Futebol

Cássio deixa o Corinthians após 12 anos e 712 partidas

Paredão de nove conquistas alvinegras, goleiro de 36 anos rescinde contrato após desgastes internos, cobranças da torcida e perda da titularidade. Provável destino é o Cruzeiro

Com exceção da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, Cássio ganhou todos os títulos possíveis pelo Corinthians -  (crédito: Juan Mabromata/AFP)
Com exceção da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, Cássio ganhou todos os títulos possíveis pelo Corinthians - (crédito: Juan Mabromata/AFP)

A Era Cássio no Corinthians está oficialmente encerrada. O goleiro deixa o clube após 12 anos de serviços prestados. O destino provável é o Cruzeiro, sob a direção do investidor Pedro Lourenço. Cássio se despede do alvinegro do Parque São Jorge com o posto de segundo atleta que mais defendeu o clube, com 712 partidas. Ele fica atrás somente do lateral-esquerdo Wladimir (806), figura emblemática da Democracia Corintiana. 

Cássio também encerra o ciclo de mais uma década como um dos jogadores mais vitoriosos da história do time fundado em 1910. Conquistou a inédita Libertadores e o segundo Mundial de Clubes da Fifa, em 2012, dois troféus do Campeonato Brasileiro (2015 e 2017), quatro do Campeonato Paulista (2013, 2017, 2018 e 2019) e um da Recopa Sul-Americana (2013). 

Gaúcho de Veranópolis, Cássio deixa o Corinthians após sucessão de instabilidades dentro e fora dos gramados. Com a saída dos veteranos Gil, Renato Augusto, Fábio Santos e Giuliano, tornou-se o principal alvo de críticas e de cobranças de mudanças de postura do time por parte da torcida. Em 23 de abril, na derrota do clube por 1 x 0 para o Argentinos Juniors, fora de casa, pela 3ª rodada da fase de grupos da Copa Sul-Americana, o goleiro desabafou. 

"Se eu estiver atrapalhando o Corinthians, se não estiver agradando... Para mim, está muito difícil também. Tudo de errado que acontece no Corinthians sobra para mim. O time leva gol e a culpa é do Cássio. Toma um gol de pênalti e a culpa é do Cássio", relatou à ESPN. 

Não foi a primeira vez que um Cássio sem filtro deu entrevista após a partida. Na partida contra o Flamengo, pelo Brasileirão de 2020, na Neo Química Arena, o ídolo alvinegro havia adotado o mesmo discurso. "Ultimamente, tem sobrado tudo para mim, tudo é culpa do Cássio. O time não ganha, é culpa do Cássio. O time não faz gol, é culpa do Cássio.  Antes que falem algo, não acho que sou maior do que o Corinthians, não me acho intocável. Sou muito grato a tudo que o Corinthians fez para mim, mas nesse momento acho que estou sendo escudo", diagnosticou à época.

A recente confissão do goleirão o levou ao banco de reservas. Carlos Miguel herdou a responsabilidade e foi o titular nas última seis partidas, contra Fluminense, Fortaleza e Flamengo (Brasileirão); Nacional-PAR e Argentinos Juniors (Sul-Americana); e América-RN (Copa do Brasil).

Reflexo de outros ídolos

A saída de Cássio sete meses antes do fim do contrato escancara a dificuldade do Corinthians em fechar ciclos com os principais ídolos. Nos anos 1970, Rivellino foi vendido ao Fluminense por ser reconhecido como o vilão do vice-campeonato Paulista diante do Palmeiras, em 1974. Mesmo após 10 anos no Parque São Jorge, viveu momento ruim nos bastidores do time.

Na década de 1990, foi a vez de Neto. O ex-meio-campista foi o craque do inédito título brasileiro de 1990, mas, depois de mais um vice estadual contra o arquirrival, somado a desentendimentos com a comissão técnica de Mário Sérgio e dirigentes, arrumou as malas. Personagens importantes do título mundial, conquistado em 2000, Edílson Capetinha e Marcelinho Carioca também viveram momentos infelizes que resultaram em saídas.

O Pé de Anjo teve problemas com técnicos. Em 2001, com Luxemburgo. Cinco anos depois, com Emerson Leão. Edílson, foi alvo da torcida após a eliminação nas semifinais da Libertadores de 2000, novamente contra o Palmeiras.

Quem também teve problemas com torcedores e com o Emerson Leão foi Carlitos Tévez. Rosto do título Brasileiro de 2005, provocou a Fiel e teve o próprio carro chutado na saída do Morumbi, após partida contra o Fortaleza, em 2006. Um dos motivos para o atrito com o ex-treinador foi a despromoção do argentino da função de capitão.

Ciente da possibilidade de perder mais um símbolo da história, o Corinthians propôs uma renovação a Cássio. O camisa 12, porém, rejeitou a oferta de mais dois anos de contrato. A duração do vínculo e os valores envolvidos não eram o problema. Para o jogador, o desgaste interno era irreparável. Em 2022, o goleiro e a família moram ameaçados de morte. Mesma situação do atacante Willian. O ex-Seleção Brasileira, no entanto, preferiu encerrar a segunda passagem por ali mesmo.

Fim do ciclo do Trio de Ferro e Despedida

Depois dos fins das trajetórias do palmeirense Marcos, em 2012, e do são paulino Rogério Ceni, em 2015, chega a vez de o corintiano dar fim à tríade que marcou época em três dos quatro grandes clubes do estado. 

Em entrevista na porta do Centro de Treinamento Doutor Joaquim Grava, em São Paulo, o presidente do Corinthians, Augusto Melo, citou ter feito de tudo para manter o ídolo no clube. No entanto, entende que esse pode ser o melhor caminho e citou preparativos para uma despedida de Cássio antes do embarque para Belo Horizonte, na próxima semana. 

Linha do tempo de Cássio no Timão

9/12/2011 - Cássio acerta ida ao Corinthians com vínculo até o fim de 2015, egresso do PSV Eindhoven, da Holanda;

28/3/2012 - Cássio estreia pelo Corinthians com vitória por 1 x 0 diante do XV de Piracicaba, em jogo válido pelo Paulistão

27/4/2012 - Cássio toma titularidade de Júlio César e assume o posto de forma definitiva no empate por 0 x 0 diante do Emelec, pelo jogo de ida das oitavas de final da Libertadores. Na ocasião, foi eleito o melhor em campo.

4/7/2012 - Corinthians vence o Boca Juniors por 2 x 0 no jogo de volta da final da Libertadores, e Cássio brinda clube com o título inédito. Posteriormente, foi eleito como o melhor goleiro da competição.

16/12/2012 - Corinthians é campeão do Mundial de Clubes da Fifa após vitória por 1 x 0 diante do Chelsea, graças a seis defesas importantes do arqueiro. Ganhou a Bola de Ouro de melhor jogador do torneio.

19/5/2013 - Cássio é campeão paulista pelo Corinthians pela primeira vez.

17/7/2013 - Corinthians é campeão da Recopa Sul-Americana com Cássio como um dos protagonistas após vitória por 4 x 1 diante do São Paulo, pelo placar agregado.

19/11/2015 - Corinthians empata com Vasco por 1 x 1 pela 35ª rodada do Brasileirão e é hexacampeão nacional; A campanha marcou o primeiro título brasileiro de Cássio.

7/5/2017 - Corinthians vence a Ponte Preta e Cássio é campeão paulista pela Corinthians pela segunda vez.

15/11/2017 - Corinthians vence o Fluminense por 3 x 1 pela 35ª rodada do Brasileirão e é heptacampeão nacional, o segundo do goleiro.

8/4/2018 - Corinthians é campeão paulista pela segunda vez consecutiva diante do Palmeiras, nos pênaltis, graças a duas defesas de Cássio na disputa.

21/4/2019 - Corinthians é campeão paulista pela terceira vez consecutiva, diante do São Paulo, com Cássio como um dos protagonistas da conquista. Campanha marcou a quarta e última taça estadual do arqueiro, a nona no geral.

10/8/2022 - Cássio se torna segundo jogador com mais jogos pelo Corinthians com 607 atuações, após derrota por 1 x 0, pela partida de ida das quartas de final da Libertadores contra o Flamengo.

26/4/2023 - Cássio defende penalidade diante do Remo, na vitória por 2 x 0 (2 x 2, no agregado), pela terceira fase da Copa do Brasil, e consagra-se como maior pegador de pênaltis da história do clube, com 28 defesas

23/4/2024 - Cássio perde posto de titular para Carlos Miguel após forte desabafo

15/5/2024 - Cássio deixa o Corinthians rumo ao Cruzeiro após 12 anos no alvinegro paulista

Veja os números de Cássio pelo Corinthians:

Jogos: 712

Vitórias: 316

Empates: 217

Derrotas: 179

Aproveitamento de pontos conquistados: 54.54%

Gols sofridos: 591

Jogos sem sofrer gols: 284

Títulos: 9

A galeria de títulos de Cássio pelo Corinthians:

Paulistão (2013, 2017, 2018 e 2019); Brasileirão (2015 e 2017); Libertadores (2012); Mundial (2012), e Recopa Sul-Americana (2013).

*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini

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postado em 17/05/2024 16:41
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