É mais fácil um clube pequeno ou emergente alcançar a final do Campeonato Paulista do que a decisão do Carioca. A explicação está no equilíbrio entre os 16 clubes filiados à Federação mais rica do país. Entre os inscritos, somente a Portuguesa não disputará nenhuma das quatro divisões do Brasileirão nesta temporada, diferentemente da situação no Rio de Janeiro. Dos 12 envolvidos, Audax-RJ, Bangu, Madureira e Sampaio Corrêa-RJ não têm calendário nacional em 2024. Ainda sim, os menos afortunados resolvem aprontar. O Nova Iguaçu não faz parte da turma, mas resolveu comprar uma briga dos menores com a vitória por 1 x 0 sobre o Vasco, no domingo (173), no Maracanã.
Ao se classificar sobre o terceiro maior campeão carioca, o clube da Baixada Fluminense quebrou o ciclo vicioso de finais somente entre grandes do estado. Apenas em três oportunidades, o principal torneio do Rio de Janeiro foi decidido sem o protagonismo de dois grandes nos anos 2000. A última vez havia sido em 2006, quando o Botafogo ergueu o caneco diante do Madureira. No ano anterior, o Volta Redonda também tentou roubar a cena, mas caiu diante do Fluminense. Em 2002, o tricolor das Laranjeiras não deu sorte ao azar contra o Americano.
O Nova Iguaçu quebrou apenas um dos tabus. Tratando-se de títulos, o clube dos alheios ao quarteto fantástico da Cidade Maravilhosa está com o grito de campeão entalado há 58 anos. O último troféu conquistado por um time com relevância menor às de Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo foi em 1966, pelo Bangu, diante do rubro-negro. De lá para cá, oito taças foram para galeria de General Severiano, 22 para a Gávea, 15 para as Laranjeiras e 12 para São Januário.
Sensação do Carioca, a "Laranja Mecânica" conta com alguns personagens curiosos. Autor do gol da vitória sobre o Vasco, Bill é "parça" de Vinicius Junior, astro do Real Madrid. Dividiram juntos os vestiários e gramados nos tempos de categoria de base do Flamengo. "É um sentimento de muita alegria, felicidade e realização. Seis meses atrás, eu desembarcava no Rio de Janeiro, voltando da Ucrânia, sem perspectiva profissional. Deus é maravilhoso e me colocou no Nova Iguaçu novamente, clube com o qual tenho muita identificação. Posso dizer que foi 'do nada', nada premeditado", compartilhou Bill.
"Cheguei no Nova Iguaçu disposto a trabalhar e ser feliz. Ninguém acreditou. Muita gente me criticou e falou que eu era só mais um. Entrei, assumi a responsabilidade pelo nosso município, e estamos fazendo história", complementou.
Ainda que indiretamente, quem também tem história com o rubro-negro é o atacante Yago. Emprestado pelo Flu, o jogador de 22 anos é filho de Iranildo, ex-camisa 10 do Fla, tetracampeão estadual (1996, 1999, 2000 e 2001). O meia também foi campeão da Série B 2004 pelo Brasiliense. É o maior artilheiro do Jacaré, com 70 gols, e considerado o maior ídolo da história do clube fundado em 2000.
Uma das mentes por trás da campanha no torneio nacional é Andrezinho, ex-meia formado nas categorias de base do Flamengo, com passagens por Vasco, Botafogo e campeão da Libertadores de 2010 pelo Internacional. Ao canal Goat, comentou a classificação. "Esse momento é mágico e único para eles (jogadores) desfrutarem. Se você pegar, 90% do grupo nunca pisou no Maracanã e, hoje, jogou para 60 mil pessoas. A torcida do Vasco é apaixonante e enche o Maracanã. Só desfrutando assim a gente tira a tensão e o nervosismo. Eles fizeram isso e são os responsáveis por nos fazer sonhar alto", ressaltou.
Há quem diga que o Nova Iguaçu pode ser o melhor desafiante ao Flamengo. O time da Baixada pode se orgulhar de ser o único a ter balançado as redes do rubro-negro em jogos oficiais em 2024. No duelo pela 2ª rodada da Taça Guanabara, empataram por 1 x 1.
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