Dificilmente, Artur Jorge, lá do Norte de Portugal, não ouviu falar sobre o clube cujos ídolos são Nilton Santos, Garrincha, Zagallo, Quarentinha e Didi. Também deve ter recebido, naturalmente, um briefing a respeito de como o time encontrava-se na temporada vigente e um resumo do tão propalado Botafogo Way, a menina dos olhos de John Textor. No entanto, esteve distante de alguns pormenores importantes da instituição, algo que a duríssima realidade tratou de mostrá-lo.
Antes da viagem a Quito, na semana passada, o lugar mais alto onde Artur Jorge havia pisado era a belíssima Serra da Estrela. Europeu e minhoto, o treinador do Botafogo desconhecia a altitude e quais os efeitos do ar rarefeito sobre a performance de um time acostumado ao nível do mar. Ou seja, atravessou o Atlântico e não teve o tempo adequado de ambientar-se à nova conjuntura de trabalho. Afinal, assinou o contrato em abril, mês que marca o início de um calendário insano.
No Equador, Artur Jorge imaginou que a LDU fosse o Gil Vicente e apresentou à torcida do Botafogo, então, sua tática kamikaze de ataque: o 4-2-4. De volta ao Brasil, visitou o Cruzeiro e, com a mesma formação, ignorou, por inocência, que o futebol do país conta com 12 grandes e times menores contra os quais, às vezes, é insuportável defrontá-los. Como consequência, começa a jornada alvinegra com duas derrotas, dilemas e incompreensão total do plantel.
O Brasileirão, antes de tudo, não tem equipes de uma qualidade tão inferior quanto Moreirense, Arouca, Estoril e Famalicão, claro, com todo respeito às agremiações. Dependendo de alguns fatores, é necessário adaptar-se ao adversário para superá-lo. Quando entendeu esta lógica, depois de um ano e meio, o compatriota Luís Castro executou um plano de jogo com maestria e levou o Botafogo à liderança isolada do certame, edificando a equipe da defesa ao ataque, o modelo básico e cartesiano do esporte bretão.
Conturbado, Botafogo tem elenco superestimado
Artur Jorge avisou que implodiria o modelo antigo para dar mais um passo rumo ao Botafogo Way. Um deleite para os ouvidos de John Textor, sócio majoritário que idealiza um time que proporcione espetáculo, de sua mansão, na ensolarada Flórida, longe do dia a dia do clube e, agora, sem nenhum homem de confiança que possa representá-lo em Terra de Vera Cruz. No entanto, qualquer ser bípede e com a mínima massa encefálica sabe que o sonho do magnata, hoje, não passa de utopia. Uma revolução inatingível. Basta olhar as opções que o técnico bracarense dispõe para operar este milagre.
O esquema tático 4-2-4 de Artur Jorge tem quatro atacantes que voltam pouco. Dois deles, Jeffinho e Luiz Henrique mal conseguem recompor e, ofensivamente, demonstram displicência e excesso de individualismo. No meio de campo, a dupla de volantes não firma compromisso com a marcação, não cria nada e ainda deixa a zaga exposta. A defesa merece uma coluna à parte. É o setor que promove uma sucessão de barafundas de dar inveja a qualquer roteirista de “Os Trapalhões”.
E não venham, por favor, cometer a heresia de afirmar que o clube tem o melhor elenco de sua história, como foi, no mês passado, repetido por aí. Aliás, o Botafogo briga para não cair. E, se bobear, não vai nem lutar por permanência na Série A.
*Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10
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