O atacante Vinícius Júnior, do Real Madrid, voltará a atrair todos os olhares no próximo sábado, em seu retorno ao estádio Mestalla, casa do Valencia, onde foi alvo de insultos racistas na temporada passada, em um caso que foi parar na justiça e gerou indignação no mundo do futebol.
O episódio transformou o brasileiro em um símbolo da luta contra o racismo, mas também gerou tensão entre o jogador e o Valencia, que afirma que Vini tachou seus torcedores de racistas de forma generalizada.
A poucos dias do retorno do atacante ao Mestalla, o clube proibiu a Netflix de entrar com câmeras no estádio para fazer imagens para o documentário que está preparando sobre o brasileiro.
Fontes do Valencia afirmaram à AFP que a plataforma não tem direitos sobre a partida e que só queria uma câmera focada durante os 90 minutos na arquibancada, onde estavam as três pessoas que proferiram insultos racistas no ano passado.
Isso faz o clube temer as intenções desta gravação, segundo as mesmas fontes, que também afirmam que foi pedida uma entrevista com Hugo Duro, jogador que recebeu um tapa no rosto pelo qual Vini foi expulso na partida.
A Netflix só poderá captar imagens fora do estádio e na chegada e saída dos jogadores.
- LaLiga respeita decisão do Valencia -
"São decisões tomadas pelo clube, e todas muito difíceis. Eles decidiram que a produtora não vai entrar, tenho que respeitar totalmente", afirmou o presidente da LaLiga, organizadora do Campeonato Espanhol, Javier Tebas, na terça-feira.
"Não acho que a não entrada para fazer o documentário seja uma consequência... Acho que é uma medida de precaução. Na verdade, vou participar no documentário e vou fazer uma entrevista", acrescentou Tebas.
Vinícius Júnior foi insultado no jogo do Campeonato Espanhol em 21 de maio de 2023, que terminou com a derrota do Real Madrid por 1 a 0 no Mestalla.
O duelo ficou interrompido durante vários minutos e o brasileiro discutiu com os autores dos insultos.
Três jovens são investigados pelo caso por um tribunal em Valência, ao qual Vinícius prestou depoimento em outubro do ano passado afirmando que tinha sido alvo de insultos por conta de sua raça e por ser um jogador importante do Real Madrid.
Os três foram banidos para sempre pelo Valencia, que considera injusta a forma como o jogador generalizou a imagem de racista da torcida do clube.
O técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, também atribuiu os insultos a todo o estádio, mas depois afirmou que se referia a "um grupo que se comportou muito mal".
- Jogo contra o racismo -
O episódio no Mestalla acabou tendo dimensão internacional com as declarações de apoio a Vini Jr. vindas dos governantes de Brasil e Espanha.
"Tolerância zero para o racismo no futebol", escreveu o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que "as ligas de outros países tomem sérias providências, porque nós não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol".
As federações de Espanha e Brasil também mostraram seu repúdio pelo ocorrido e, como mostra de apoio, as seleções dos dois países farão um amistoso no dia 26 de março no estádio Santiago Bernabéu com o lema "Uma mesma pele".
Mas, antes do jogo, Vinícius Júnior terá que voltar a um estádio cujo comportamento será observado minuciosamente no sábado, e que medirá o controle do brasileiro sobre suas emoções.
"Não sou um santo, às vezes falo demais, dou dribles que não devo, faço coisas que não devo fazer, mas estou aqui para melhorar, quero melhorar", afirmou o jogador em janeiro, após o título do Real Madrid na Supercopa da Espanha.