PARIS-2024

Dez anos na vida de Marcus D'Almeida: entenda a evolução do craque olímpico

Em entrevista ao Correio, o líder do ranking e campeão da final da Copa do Mundo de tiro com arco comenta a disputa nos Jogos da Juventude Nanquim-2014 e vislumbra sequência do ciclo até Paris-2024

Já parou para pensar o que são 10 anos na sua vida? A resposta que talvez seja considerada complexa para você está na ponta da língua, ou melhor, da flecha do arco de Marcus Vinicius D’Almeida. Em uma década, o carioca se orgulha de ter passado promessa, com a medalha de prata obtida nos Jogos Olímpicos da Juventude Nanquim-2014, a realidade após conquistas relevantes no cenário internacional nos últimos ciclos. O “Robin Hood” brasileiro é o líder do ranking mundial, campeão da Copa do Mundo e figurinha carimbada no álbum de atletas do Time Brasil para a Olimpíada de Paris-2024. Inclusive, subir ao pódio na Cidade na Luz é uma coisa com a qual ele está habituado.

Em agosto do ano passado, foi bronze na etapa francesa do torneio mundial. A sequência de atuações com frias e calculistas lhe rendeu dois títulos individuais. Em dezembro, foi eleito o principal atleta do Prêmio Brasil Olímpico, entregue pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB). Dois meses depois, recebeu da Federação Internacional (World Archery) a honraria de melhor arqueiro do mundo. Embora acredite na força do trabalho e deposite a fé em Deus, Marcus D’Almeida não esperava os ventos soprassem tantas coisas boas de volta.

Em entrevista ao Correio durante a premiação do COB, compartilhou a surpresa e avaliou a importância dos resultados para aprendizado e amadurecimento para a terceira missão mais nobre de uma carreira que parece seguir a escadinha da evolução. Na primeira participação olímpica, na Rio-2016, foi 33º na disputa individual. Em Tóquio-2020, terminou entre os 16 melhores com a melhor participação de um brasileiro na modalidade. O fato de colocar o tiro com arco no mapa dos esportes ponto-fortes do país o credencia à referência para jovens. Ele vê isso com bons olhos, mas foge da pressão. A seguir, veja, também, como Marcus une o cuidado com a saúde mental ao sucesso nas competições.

Qual avaliação faz do atual momento?

A cada competição, estou aprendendo a tirar o meu melhor. É sempre acreditar que não tenho somente um ponto forte e, sim, vários. Quero ir com mais calma, vou trabalhar, pois acredito no poder do trabalho. É treinar forte, e papai do céu abençoa. O resto, a gente consegue lá. Mas, falando de resultados, realmente o meu foco é Olimpíada e de todos que estão no topo do mundo. É a única medalha que não tenho. Esse é o meu grande foco.

Faça uma análise de 2023 e projeção para 2024.

Foi um ano muito importante, de muito aprendizado e amadurecimento. Foi um ano da colheita. Agora, é saber aproveitar bastante esses frutos. Não sei nem responder, pois em 2023 não imaginava nem metade disso (de conquistas) e chamo esse ano de perfeito. Não gosto dessa pressão, acredito no trabalho e na proteção de Deus. Irmão, vamos para a luta. Não fico nessa de “ah, o ano perfeito”. Deixa o cara lá de cima guiar.

Está lhe faltando algo?

Estou feliz em mostrar resultados, a minha modalidade para o Brasil e de ter o reconhecimento de vocês e de todo mundo. Eu tinha o sonho de ganhar a Copa do Mundo e realizei um dos sonhos da minha vida profissional. Sobre 2024, é tranquilidade. Tenho outro sonho, que é a medalha, então é seguir trabalhando. Não tem mistério.

Dez anos se passaram desde os Jogos Olímpicos da Juventude Nanquim. Como descreve essa jornada até 2024?

Foi cheia de altos e baixos. Passei por muitas coisas, tive que amadurecer muito. Pensei em desistir, e isso é normal. Para chegar ao topo do mundo, é preciso levar o corpo e a mente ao extremo. Isso não é nada estranho. É muito duro e solitário, tem hora que ninguém entende o que você está fazendo, só você, porque ninguém sonha o que você sonha.

E quando você vem de uma modalidade com o tiro com arco, encontrará somente duas ou três pessoas que têm a mesma ambição. Existia essa dificuldade de encontrar essas pessoas. Hoje, não, 10 anos depois, tem muita gente que sonha e me viu ganhando coisas, a criançada da base sabe que o Brasil tem campeão mundial. Agora, as crianças vêm com ambição, é uma realidade totalmente diferente. Fico feliz de ser o nome para mudar um pouco isso.

Como é ser referência para jovens?

Me sinto bem. Estou aprendendo, não é tão fácil. Sei que é importante para a minha modalidade, entendi isso que tenho de abraçar e não correr. É importante e quero ser referência e mostrar para todo mundo que tiro com arco é esporte.

O cuidado psicológico está no seu cronograma?

Encaro isso como 100%. A parte mental é uma das mais importantes. É sobre estar bem, entender que a vida é feita de momentos, não dá para estar bem mentalmente o tempo inteiro, é normal falhar, como vários falharam na carreira. Essa é verdade. O topo é difícil, te suga, às vezes, é necessário dar uma acalmada na mente.

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