Assim como disse Esopo, escritor da Grécia Antiga nascido em 620 a.C, “do mesmo modo que a união faz a força, a discórdia leva a uma rápida derrota”. Foi sob essa premissa que a contadora Márcia Camargo, de 50 anos, atendeu ao chamado do mundo das corridas ao entrar para um grupo de mulheres que se encontrava diariamente para praticar a modalidade.
Ela será apenas uma das dezenas de mulheres a percorrer os cartões-postais da capital federal na Maratona Brasília 2024, apoiada pelo Correio Braziliense, em 20 e 21 de abril, na celebração dos 64 anos da cidade. Antes de cair de paraquedas na vida de Márcia, o atletismo jamais havia passado pela cabeça dela como uma alternativa forte o suficiente para entrar no leque de opções de atividades físicas.
Quem a vê, hoje, como coordenadora do grupo Elas vão de Tênis, exclusivo para atletas mulheres e composto por mais de 500 corredoras, não imagina que a ideia foi considerada há apenas 10 anos. Casada aos 22 anos, Márcia teve a primeira filha, Letícia, dois anos mais tarde. Um biênio depois, foi agraciada com a vida do caçula, Matheus. Com o divórcio e a posterior morte do ex-marido, parou a vida para cuidar dos filhos. A prática esportiva, antes frequente na vida dela, deixou de ser realidade.
Incentivada pela mãe desde pequena, era presença assídua em aulas de dança, como ballet e jazz, além da ginástica rítmica. Com o crescimento dos meninos, voltou às atividades. Ela conta que, em um determinado dia na academia para a prática da musculação, recebeu um sinal despretensioso.
“Estava voltando depois de ficar parada por algum tempo. Na academia, sempre via um idoso que falava sobre corrida frequentemente. Fiquei intrigada, e resolvi ir atrás”, disse ela. Após um tempo de pesquisas, o filho Matheus viu, na porta de uma unidade da lanchonete McDonald’s, uma propaganda de uma corrida da própria franquia, exclusiva para mulheres.
Resolveu, então, dar a primeira chance à atividade. Ela explica que, ao ver “aquele universo rosa”, se encontrou. “Nunca tinha dado chance antes (à corrida). Foi a primeira vez. Quando vi tudo aquilo, com tantas mulheres de todas as idades, de todos os tipos, senti algo inédito. Aquilo foi libertador. Eu me encontrei. Resolvi que era isso o que queria para a minha vida”, relembrou ela. A experiência serviu como um trampolim para de fato ir atrás de novas oportunidades na nova prática esportiva. Com o objetivo de achar um grupo composto por mulheres, encontrou o Divas que Correm, e rapidamente se vinculou para manter as novas metas.
O conjunto, no entanto, sofreu alterações. Com o desmembramento do conjunto e a saída das então coordenadoras para outros projetos, a contadora assumiu o comando e, com algumas colegas, optaram pelo novo nome e por um novo formato.
Hoje, até mesmo eventos realizados em diversas datas do ano tomam forma por lá. No Dia Nacional na luta contra o câncer de mama, por exemplo, centenas de lenços foram doados pelas corredoras para pacientes no Hospital de Base. O grande foco da união, no entanto, é incentivar as participantes a praticar exercício, tanto para o benefício da saúde, quanto para enfrentar obstáculos pessoais. “As mulheres vivem múltiplos contextos, muitas situações. Nós cuidamos do grupo para que as corredoras não só cuidem da saúde, mas para que também possam ser amparadas.
Eu mesma estive à beira da depressão. Todas se ajudam. Ali, tem tudo quanto é tipo de corredora”, explicitou. Apesar de confessar ter pensamentos de desistência em relação à coordenação do grupo, Márcia se diz orgulhosa com os testemunhos das participantes cujas vidas foram mudadas em decorrência da decisão pela participação. O poder de atração e incentivo de umas com as outras é, de acordo com ela, imenso.
“Quando alguém posta uma foto no nosso grupo do WhatsApp faz muita diferença. Muitas dizem: ‘Olha, não tô bem, cheia de problema, mas estou aqui, treinando’. Isso tem um poder imenso. Algumas já me mandaram mensagem para contar que o grupo mudou as vidas delas.
Isso virou um propósito de vida para mim”, orgulha-se. Em decorrência de uma condropatia patelar no joelho, o enfraquecimento da cartilagem presente no local, Márcia está proibida de correr longas distâncias. A meia-maratona, modalidade presente na vida dela e praticada algumas vezes, portanto, está descartada. Isso não a impedirá, entretanto, de correr os 5km. Apesar disso, ela conta que algumas colegas participarão do evento principal. “Vou correr mais tranquila, pois estou em processo de recuperação.
Mas outras meninas vão fazer diversas modalidades. Sentia falta de desafios em Brasília como os que acontecerão no mês que vem. Com essa volta, Brasília se tornará um polo da corrida ainda mais forte do que já é”, opinou ela.
Início A largada da Maratona de Brasília será em frente ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, às 7h, em 21 de abril. O percurso passará por diferentes pontos turísticos da capital federal, como os palácios da Justiça, do Itamaraty e do Planalto, além do Congresso Nacional.
Os competidores ainda passarão pelo Eixo Monumental e Eixões, antes de terminar novamente em frente ao Museu. Os interessados em participar do evento ainda podem se inscrever (aponte a câmera do celular para QR Code). O limite, porém, é até as 23h59 de 15 de abril, uma segunda-feira.
Os inscritos receberão um kit composto por um número de peito, uma medalha de participação e uma camiseta. Haverá, além disso, a possibilidade de conquista de uma segunda medalha, caso sejam completadas uma das duas opções de desafio — algo inédito na história da competição.
O Desafio BSB 64 anos dará a oportunidade ao participante de correr uma meia maratona, em 20 de abril, sábado, e a maratona de fato no dia seguinte. O Desafio JK será composto pelo término de duas meia-maratonas, uma no sábado e outra no domingo. Portanto, há diferentes combinações à escolha dos inscritos.
Os valores para as adesões variam de prova para prova. No caso da maratona, estabelecese entre R$ 80 e R$ 160. As meias -maratonas, de R$ 70 a R$ 140. Os 3km, 5km e 10km, de R$ 55 a R$ 110. Por último, os desafios custarão entre R$ 140 e R$ 280.
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