Aos 8 anos de idade, a brasiliense Thalita Rodrigues contou ao pai que se interessava em aprender a jogar tênis — ele, inclusive, é professor e treinador da modalidade. Do início do sonho de atuar em quadras mesmo sem um dos braços, até agora, Thalita, de 29 anos, não só voou alto na carreira como também ensina outras pessoas a se tornarem profissionais no esporte.
“Ele (meu pai) viu que eu levava jeito, até que comecei a participar de competições oficiais. Eu jogava todos os torneios com pessoas sem deficiências. De fato, as minhas adversárias ficavam intrigadas, mas sempre jogamos de igual para igual. Na classificação brasileira cheguei a ser a 3ª melhor no ranking Brasileiro na categoria até 18 anos. Foi quando recebi uma proposta para defender a Universidade de Toledo na divisão 1 nos EUA, onde sou formada em Administração esportiva e Marketing”, relata.
Em janeiro, a tenista paralímpica garantiu o segundo lugar em Melbourne, na Austrália, em uma competição de duplas do torneio Oceania Para-standing Tennis Championship, em janeiro de 2024. Nascida sem o antebraço esquerdo, a brasiliense chegou na semifinal da disputa simples, mas acabou perdendo para o japonês Kenichi Sakakibara.
O tênis Para-standing ou paranante é uma modalidade de tênis dedicada para indivíduos com deficiência física. Essa prática reúne pessoas que atuam o esporte em pé, sem o uso de cadeira de rodas. As regras são idênticas às do tênis convencional, mas são divididas em: PST1, PST2, PST3 e PST4.
Em entrevista para o Correio, Thalita conta que o torneio foi muito além do que só ganhar, e que todos estavam ali aprendendo um com o outro. “Cada um joga de uma maneira. Eu descobri e aprendi muitas formas de adaptar nos jogos. Claro que todo mundo quer ganhar, porém é muito mais do que só vencer. Ver a superação das pessoas, ver a alegria de todos, atletas que são deficientes e que estão ali jogando como uma esperança. Com certeza isso motiva muito”, explica.
A brasiliense tem uma história de superação e muitos sonhos. Devido a uma doença que a mãe contraiu durante a gravidez, chamada rubéola — doença que geralmente prejudica a formação do feto —, Thalita nasceu sem o antebraço esquerdo, mas isso não impediu que ela pudesse estar disputando nas quadras. “Quando eu era mais nova, sempre soube que tinha algo diferente em mim, pois via outras crianças com os dois braços. Porém isso nunca foi uma barreira para conseguir o que queria”, aponta a jogadora.
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Em 2019, foi convidada para jogar um torneio em Houston, nos Estados Unidos, na categoria Para StandingTennis. Nela, Thalita começou a disputar contra pessoas com deficiência similar a dela. “Fez todo sentido para mim. Hoje sou a jogadora número 1 do mundo no feminino na categoria Para Standing Tênis, e venho jogando torneios em vários países e fazendo incríveis jogos de exibições nos Grand Slams", conta. Em 2023, Thalita disputou um torneio na Itália e conquistou o título, vencendo um homem na final.
Atualmente, há programa esportivo das Paralimpíadas 22 modalidades, entre elas o tênis de mesa e tênis em cadeira de rodas. Ao Correio, a tenista relata sobre a relação que tem com o esporte e sobre a luta para que a modalidade seja uma categoria oficial das federações.
“Esse esporte mudou minha vida, plantou em mim vários sonhos e me fez acreditar. O esporte é capaz de fortalecer, criar laços afetivos, ensinar a vencer e perder, te coloca no rumo certo. Sei que não é uma fórmula exata, claro, mas é um caminho que toda criança ou PCD tem o direito de percorrer. Acreditando nisso, hoje faço parte da organização da categoria mundial e para mim virou um objetivo de vida promover e fazer com que a modalidade cresça no Brasil e no mundo", compartilha Thalita.
"Estou lutando com todas as forças para que essa categoria vire esporte paraolímpico e que as pessoas entendam que tênis é um esporte para todos. Pessoas sem um braço ou até sem os dois, ou com paralisia cerebral e diversas deficiências, conseguem praticar o esporte, inclusive as pessoas que se locomovem no dia a dia com prótese nas pernas, podem jogar de prótese ao invés de ir para uma cadeira de rodas para praticar a modalidade”, explica.
Além de sonhar pontuar na Women’s Tennis Association (WTA) e se tornar a primeira tenista Para StandingTennis, a brasiliense busca criar um Instituto com capacidade de receber pessoas de todas as idades. "O nosso objetivo é viabilizar a prática do esporte para pessoas que não possuem oportunidades, sejam elas deficientes ou não. Promovendo eventos como clínicas esportivas e torneios, disponibilizando quadras, materiais esportivos e treinos semanais com professores qualificados. Busco também incentivo para atletas, assim como eu, que enfrenta dificuldades para participar de competições nacionais e mundiais", conta.
Agora, a tenista se prepara para o mundial na categoria, que ocorre em junho deste ano, e quem sabe, trazer mais uma vitória para o Brasil. "O esporte me fez sonhar e acreditar no impossível, e a vontade de vencer me fez realizar sonhos inimagináveis. Quero poder plantar sonhos nas pessoas, onde elas não conseguem ver e nem imaginar. Que eu seja inspiração para a próxima geração praticar, sonhar e vencer os desafios e barreiras que a vida coloca em nossos caminhos e que a igualdade não seja apenas uma palavra, mas sim, nossa realidade", conclui Thalita.
*Estagiária sob supervisão de Talita de Souza
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