As Eliminatórias para a Copa começam hoje. A brincadeira tem fundo de verdade. O Pré-Olímpico ganhou esse peso para as enfraquecidas seleções das Américas. As bandas sul, central e norte do continente são hegemônicas no torneio sub-23 do maior evento esportivo do planeta. As medalhas de ouro ficaram com Argentina (2004 e 2008), México (2012) e Brasil (2016 e 2020) nas cinco edições dos Jogos disputadas neste século. Em contrapartida, os europeus dominam o Mundial no período. Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018) acumulam quatro conquistas contra duas do lado de cá do Oceano Atlântico. Uma pelo Brasil (2002) e outra pela Argentina (2022).
Quem vivia a obsessão de jamais ter pendurado a medalha dourada no pescoço estreia na segunda-feira no Pré-Olímpico cheio de planos pelo tri consecutivo em Paris-2024. Apenas Hungria e Grã-Bretanha ostentam o feito. Jamais um país conseguiu emplacar três ouros consecutivos. Portanto, a geração liderada por Ramon Menezes pode ser a primeira. Não será fácil. Dez seleções concorrem a duas vagas. Não há repescagem. A regra é clara.
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A primeira fase do torneio disputado na Venezuela tem dois grupos com cinco países. Os dois melhores de cada avançam ao quadrangular final. O campeão e o vice irão à França. O desempenho recente do Brasil em torneios de base é preocupante. No ano passado, a Seleção foi eliminada por Israel, nas quartas de final do Mundial Sub-20. Fracassou também no Sub-17. Foi despachada pela Argentina. Em contrapartida, subiu ao degrau mais alto do pódio sob a batuta de Ramon Menezes no Pan de Santiago-2023.
No papel, o Brasil tem um dos elencos mais fortes do Pré-Olímpico. O brasiliense Endrick, vendido pelo Palmeiras ao Real Madrid, e o carioca John Kennedy, autor do gol do título inédito do Fluminense na Libertadores, valem o ingresso. O plantel poderia ser melhor se a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) resistisse aos pedidos de dispensa em meio à crise política. O Internacional, por exemplo, deixou Ramon Menezes sem o zagueiro recém-contratado Robert Renan. O jogador é natural de Ceilândia.
Avaliado em 138,8 milhões de euros, o elenco com média de 20,4 anos não é garantia de sucesso. No campo das ideias, Ramon Menezes medirá forças com técnicos experientes. Atual campeão do Mundial Sub-20, o Uruguai é liderado por Marcelo Bielsa. El Loco levou a Argentina ao título do Pré-Olímpico e brindou o país com a primeira medalha de ouro nos Jogos de Atenas-2004. Carlitos Tévez era o símbolo daquela geração.
Javier Mascherano é o dono da prancheta da Argentina. Ezequiel Fernández e Cristian Medina disputaram a última Libertadores pelo Boca Juniors. Carrasco do Brasil nas quartas de final do Mundial Sub-17 ao balançar a rede verde-amarela três vezes, Claudio Echeverri foi chamado para disputar a competição depois de marcar cinco vezes em sete exibições na campanha do terceiro lugar no torneio disputado na Indonésia.
Adversário do Brasil na estreia na próxima segunda-feira, às 16h, no Estádio Brígido Iriarte, em Caracas, é comandado por Antônio Carlos Zago. O brasileiro assumiu a seleção da Bolívia recentemente nas Eliminatórias e usará o Pré-Olímpico para acelerar o processo de renovação para o principal objetivo do país: disputar a Copa do Mundo de 2026.
Os outros três concorrentes no Grupo A são traiçoeiros. Evoluíram. A anfitriã Venezuela foi vice-campeã do Mundial Sub-17 em 2017. O Equador, turbinado por divisões de base competentes, como a do Independiente del Valle, alcançou o terceiro lugar na categoria em 2020. A Colômbia é uma fonte inesgotável de talentos. Nos últimos tempos, virou rival em partidas quentíssimas, tal qual nas quartas de final dos Jogos do Rio-2016, em São Paulo.
Prestigiado pela conquista do ouro no Pan de Santiago-2023, Ramon Menezes superou a experiência frustrada no papel de técnico interino da Seleção principal, focou no Pré-Olímpico e está vacinado pela experiência do coordenador Branco para evitar vexames, como o de 2004, quando a trupe de Robinho e Diego fracassou na seletiva para Atenas.
"Quando eu cheguei aqui, disse a eles (elenco) que estava à frente de uma geração muito promissora e que um dos nossos desafios era incutir na mente desses atletas a competitividade. Os treinos foram bons nesse sentido, e o tempo também foi propício para fazermos algumas alterações. Todos aqui já sabem o que fazer e como fazer", avaliou Ramon Menezes em entrevista à CBF TV sobre o período de preparação.
O discurso motivacional lembra os discursos de Mário Jorge Lobo Zagallo. "Vestir a camisa da Seleção Brasileira já é uma grande responsabilidade, uma pressão. Estamos com uma confiança muito grande no trabalho. É passo a passo, é uma competição muito importante e muito difícil. "A gente vai tentar transmitir de todas as maneiras o que é o jogo de futebol brasileiro, o espírito e a atitude, a entrega da alma, como sempre foi nas últimas competições", promete Ramon Menezes.
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