Assim que assumiu o cargo de técnico da Seleção Brasileira, em janeiro de 2024, Dorival Júnior convidou Taffarel para ser o preparador de goleiros. Ele já havia assumido a função de 2014 a 2022 com Tite e, desde 2021, trabalha no Liverpool (ING). Em entrevista ao “Bolavip Brasil” na série de especiais sobre a Copa América, o tetracampeão mundial como jogador relembrou a conquista do torneio em 1997 ao lado de Ronaldo e Romário, comentou momento icônico de Zagallo e diz que pretende conquistar mais uma Copa do Mundo.
“Tínhamos um elenco muito qualificado na Copa América de 1997, jogadores no melhor momento, a equipe deu liga. Além de jogadores com muita personalidade. Tinha Ronaldo, Romário, Djalminha, Leonardo, Dunga, gente de personalidade forte e somente um grande treinador como Zagallo para administrar aquilo dali tendo seu momento e seu espaço. Então realmente foi uma grande vitória para o futebol brasileiro. Uma conquista que mostrou que o Brasil estava em um grande momento, tanto que um ano depois quase conquistamos nosso pentacampeonato. Perdemos a final, mas a base foi dessa seleção da Copa América”, relembra.
Taffarel diz que, apesar do Brasil ser o atual campeão mundial naquela ocasião, os jogadores não sentiam status de favorito.
“Acho que quando fomos para a Copa América não tinha aquela bagagem de campeão mundial ou time a ser batido por ter passado três anos. Era uma competição diferente e uma competição que o Brasil só tinha vencido quatro vezes. Sabíamos da dificuldade de jogar na Bolívia, principalmente na altitude”.
Copa América na altitude
Ídolo da torcida brasileira, Taffarel conta a dificuldade na altitude da Bolívia, país em que foi realizada a Copa América de 1997.
“A altitude sempre foi muito difícil, principalmente quando você desconhece, pois tem mais pavor do que realmente ela é. Retornando como treinador de goleiros não sinto mais nada e vejo que os jogadores que voltaram se adaptaram à altitude. É como jogar no sintético e no normal, se tu joga seguidamente, acaba se acostumando”.
Ex-goleiro relembra como foi administrar a condição adversa
“Com o tempo passando você sabe que a respiração fica mais curta e não pode se apavorar, tem que seguir com a respiração mais lenta. Eu lembro que alguns jogadores passavam mal já quando desciam do ônibus e a comissão os recolhiam para não assustar o grupo. Altitude não é mais aquele terror, hoje dá para administrar bem. Principalmente quando tem um time muito técnico, toca bem a bola, faz o adversário correr, isso ajuda bastante. Talvez no gol que sofri contra a Bolívia, em que fui lento na bola e ela passou debaixo de mim e acabei falhando, nesse momento a altitude me enganou muito. Mas isso são coisas que a gente enfrenta, todo mundo enfrenta quando sobe lá”, aponta.
Jogar com Romário e Ronaldo
O atual preparador de goleiros da Seleção Brasileira tem ótimas recordações dos dois craques e revela um hábito entre eles.
“Primeiro é um privilégio jogar com Romário e Ronaldo juntos. O Romário eu comecei com ele na base da seleção e o Ronaldo eu encontrei mais para frente. Eram dois grandíssimos jogadores, os dois juntos eram uma dupla impressionante que devia dar medo para o adversário. A convivência entre eles era ótima, e o ambiente também. O clima era descontraído e eles estavam sempre apostando alguma coisa, gostavam de apostar um contra o outro. Quando se ganha um título como a Copa América você tem que ir com espírito de união, cooperação, aceitar o seu companheiro da maneira como ele é e esse foi um dos triunfos para ganhar essa Copa América”, recorda.
Conquista e frase de Zagallo
Taffarel conta a respeito de um momento eternizado por Zagallo, técnico da equipe na conquista de 1997.
“Eu lembro do jogo que o Zagallo disse a frase “Vocês vão ter que me engolir”. A Seleção nunca é fácil, sempre cercada de críticas e incerteza. Se você ganha uma partida que não faz muito gols, como foi contra a Colômbia, os comentários negativos surgem”
Ele relembra o momento da cerimônia após o fim do jogo.
“Foi um sentimento muito bom e quando nós fomos receber as medalhas e o troféu, a torcida aplaudiu a gente. E reconheceram que foi uma seleção muito forte e superior a todos os adversários. Fizemos mais de 20 gols e sofremos poucos gols, o time era muito forte e fomos reconhecidos”, diz Taffarel.
Taffarel recorda dificuldade em jogar a Copa América
O profissional atuou em cinco edições da Copa América como jogador e em outras três como parte da comissão técnica. Sobre a dificuldade em disputar o torneio, comenta:
“É difícil porque você joga contra times sul-americanos, eles são fortes, preparados e exigem muito da gente. Será muito especial fazer uma boa Copa América e principalmente nesse novo momento da Seleção Brasileira começar logo com um título. No Brasil, temos que vencer os adversários e aqueles que nos criticam, mas isso acaba fazendo parte de uma trajetória para se conquistar alguma coisa. Em 1997, foi uma Copa América que deixamos a impressão do bom futebol que o Brasil vinha apresentando”.
Sonhos que Taffarel ainda tem na profissão
Sobre os sonhos e desejos que ainda tem na Seleção, Taffarel é modesto ao comentar.
“Particularmente nunca fui um grande sonhador e pensei nas coisas na frente, sempre deixei nas mãos de Deus e confiando que ele sempre iria fazer o melhor por mim. Lógico, trabalhando, buscando e me preparando dando meu melhor, acho que é dessa forma que estou vivendo hoje, mais do que nunca. Não sendo mais um protagonista entrando em campo, hoje estou lá atrás, trabalho até a hora do jogo e é o goleiro que dá sequência. Estou feliz com o que faço e realizado. Meu desejo é conquistar mais uma Copa do Mundo, mas sinceramente não por mim, não vai ser algo que eu vá perseguir na minha vida. Seria mais pelos jogadores”, concluiu.
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