Não é raro ouvir personagens dos bastidores dos esportes olímpicos dizerem que Paris é logo ali. O discurso é uma forma otimista de celebrar a proximidade da 34ª edição da Era Moderna dos Jogos. Afinal, a distância que foi de 1.083 dias no encerramento da Olimpíada de Tóquio, em 8 de agosto de 2021, caiu para 100 nesta quarta-feira (17/4). No entanto, será que o Time Brasil tem somente motivos para comemorar? A reta final do encurtado ciclo indica que não.
A 100 dias da abertura, o Correio lista algumas das preocupações da delegação em modalidades outrora quase garantias de conquistas. A caderneta de vagas também entra na discussão. A expectativa do presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Paulo Wanderley, era carimbar de 300 a 330 passaportes. A pouco mais de três meses, a projeção do chefão da entidade se torna quase inviável com as 187 confirmações até ontem. Consequentemente, os números podem travar a quebra do recorde das 21 medalhas obtidas no Japão.
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Segundo o dirigente, apoio não falta. "Tenho a convicção de tudo que foi proposto em relação à preparação dos atletas, às necessidades, sejam profissionais, sejam de equipamento, foi proporcionado. Continuaremos a oferecer antes e durante os Jogos. Não tive nenhuma reclamação de confederação, de equipes, de atletas", assegurou ao Correio.
Como forma de recompensar e incentivar, o COB reservou R$ 7 milhões em premiação. A entidade também oferecerá três instalações de suporte. A base será o castelo de Saint-Ouen, erguido em 1823 nos arredores da capital francesa. O ginásio do município servirá de casa para equipes de vôlei, esgrima e taekwondo. Na Vila Olímpica, o país reservou um prédio próximo a uma das saídas e próximo a um dos refeitórios, e deve ter à disposição 180 quartos. O calor do verão francês também não será preocupação. Estima-se que R$ 290 mil foram direcionados para os aluguéis de ares-condicionados.
Vôlei masculino
A modalidade responsável por brindar o país com ouros nos Jogos de Barcelona-1992, Atenas-2004 e do Rio-2016 passa por uma crise de identidade. Em Tóquio-2020, perdeu a decisão do bronze para a Argentina e amargou a primeira edição sem pódio desde 2000. Para evitar nova decepção, recorreu a Bernardinho. No entanto, o dono da prancheta verde-amarela se depara com desafios. O pouco tempo de trabalho é um deles. A primeira convocação do retorno foi divulgada a 102 dias da abertura dos Jogos. Um dos problemas foi a recusa do ponteiro Douglas Souza, aposentado da Seleção desde 2021. A segunda lista será anunciada nos próximos dias. O único compromisso antes da Olimpíada é a Liga das Nações, no Rio de Janeiro. O país não conquista o título do torneio desde 2021.
Futebol feminino
Quando Arthur Elias foi anunciado pela CBF, faltavam 360 dias para a abertura de Paris-2024. A aposta foi na receita vitoriosa de 16 títulos em oito anos pelo Corinthians. Porém, a contratação significa uma ruptura do modelo de jogo estabelecido por quatro temporadas pela antecessora, a sueca Pia Sundhage. O profissional de 42 anos busca rejuvenescer a Seleção, mas tem dificuldades, pois a dupla Marta e Cristiane ainda não conseguiu dizer adeus. Ainda não se sabe qual é a cara da Amarelinha sob a batuta do ex-Timão. Fator preocupante para a equipe que buscará a classificação em um grupo com duas campeãs mundiais: Japão e Espanha.
Surfe
O país tem seis classificados no surfe para os Jogos de Paris-2024 — Gabriel Medina, Filipe Toledo, João Chianca, Tatiana Weston-Webb, Tainá e Luana Silva. Embora o número seja bom, a expectativa de momento por resultados expressivos é tímida. A Brazilian Storm ainda não causou estrago no Circuito Mundial. Após quatro etapas, nenhum brasuca está entre os 10 melhores. É o pior início de temporada em 16 anos. A essa altura, no masculino, o país havia vencido metade das disputas, uma com Filipinho e outra com o João Chumbinho. Atual campeão da WSL, Filipinho é uma das maiores incógnitas. Em fevereiro, o paulista de Ubatuba abandonou o campeonato para cuidar da saúde mental.
Águas abertas
Ana Marcela Cunha é a atual campeã olímpica dos 10km das águas abertas em Tóquio-2020 e dona de 17 medalhas em Mundiais. No entanto, parece fora do páreo pela medalha de ouro na França. Em junho do ano passado, a baiana anunciou o rompimento com o técnico Fernando Possenti após 10 anos de parceria. De lá para cá, mudou-se para a Itália e iniciou os trabalhos sob mentoria Fabrizio Antonelli. A aposta, porém, ainda não trouxe títulos. Em fevereiro, Ana Marcela foi bronze nos 5km do Mundial em Doha, no Catar, e assegurou a participação na quarta olimpíada da carreira. Na avaliação da atleta, o cronograma está sendo seguido e promete "chegar 200% e lutar como sempre pelo pódio".
Atletismo
Bronze nos 400m com barreiras em Tóquio-2020 e campeão mundial da categoria em 2022, Alison dos Santos indica não estar na ponta dos cascos. O velocista de 23 anos atravessou lesão grave do menisco lateral do joelho direito, em fevereiro. Foi operado e retornou às pistas 10 meses depois. Em baixa, comparado aos adversários, ficou em quinto lugar na prova especialidade dele no Mundial de 2023. De quebra, passou por grande mudança. Seguiu a iniciativa de Ana Marcela Cunha e arrumou as malas, mas para os Estados Unidos. O objetivo era beber da fonte americana de grandes resultados com treinos e competições na Flórida e na Califórnia. No ano passado, foi convocado para o Pan de Santiago, mas rejeitou para evitar novos problemas físicos, pois estava garantido em Paris-2024.
Canoagem
Isaquias Queiroz está a uma medalha de se igualar a Robert Scheidt, da vela, como maior medalhista olímpico do Brasil. Mas o dono do ouro no C1 1.000m em Tóquio-2020, das pratas no C2 e C1 1.000m e do bronze na C1 200m no Rio-2016, rema para retomar o posto de favorito. Após a Olimpíada do Japão, optou por viver um ano sabático na Bahia. Em 2023, dividiu a rotina de pai e atleta em meio à gestação e ao nascimento do segundo filho. Apesar da alegria, amargou a decepção de ter ficado sem medalha no Mundial pela primeira vez em 10 anos. O desempenho ruim, entretanto, foi "salvo" com uma realocação de vagas que o premiou com a confirmação da presença no C1 1.000m de Paris-2024. Há possibilidade de o baiano também competir no C2 500m.
Vela
Atuais bicampeãs olímpicas da categoria 49erFX, Martine Grael e Kahena Kuntze estão abaixo do patamar esperado. Foram campeãs do Pan de Santiago-2023, mas não subiram ao pódio no Mundial e desperdiçaram a primeira chance de obter vaga nos Jogos de Paris. Em março, também tiveram desempenho ruim na disputa internacional, com a nona colocação. No início deste mês, obtiveram o pior resultado das carreiras repletas de conquistas, considerando regatas completadas. No Troféu Princesa Sofia, na Espanha, terminaram na 24ª colocação, muito abaixo dos dois 12º lugares nos Mundiais de 2020 e 2023.
Salto com vara
Medalhista de ouro do salto com vara nos Jogos Rio-2016 e de bronze em Tóquio-2020, Thiago Braz passa por problemas fora das pistas. Em julho do ano passado, foi suspenso preventivamente das competições por doping. Segundo a Athletics Integrity Unit (Unidade de Integridade do Atletismo), o paulista de Marília testou positivo para ostarina, mesma substância proibida encontrada no organismo da brasiliense Tandara, vetada da Seleção feminina de vôlei na disputa no Japão. Como a decisão não é definitiva, Braz corre contra o tempo para reverter a ação e não perder a chance de disputar a terceira Olimpíada.
Judô e natação
Duas das modalidades que mais renderam medalhas ao Brasil em Olimpíadas, o judô (24) e a natação (15) ainda não indicam possibilidades de ouro. Nos tatames, porém, há boas chances de segundo ou terceiro lugares. Três vezes bronze, Mayra Aguiar (Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020) caminha para a quinta participação e uma espécie de bola de segurança. Situação semelhante à de Rafaela Silva, a última campeã olímpica do país, no Rio de Janeiro. Uma esperança também pode ser o brasiliense Guilherme Schmidt, estreante nos 81kg.
Nas piscinas, 16 vagas estão reservadas. Os nomes, no entanto, serão conhecidos após a seletiva nacional, de 6 a 11 de maio. Os principais nomes da nova geração são: Mafê Costa (200m livre e 400m livre), Guilherme Costa (400m livre) e Guilherme Caribé (100m livre).
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