Existem os ídolos, os heróis, as lendas, as inspirações, as grandes personalidades. E existiu o Ayrton Senna da Silva, do Brasil. Trinta anos se passaram desde que o mundo se despediu de um dos maiores pilotos da história, naquele fatídico 1º de maio de 1994, no GP de San Marino, em Ímola, na Itália. Com o passar do tempo, o vazio deixado nos brasileiros e no automobilismo mundial começou a dar lugar ao legado do tricampeão mundial. É o que mostra a série especial do Correio, a partir de hoje, sobre os legados de Senna.
Além da herança em pista, Ayrton continua vivo de outras formas não apenas restritas ao automobilismo. Uma delas é Senninha, lançado em janeiro de 1994. Criado por Ridaut Dias Jr. e Rogério Martins, o personagem de 8 anos tinha o objetivo de ser uma ferramenta de comunicação entre o piloto e as crianças, apresentando os valores dele. Três décadas depois, também se tornou uma forma de se comunicar com o público mesmo após a morte.
"Durante toda a minha trajetória profissional, eu sempre busquei dar o máximo no meu trabalho, até mesmo para continuar merecendo a confiança de todos os meus torcedores, porque vocês não imaginam o quão emocionante é ter todo aquele público torcendo pela gente, principalmente quando você vê uma criança vibrando. Agora, tenho a oportunidade de começar a devolver todo esse carinho e incentivo, por meio do projeto Senninha e sua turma", disse Ayrton, no vídeo de lançamento do personagem, em 1994.
O processo de criação começou três anos antes, em 1991. Ridaut, ilustrador responsável pelo projeto, quis retratar a imagem de Senna voltada para o público infantil e relembra dos contatos com o piloto durante a produção.
"A gente foi muito feliz nesse quesito. Levamos tudo pronto e ele abraçou muito a ideia. Pouca gente sabe, mas uma das amigas do Senninha, a Gabi, é inspirada na minha filha. Então, juntei muitas coisas que eu amava: minha arte, os quadrinhos, minha filha, minha família, a Fórmula 1 e aquilo que o Ayrton representava. O resultado foi esse projeto maravilhoso, que já dura 30 anos", conta Ridaut.
A amizade desenvolvida na época da criação de Senninha é o momento mais marcante para o ilustrador, que lembra com carinho das tardes em que o piloto ia ao estúdio para acompanhar o processo e jogar conversa fora. Ainda assim, outro ponto não pôde deixar de ser mencionado: a importância do personagem em carregar o legado do tricampeão mundial.
"O Senninha foi feito para isso. Estava planejado para a aposentadoria dele, algo que perdurasse anos, porque personagens não envelhecem. O máximo que acontece é o estilo envelhecer, mas isso a gente pode cuidar. Por isso, modificamos os desenhos para se encaixar no gosto das crianças. É como uma Ferrari antiga, lá dos anos 1970, e uma moderna. Elas mudam, mas seguem com a mesma essência e qualidade, sempre serão uma Ferrari", explica.
Os desafios fizeram parte da caminhada até o lançamento. Um deles foi convencer Ayrton a fazer algo fora daquilo que ele tinha maior intimidade. Assim, os responsáveis pelo personagem fizeram questão de explicar o processo, a importância, onde queriam chegar e os motivos, que resultaram na bênção do automobilista para seguir em frente.
"Ele sempre quis também ter esse canal com as pessoas. Era o que precisava, um meio de comunicação. Hoje você tem jovens que sabem do Senna também pelo Senninha, está passando isso para as gerações futuras. Não foi um trabalho fácil de fazer, até porque o Ayrton não deixava pontas soltas, ele foi campeão de Fórmula 1 por isso, então também não podíamos deixar", reflete Ridaut.
A turma de Senninha tinha o foco em ser como um time de Fórmula 1, por isso a ideia de passar os princípios do trabalho em equipe, o respeito, valores familiares e a importância de cada um para o todo. Esse foi um dos motivos de representar todos como amigos do protagonista, não tietes. Justamente por levar esses ideais adiante, o sentimento no aniversário de 30 anos é de dever cumprido, mas em parte.
"O pensamento de levar essa mensagem para as crianças é algo que me preenche muito, tenho o sentimento de que conseguimos. Mas, ao mesmo tempo, não é algo finalizado. Temos de continuar, entender as próximas gerações e conversar com elas, na linguagem delas, mas também dentro daquilo que queremos passar. O Senna é eterno, então não podemos parar, devemos seguir com isso para passar a cada nova geração que vier", planeja o ilustrador.
No entanto, há outro ponto específico que ainda toca muito em todos os envolvidos com o personagem: a saudade daquele que serviu como inspiração. Para tentar amenizar, Ridaut fez uma história em quadrinhos sobre um reencontro com Ayrton, na pele de Senninha. A produção era pessoal, mas foi publicada em uma revista francesa. Nela, o ilustrador se encontra com o piloto em Interlagos.
"Pensei muito no que falaria, mas só disse: 'Poxa, cara, onde é que você estava? Você está fazendo muita falta! Aparece mais'. Ele era uma pessoa muito amada, bem humorado, fácil de falar. É uma saudade muito grande. Gosto de lembrar dele em vida, alegre, como sempre foi, é isso que ele merece", finaliza.
Homenagens
As homenagens para o piloto não serão poucas em 2024. A cidade de Ímola, na Itália, palco do acidente de 30 anos atrás, preparou uma programação especial de 21 de março a 2 de junho, com celebrações, exposições e a própria corrida da Emiglia Romana, em 19 de maio.
Nas telas, a Netflix lançará neste ano uma minissérie para recontar a história de Senna. Com direção de Vicente Amorim e Julia Rezende, Gabriel Leone vai retratar o piloto na obra que mostrará o começo da carreira do tricampeão até o acidente. As gravações foram concluídas, mas ainda não há data confirmada de lançamento.
Senninha também está disponível na plataforma de streaming com a primeira temporada de Senninha na Pista Maluca. Além disso, o personagem tem série no YouTube, videogames e gibis.
*Estagiário sob a supervisão de Fernando Brito.