Terminou nesta quarta-feira (7/2), em Barcelona, na Espanha, as audiências do julgamento do jogador Daniel Alves pelo crime de estupro. Ao longo da tarde, houve o depoimento de representantes periciais do caso além do próprio Daniel, que apresentou uma quinta versão sobre o ocorrido na data. Após os três dias de depoimentos, o Tribunal de Barcelona tem 20 dias para tomar uma decisão sobre o caso.
O jogador brasileiro foi o último a ser ouvido, como parte de um pedido da defesa, e afirmou em juízo que a relação sexual com a suposta vítima, em dezembro de 2022, foi consensual.
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Relatos de médicos e peritos
No começo da tarde, por volta das 15h (11h no horário de Brasília), foram ouvidos profissionais da área médica que atenderam a vítima na noite do ocorrido. Um deles relatou que jovem aparentava estar com medo e que as falas dela eram de "uma garota coerente (...), que explicava as coisas tal como havia vivido", conforme reportou o portal Sport, da Espanha.
Outro detalhe destacado na audiência foi um ferimento que a vítima tinha nos joelhos. Para os peritos presentes, o ferimento teria sido causado por um ataque ou queda e não pela prática de sexo oral, como afirmado pela defesa do jogador.
Um dos médicos relatou também que não foram encontrados ferimentos na vagina da vítima, porém isso não significa que não houve agressão. Para exemplificar, ele citou um estudo em que de 500 vítimas de agressão sexual, apenas 22% tiveram lesões vaginais.
Depois foi a vez de psicólogos forenses do Instituto de Medicina Legal da Catalunha (IMELC) darem os relatos sobre os encontros com a jovem que acusa Daniel. Para um deles, não havia “nenhum indício ou suspeita” de que ela “poderia estar exagerando ou simulando”.
Após vários testes, a psicóloga afirmou que ficou claro que estavam perante uma situação pós-traumática. Além disso, relatou que ela ficava nervosa sempre que ouvia palavras em português. Outros sintomas destacados pela profissional e que a jovem não conseguia controlar o estado emocional negativo persistente e um distúrbio do sono.
"Uma paciente que sofre de sintomas pós-traumáticos tão variados tem a sensação de que perde o controle de sua vida", disse a perita.
Defesa questiona falta de ferimentos
O mesmo legista foi questionado pela defesa posteriormente e contestou o fato da vítima não ter relatado nenhum tipo de lesão física. “Não se observa nenhum ferimento (...) Possivelmente a história da vítima não coincide com o que está detalhado no relatório médico que foi feito", afirmou. Para ele, com base os relatos, aparenta que a relação sexual não foi "tão traumática".
O legista disse ainda que nenhum sêmem teria sido encontrado na boca da mulher porque "provavelmente não houve ejaculação" e que seria difícil de detectá-lo por causa de lavagem e saliva.
Segundo o portal Marca, o perito teria comentado ainda que haveria um "DNA compatível com o de Daniel Alves", mas a amostra obtida seria de esmegma, secreção branca e pastosa que contém "muito mais carga genética" do que saliva e teria sido extraída da vítima três horas após o caso.
Para o especialista, como não houve restos de sêmem, provavelmente não teria ocorrido ejaculação.
Quando questionado pela defesa de Daniel, o perito afirmou que, dado o relato da jovem, faltariam ferimentos. "Ela fez um relato sobre tapas, agarramentos no pescoço... Mas não vemos nenhum ferimento assim em nenhuma parte do corpo".
Outro questionamento levantado foi de que ela sentia dor ao urinar e que, de acordo com o perito, em sua experiência, o faz pensar que a relação não foi "tão traumática".
Já a psicóloga forense da defesa afirmou que os testes feitos com a suposta vítima eram superficiais. "Se manteve a linha de que não iríamos explorar nada do que aconteceu. Poderia ter aprofundado mais, e as conclusões têm algumas lacunas".
De acordo com psiquiatras forenses, o consumo de álcool de Daniel naquela noite pode ter causado "comprometimento significativo das faculdades volitivas e cognitivas, diminuição do estado de alerta e incoordenação motora", disse a especialista.
Antes do depoimento de Daniel, foram apresentadas provas em vídeo na audiência, na qual a imprensa não teve acesso, e que mostraram cenas do dia em que tudo ocorreu.
Depoimento de Daniel
O jogador brasileiro Daniel Alves depôs nesta quarta-feira (7/2) e começou o relato relembrando o dia 30 de dezembro e o que ele e os amigos fizeram.
Ele contou ainda que quando chegaram na boate onde tudo ocorreu, foi um amigo dele, chamado Bruno, que chamou a suposta vítima e as amigas dela para onde eles estavam. "Ficamos dançando por um tempo a dançar mais próximo, começou a roçar suas partes nas minhas. Coloquei a mão e quando começou a tensão sexual, falei para ir ao banheiro, e ela disse que tudo bem", disse no jogador.
No banheiro, tudo teria ocorrido de forma consensual, segundo Daniel. "Lembro que ela sentou em mim. Não sou um homem violento. Não a forcei a praticar sexo oral. Ela não me disse nada. Estávamos desfrutando os dois e nada mais", afirmou também.
Ele revelou que a jovem se sentou na frente dele e que quando foi ejacular, ejaculou "para fora".
O jogador disse ainda que não viu mais a jovem e as amigas dela e que quando saiu da boate, percebeu que tinha bebido demais. Quando chegou em casa viu que a esposa estava dormindo e que ele dormiu logo depois.
"Estou dizendo o mesmo que das outras vezes. Soube pela imprensa que estavam me acusando", relatou Daniel. Ele também disse que revelou apenas a parte do sexo oral em primeiros depoimentos porque achava que a esposa poderia perdoá-lo.
Considerações finais
Por fim, a audiência entrou na parte de considerações finais em que falaram a promotora do caso, Elizabeth Jiménez, a advogada de acusação, Ester García, e a advogada de defesa, Ines Guardiola. Foi concedido o direito de Daniel Alves a falar por último também nas considerações finais, mas o jogador não quis acrescentar mais nada.
Após os três dias de depoimentos, o Tribunal de Barcelona tem 20 dias para tomar uma decisão sobre Daniel Alves. Se ele for considerado culpado, ainda poderá recorrer ao Tribunal de Apelação, mas terá de aguardar o novo processo na prisão.
A pena máxima para o crime de estupro na Espanha é de 12 anos de prisão. O Ministério Público pede nove anos de reclusão. A tendência é que, se condenado, o jogador tenha, no máximo, seis anos de cárcere. O motivo é o pagamento da defesa à Justiça, ainda no início do processo, no valor de 150 mil euros (cerca de R$ 800 mil).
A defesa do jogador pediu que ele aguardasse a decisão em liberdade provisória. “Solicitamos que seja acordada a sua liberdade provisória, com a retirada dos seus dois passaportes, o do Brasil e o da Espanha”, solicitou a advogada Inés Guardiola.
No entanto, o Ministério Públicou se opos ao pedido por considerar que ainda existe risco dele fugir do país. "Os elementos de risco de fuga ainda existem. A situação econômica abafada é um pouco marcante. A herança futebolística de Alves é muito alta, ele é um dos melhores jogadores da história. Ele ainda tem capacidade financeira ou amigos que a tenham. Insistimos que o Brasil não tem acordo de extradição. Agora que a possível condenação está tão próxima, o risco de fuga para nós é muito maior”, declarou o Ministério Público.
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