Adaptando a canção de Luizinho Andanças Com que roupa eu vou, os inscritos a Maratona Brasília 2024, do Correio Braziliense, perguntam-se com qual tênis desfilarão pelos principais pontos da capital federal nas diferentes provas em 20 e 21 de abril. Afinal, com o desenvolvimento da tecnologia do esporte, os calçados se tornaram um dos maiores aliados nas corridas Brasil afora.
Quem não almeja "pisar fofo" com os melhores modelos disponíveis no mercado? Opções não faltam entre as diferentes grifes. Embora tenham objetivo comum de entregar conforto e a melhor performance nas pitas, cada pisante tem particularidades, como os materiais utilizados para amortecedores, espessura das palmilhas e até peso.
Investir nos modelos de ponta pode significar largar na frente. Esse é o padrão das grandes disputas. Há 12 anos, nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, a Nike apresentou ao mundo a tecnologia Fluknit, cujo grande trunfo era a ausência de costuras. Testes observam melhor encaixe dos tênis aos pés dos corredores. Quase uma década depois, em Tóquio-2020, o principal upgrade oferecido pela marca foi uma placa de carbono presente na grossa entressola dos instrumentos. Com um cabedal 3D, parte responsável por dar suporte aos pés, e uma substância semelhante à espuma, a grife estadunidense lançou nova moda.
Outras empresas do segmento resolveram seguir as tendências e se envolveram em uma corrida pelo título de calçado mais eficiente. Mas tudo tem um preço. Assim como os principais nomes do atletismo, os participantes da Maratona Brasília 2024 precisarão investir para terem a tecnologia a favor e se equiparem luxuosamente. Pesquisa feita pelo Correio mostra que os apetrechos dos homens e das mulheres vencedoras das provas de 42km nos Jogos de Tóquio-2020 e Rio-2016 e das tradicionais provas de Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova Iorque no ano passado, além da versão de março na capital japonesa, não saem por menos de R$ 540 o par.
O Puma Velocity Nitro 2, utilizado pela medalhista de bronze na Olimpíada no Japão, a americana Molly Seidel, é o mais em conta e o ponto fora da curva. As concorrentes dificilmente lançam modelos abaixo da casa dos milhares de reais. Líderes na preferência dos competidores, Nike e Adidas costumam produzir modelos com preços mais robustos. Mesmo assim, são as etiquetas mais presentes nos pódios.
A Nike costuma alinhar esforços com os chamados corredores de fundo, os desbravadores de provas de grandes distâncias. Os africanos são dominantes em competições desse porte. Um em cada dois vencedores das principais disputas do planeta no ano passado ostentava o modelo Alphaly 3 Proto, comercializado a R$ 2.300 no site da empresa. Os quenianos Deso Gelmisa, campeão em Tóquio, Sifan Hassan, líder em Londres, Eliud Kipchoque, absoluto em Berlim, e Kelvin Kiptum, o puxador da fila em Chicago e Londres, foram os privilegiados pela engenharia americana.
Dono do ouro das Olimpíadas do Rio de Janeiro, a também queniana Jemina Sumong optou por um protótipo mais leve para o bolso: o Nike Vaporfly 4% Flyknit, avaliado em R$ 1.139. Um dos queridinhos da Adidas é o Adizero Adios Pro 3, calçado pela queniana Peres Jepchirchir, ouro nos Jogos de Tóquio. É possível adquiri-lo por cerca de R$ 1.699 na loja virtual da marca alemã.
O tênis mais luxuoso e caro entre os pesquisados pela reportagem também pertence às três listras. Utilizado pela etíope Tigst Assefa, detentora do recorde mundial com o índice de 2h11m53s na última prova de Berlim, o Adidas Adizero Adios Pro Evo 1 não sai por menos de R$ 3.999. O compatriota de Assefa, Tamirat Tola, também usou o modelo para cruzar a linha de chegada em Nova Iorque em 2h04min58s, oito segundos abaixo do então detentor do melhor tempo, o queniano Geoffrey Muta, em 2011.
Outras marcas também pedem passagem. Algumas, inclusive, portadoras de momentos de destaque, mas não de preços acessíveis para parte dos brasilienses. O queniano Kenneth Kipkemoi, terceiro colocado na prova de Tóquio deste ano, utilizou o Asics Meta Speed Sky (R$ 2.200). O modelo da marca On Runnning, o não tão badalado Cloudboom Echo, é alternativa a R$ 1.500.
Palavra de especialista
A evolução da tecnologia dos calçados de corrida apresenta duas perspectivas distintas, na opinião do ex-maratonista mineiro e radicado em Brasília, Ronaldo da Costa. Campeão da São Silvestre de 1994 e da prova de Berlim de 1998, ele é o único brasileiro a quebrar um recorde mundial em provas do gênero (2h06min05s) e enxerga o constante crescimento da engenharia como positivo, mas incapaz de gerar resultados sozinho.
"O corredor pode querer o quanto quiser, mas não vai conseguir ganhar provas só por comprar um tênis top. Sem uma rotina de treinos bem trabalhada e muito sacrifício, as linhas de chegada dificilmente serão cruzadas", analisa. O ex-corredor, porém, explica que um atleta capaz de se impor por meio dos próprios esforços, mesmo sem um instrumento de ponta, pode superar alguém despreparado em termos físicos. No entanto, os calçados podem fazer grande diferença em disputas de alto nível.
"Com tanta tecnologia, um tênis de natureza superior pode fazer muita diferença na disputa entre dois corredores, mas, da mesma forma, gera um contraponto, pois a questão dos preços muito altos impacta na competitividade. Mesmo com treinos intensos feitos por todos os competidores, os que possuem os melhores tênis se colocam em condições mais propícias para se destacar", completa Ronaldo
Programe-se
Maratona Brasília 2024
Quando: 20 e 21 de abril
Onde se inscrever: Brasil Corrida
*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini