por desenvolver e implementar a política de formação de atletas, por meio de apoio aos clubes. O trabalho tocado desde 1990 impacta diretamente esportes inclusos, ou não, no programa olímpico. Prova disso é o desempenho recorde do país nos Jogos. Em Tóquio-2020, 77% das medalhas e seis dos sete ouros foram conquistados por personagens forjados em instituições registradas. Em entrevista ao Correio, o presidente do CBC, Paulo Maciel, ressalta, a 77 dias da abertura da versão francesa da Olimpíada, o objetivo de aumentar a presença no evento mais nobre do calendário esportivo e colocar o Brasil, em breve, no patamar das potências.
Em Tóquio-2020, 88% dos atletas brasileiros eram de clubes vinculados ao CBC. Esperam índice maior em Paris-2024?
Nosso objetivo para os Jogos de Paris-2024 é continuar fortalecendo a presença dos atletas ligados aos clubes do CBC na delegação brasileira. Embora não tenhamos uma meta específica de percentual, estamos empenhados em ampliar nossa representatividade e contribuir para o sucesso do Time Brasil. Com investimentos contínuos em infraestrutura esportiva, capacitação técnica e apoio aos nossos clubes formadores, alcançamos bons resultados, não só nos Jogos Olímpicos, mas também no desenvolvimento do esporte no Brasil de forma geral.
É possível termos clubes formadores de modalidades como skate, surfe, breaking dance e escalada?
Entendemos que cada modalidade possui particularidades, cultura e demandas específicas. Essa diversificação do cenário esportivo nacional é fundamental para ampliar o acesso ao esporte e fortalecer a base de talentos em nosso país. Acreditamos que todas as modalidades têm potencial para se adequar à realidade dos clubes formadores.
Qual é a relevância e o impacto das Olimpíadas no trabalho do Comitê Brasileiro de Clubes?
As Olimpíadas são o ápice do esporte mundial e têm uma relevância imensa para o trabalho do CBC. É um evento que coloca o esporte em destaque na mídia, atraindo novos adeptos e inspirando gerações. A performance dos atletas serve de exemplo para as crianças e jovens que sonham em seguir carreira no esporte. O reflexo do trabalho dos clubes no desempenho dos atletas é evidente, pois é nos clubes que os atletas desenvolvem habilidades, recebem treinamento especializado e competem regularmente em níveis nacionais e internacionais. O apoio dos clubes integrados ao CBC contribui significativamente para a preparação e o sucesso dos atletas nos Jogos Olímpicos. Dessa forma, esse evento representa não apenas uma oportunidade para os atletas demonstrarem talento e dedicação, mas também é o resultado do trabalho árduo e do investimento dos clubes formadores ao longo do tempo.
Qual é a relação do CBC com Brasília? Hoje, quantos clubes e quantos atletas da cidade estão registrados no comitê?
A relação do CBC com Brasília é muito importante e representativa. Atualmente, temos 28 clubes e já são mais de 3 mil atletas beneficiados.
Quantas medalhas acredita que os atletas vinculados ao CBC trarão de Paris?
Prefiro não arriscar. Mas tenho muita confiança em nossa delegação. Estamos confiantes de que teremos um desempenho excelente. Toda cadeia esportiva no Brasil trabalha duro para oferecer o suporte necessário aos nossos atletas e maximizar suas chances de sucesso.
Como é a atuação dos demais países em relação aos clubes formadores? Existem mais "CBCs" por aí? Estamos muito atrás das potências?
A atuação dos demais países em relação aos clubes formadores difere. Nos Estados Unidos, por exemplo, a cultura de formação está muito enraizada nas universidades, diferentemente de países europeus, como a França, que possui muito mais essa raiz clubística. Podemos dizer que estamos constantemente buscando formas de nos manter competitivos e fortalecer nosso sistema esportivo, para chegar aos mesmos patamares dessas potências olímpicas.
Como funcionam os repasses do CBC? Clubes do tamanho de Flamengo, Pinheiros e Minas tendem a receber mais do que os de menor impacto?
Os repasses do CBC são distribuídos de forma equitativa e meritocrática, levando em consideração diversos pontos em cada clube. Instituições de maior impacto como Flamengo, Pinheiros e Minas, que desenvolvem um número maior de modalidades esportivas e, consequentemente, possuem maiores resultados a nível nacional e internacional para o Brasil, podem receber mais recursos. Mas todos os clubes integrados têm acesso ao apoio financeiro e técnico.
O CBC atua com projetos sociais para a captação de novos atletas? Qual é o papel socioeducativo exercido pela entidade?
O CBC não atua diretamente na implementação de projetos sociais para a captação de atletas, mas apoia os clubes integrados que desenvolvem iniciativas nesse sentido. Reconhecemos a importância do esporte como ferramenta socioeducativa e incentivamos os clubes a promoverem programas que visem a inclusão social, a formação integral e o desenvolvimento de jovens talentos.
Quais são os benefícios da adesão ao CBC. No total, quantos clubes estão vinculados, hoje, à entidade? Todos estão aptos a receber recursos?
O CBC atua no repasse de recursos às entidades que fazem parte do Programa de Formação de Atletas do CBC, destinados para áreas específicas, chamadas de eixos: eixo de recursos humanos, materiais e equipamentos esportivos, e competições. Nos eixos de recursos humanos e materiais e equipamentos esportivos, os clubes recebem recursos repassados por meio de editais. Dentro do eixo de competições, o programa oferece a aquisição de passagem aéreas, para atletas e equipes técnicas, para participação em CBI — o Campeonato Brasileiro Interclubes. Todos do programa recebem benefícios a depender da categoria de integração.
Como imagina essa participação visando Jogos Olímpicos como de Los Angeles-2028 e Brisbane-2032?
O CBC trabalha sempre planejando e pensando no futuro. Para os jogos de 2028, 2032 e além, nosso objetivo é continuar investindo na formação de atletas e na infraestrutura esportiva do país por meio dos pilares que são os clubes, visando alcançar resultados cada vez maiores.
Recentemente, o futsal entrou no rol de esportes apoiados pela entidade. Há previsão da inclusão de outros, principalmente do programa olímpico?
O futsal vem ao encontro de uma nova iniciativa do CBC, que é ampliar e promover uma significativa evolução no Programa de Formação de Atletas, buscando abraçar um espectro mais amplo e representativo do esporte nacional. Esse entendimento abre caminho para abraçarmos esportes amplamente praticados e amados em nosso país, como o futsal e várias outras modalidades.
Existe alguma relação do CBC com o Congresso Nacional para fortalecer políticas públicas voltadas à ampliação da revelação de atletas?
O CBC mantém uma relação próxima com todas as entidades importantes para o fomento do esporte no Brasil, e com o Congresso Nacional não é diferente. Estamos sempre buscando fortalecer políticas públicas voltadas para a ampliação do desenvolvimento do esporte no país e que contribuam para a revelação de atletas por meio dos clubes.
Você foi reeleito recentemente de forma unânime. Como avalia a continuidade do modelo de gestão dos últimos anos?
Fiquei muito feliz e satisfeito com minha reeleição, pois demonstra que estamos no caminho certo e também evidencia que há uma confiança na continuidade do modelo de gestão dos últimos anos. Acredito que essa estabilidade é fundamental para o sucesso do trabalho em qualquer instituição.
Qual é o papel das mulheres no organograma do CBC?
A integração e a participação das mulheres são fundamentais para o CBC. Sem dúvidas, a presença feminina em nossos colegiados fortalece a instituição, trazendo diferentes perspectivas e contribuindo para a construção de um ambiente mais inclusivo e diversificado. A partir do nosso próximo mandato, todos os colegiados de direção do CBC, incluindo o colegiado de direção, o conselho fiscal e comissão de ética, passarão a contar com, no mínimo, 30% de participação feminina, conforme a nova Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597, de 14 de junho de 2023).
Como é a relação do CBC com confederações e federações brasileiras? Há apoio?
O CBC mantém uma relação de apoio e colaboração com as confederações e federações esportivas. Trabalhamos em parceria para fortalecer o esporte nacional, e de forma direta com as confederações e ligas nacionais, com as quais, além de outras ações, também apoiamos e desenvolvemos em conjunto os calendários anuais dos Campeonatos Brasileiros Interclubes.
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