Agora é mais do que oficial: Dorival Júnior é o novo técnico da Seleção Brasileira. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (11/1), na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro, o treinador falou pela primeira vez como comandante da amarelinha e assinou contrato válido até o pós-Copa do Mundo de 2026. Iniciando os trabalhos no novo papel na carreira, o atual campeão da Copa do Brasil pelo São Paulo agradeceu o apoio, parabenizou os antecessores e traçou os planos para a “Seleção do povo brasileiro”.
“É uma satisfação, estou sinceramente emocionado. Depois de tudo que eu vivi, de tudo que eu passei, principalmente nos últimos seis, sete anos, conseguindo vencer dois momentos de muitas dificuldades dentro da minha casa, do meu lar. A minha esposa com um câncer muito agressivo, logo em seguida eu também fui diagnosticado. Isso me fortaleceu ainda mais e pude repensar pontos da minha carreira. São praticamente 54 anos em que o futebol vive dentro da minha casa”, relembrou Dorival.
O treinador chega a CBF em um momento de instabilidade na entidade máxima do futebol brasileiro e já terá paradas duras pela frente. O primeiro compromisso será na data Fifa de março, com amistosos marcados contra Espanha e Inglaterra, e no meio do ano a disputa da Copa América, nos Estados Unidos.
Ainda assim, antes de entrar em campo, Dorival aproveitou para fazer o primeiro chamado como treinador do Brasil. "Estou aqui para fazer a primeira convocação: a do torcedor brasileiro. Que acredite mais na Seleção, que viva mais a Seleção. A partir de agora não é a seleção do Dorival, é a seleção do povo brasileiro", pediu o técnico.
O comandante chega para assumir a amarelinha após três treinadores nos últimos 13 meses, incluindo Tite, Ramón Menezes e Fernando Diniz. Na trajetória particular, Dorival passou por 20 clubes e conquistou três Copas do Brasil, uma Libertadores, uma Recopa e sete estaduais até assumir o posto máximo do Brasil.
“Hoje completo 20 anos de treinador. É uma carreira para a qual me dediquei desde o início, de corpo e alma. Não imaginava que pudesse acontecer num momento como este, até porque um grande amigo meu aqui estava, o Fernando, por quem eu tenho um carinho e um respeito muito grande. Hoje estou aqui representando a Seleção mais vencedora do planeta, a que inspira muitos no mundo inteiro e tem obrigação de voltar a vencer. O futebol brasileiro é muito forte, se reinventa. Não pode passar pelo momento que está passando. Que sirva de lição para que possamos encontrar um novo caminho”, reforçou Dorival.
Vivendo uma crise política e de volta ao cargo após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, não fez parte da coletiva e apenas abriu a cerimônia parabenizando o novo técnico e assinando o contrato válido até depois do próximo mundial.
“Hoje anunciamos o novo treinador da Seleção Brasileira, Dorival Júnior. Está neste momento consolidando um projeto vitorioso para a Copa do Mundo de 2026. Portanto, nesse momento nós vamos estar aqui, na presença de todos vocês, selando o contrato do período a partir de hoje e até pós-Copa do Mundo de 2026”, disse o presidente.
Na conversa com jornalistas na sede da CBF, Dorival falou sobre os planos na Seleção, a relação com Neymar, a saída do São Paulo e outros temas. Confira a seguir outras respostas da entrevista do novo técnico da Seleção Brasileira.
Momento da Seleção
Precisamos entregar uma seleção confiável, que passe credibilidade a todos nós. Peço de coração que o torcedor volte a participar do dia a dia da nossa Seleção. Convoco todos os profissionais que fazem parte do futebol, o futebol brasileiro precisa de cada um de vocês. Nós não podemos nos dividir entre uma seleção com nome de Felipão, Tite, Mano Menezes, Fernando Diniz, não, nós temos uma Seleção Brasileira. Então a partir de agora não é a seleção do Dorival, é a Seleção do povo brasileiro.
Nosso momento é difícil, mas nada que seja impossível de revertermos rapidamente. Eu conto com todos vocês para que o futebol brasileiro volte a vivenciar um grande momento. Estamos de braços abertos e na expectativa de que agora nós busquemos novamente o caminho das nossas vitórias, de conquistas, porque a Seleção Brasileira sempre se pautou pela excelência. Não tem culpados. Não tem interferências, não tem nada disso. O que nós precisamos a partir de agora é buscar soluções, não podemos ter um futebol brasileiro dividido, deve ser uma unidade, até porque estamos trabalhando em prol do povo brasileiro.
A Seleção na visão do Dorival Júnior
Eu acho que não é nem uma mudança de nomes. O que vem acontecendo de uma maneira gradativa em relação à Seleção que jogou a última Copa é uma mudança emocional, postural. Uma mudança que o atleta tem que entender que está aqui vestindo uma camisa muito pesada, respeitada e referência no mundo todo, temos que ter essa consciência. Se nesse instante, não estamos em uma posição adequada em relação à nossa classificação para a mais uma Copa, vamos tentar o máximo para reverter tudo isso. Primamos por ter um futebol vistoso, bem jogado, mas acima de tudo efetivo, não podemos deixar essas características. Temos que tentar manter o máximo possível, voltar a fazer grandes jogos, temos qualidade suficiente para isso. Todos nós temos que entender um pouco mais o que representa essa Seleção. Acima de tudo, que cada um assuma um pouco mais a responsabilidade quando forem convocados.
Legado dos outros técnicos
Tudo pode ser aproveitado e acredito que uma reciclagem acabe acontecendo e proporcionando dificuldades um pouco maiores. Finalizamos uma Copa do Mundo e logo em seguida iniciamos uma preparação para um momento seguinte. É natural que teríamos dificuldades. Não imaginávamos que enfrentássemos tantas nesse momento, mas não quer dizer que podemos buscar algo diferente. O futebol não muda, os comportamentos precisam ser repetidos. É muito diferente de um clube, que você joga hoje e amanhã já se reapresenta buscando correção de erros. Na seleção você praticamente se apresenta para jogar e vai ter de repente dois dias de jogo, cinco ou seis de treinamento. Todos encontram um caminho, temos que encontrá-lo também. Temos que acelerar esse processo. Esse é o grande desafio, buscar, rapidamente, ter uma equipe mais confiável, que passe essa segurança para nós.
Renovação na Seleção
Pode ser que tenha um treinador que tenha revelado mais jogadores, mas é muito difícil chegar ao número de atletas que dei oportunidade ao longo da carreira. Foi assim na minha primeira equipe, no Figueirense, exemplo é o Felipe Luís, como na minha última equipe, o São Paulo. Sempre contei com uma mescla que para mim é saudável e necessária em qualquer sentido para que tenhamos competitividade da equipe mantida. Não vai ser diferente. Para mim não importa, se o Thiago (Silva) estiver bem, ele terá oportunidade, é um grande jogador. Ciclos se encerram a partir de um momento que um outro esteja bem melhor, por isso temos que ter equilíbrio, consciência e, principalmente, busquemos os melhores de momento. Vou errar, de repente não convocando um ou outro, mas vou tentar trazer aqueles que estejam em melhores condições. Em alguns momentos por necessidade tática posso chamar algum jogador de confiança, mesmo que não vivencie um grande momento, mas na maioria delas vamos tentar trazer quem estiver nas melhores condições.
O estilo de Dorival na Seleção
Em todas as equipes, eu me adaptei à equipe, nunca cheguei com um sistema pré-estabelecido. Prefiro identificar o tenho à mão e, a partir daí, com as características de cada jogador, o sistema que vou empregar. Números para mim são relativos: 3-5-2, 4-3-3, para mim isso é balela. Quero defender com maior número possível e atacar da mesma forma, o equilíbrio para mim é fundamental e o principal. Se vamos encontrar rapidamente é difícil de falar, mas vamos tentar dentro das convocações. Muito difícil falar agora entre os sistemas do Fernando, do Ancelotti, até porque eles se desenvolvem em clubes e dentro de uma seleção é um pouquinho diferente. Por isso essa aceleração é fundamental e é o que vamos buscar a partir de agora para que na prática as coisas deem encaixe.
Saída do São Paulo
Eu tinha meu contrato no São Paulo, preparando a equipe para as competições, todos os jogadores contratados foram com a concordância da diretoria, não foi uma montagem do Dorival. Nós montamos o São Paulo para que o treinador que ali esteja possa fazer o que bem entender. São jogadores versáteis, buscamos alternativas para poder abastecer toda e qualquer situação ao longo das competições.
Garantia de estabilidade na CBF
O contato com o presidente foi no final da semana anterior. Para mim é um prazer e uma satisfação poder chegar neste momento da minha carreira à frente da Seleção. Sobre instabilidade política é um assunto que eu não entro. Tenho a confiança do presidente para fazer meu trabalho daqui para frente, preparar a equipe, visando ganhar jogos e voltarmos a uma posição dentro de uma Copa do Mundo que será muito disputada. Vou trabalhar neste sentido, me preparei muito para que isso aconteça, tenho uma convicção muito grande que a Seleção Brasileira vai alcançar seus objetivos e o principal deles será em três anos, vamos fazer de tudo para estarmos novamente na final.
Sensação de realizar o sonho
Estou muito emocionado. Eu nunca planejei minha vida, mas um dia eu esperava muito poder estar aqui. Eu vi muitas entrevistas dos meus técnicos, Leão, Parreira, Felipão, e dos meus amigos que estiveram aqui, como Fernando, Tite, Mano, professor Lazaroni. Um dia imaginava que poderia estar aqui representando o povo brasileiro como treinador da sua equipe. Para mim tem sido dias importantes, mas a partir de segunda-feira, o presidente vai começar a me cobrar, então podem ter certeza que já vamos acalmar e começar a focar no dia a dia da Seleção.
Críticas de que fazia só o feijão com arroz
Eu fico muito tranquilo. Minha primeira equipe, o Figueirense, depois a quarta equipe, o Sport, a décima equipe que foi o Santos de 2010, a penúltima o Flamengo, a última o São Paulo, nenhuma delas jogavam da mesma forma. Então esse feijão com arroz tinha sempre um tempero diferente de cada estado e para mim sempre foi um desafio. Eu vivenciei os dois lados, ajudei a salvar seis equipes do rebaixamento e cheguei a decisões importantes de competição. Não voltei três vezes ao Flamengo, duas ao Santos, duas ao São Paulo, ao Vasco, por acaso, foi porque deixei algo plantado. Se foi um feijão, ou se foi um arroz, eu acho que agradei, porque retornar é muito difícil. Em algumas eu havia ganho campeonatos, em outras não, então algumas coisas ficaram de bom para poder voltar.
Recuperar a autoestima da Seleção
Acho que tudo vai acontecer de maneira natural. A recuperação não se dá da noite para o dia, mas o mais importante é encontrar uma estrutura que facilite essa recuperação. Eu sei que foram resultados complicados, o momento foi complicado, eu imagino o esforço que o Fernando tenha feito para encontrar soluções e às vezes com toda a entrega não consegue encontrar aquilo que você queira. Vamos fazer o melhor e pode ter certeza que vamos encontrar um caminho, um equilíbrio para a partir daí termos outra conduta em busca da nossa classificação e da disputa direta por mais um título.
Quando começou a sonhar com a Seleção e o sonho virou realidade
Em duas ou três oportunidades, meu nome foi ventilado e acabou não acontecendo. Quando surgiu dessa vez, da maneira como foi, também imaginei que fosse uma especulação natural de mercado pela saída do Fernando. De repente, se concretizou. Para mim, não criei expectativa, como havia criado anteriormente, é um fato natural como ser humano, você está envolvido. Mas procurei não criar expectativa e a partir do momento que recebi uma chamada, aí sim as coisas mudaram um pouco. Era um sonho, era o objetivo. Eu não saí do São Paulo, não troquei o São Paulo. Estou vindo para uma Seleção, não é um convite, é um chamado. Nenhum profissional em sã consciência deixaria de atender, todos que tivessem na mesma situação tomariam a mesma decisão.
Crise do futebol brasileiro
O futebol é muito dinâmico, o céu e o inferno estão a um palmo de distância. O importante é que foquemos mais e estejamos determinados. Falo isso pensando em uma pré-convocação, que os jogadores venham com uma outra mentalidade, porque o momento exige e precisamos mudar esse quadro. O futebol brasileiro se reinventa com velocidade, então restabelecendo esses fatores vamos fatalmente vamos lutar por mais uma decisão. Nossa doação tem que ser um pouco maior, até porque trabalhamos para e pelo futebol.
Problemas com Neymar
O Brasil tem que aprender a jogar sem o Neymar, entendendo que agora ele tem uma lesão, mas nós sabemos que temos um dos três maiores jogadores do mundo neste momento e temos que aproveitar. O Neymar é um jogador muito importante, desde que recuperado, em condições e totalmente focado. Não tenho problema nenhum com o Ney, a proporção que aquela situação (briga no Santos em 2010) tomou foi desproporcional, após aquela partida nós já estávamos conversando. A diretoria do Santos tomou uma decisão e eu respeitei, mas com o atleta nunca tivemos problema, sempre que nos encontramos foi uma situação positiva.
O maior desafio
A recuperação da confiança vai acontecer com treinamentos, com jogos, vitórias, é natural. O principal desafio é trazer o torcedor para mais perto da seleção. É um trabalho de formiguinha, que queremos de todos vocês, por isso convoco cada um que queira participar para em três anos estejamos passando por um melhor momento.
Comissão técnica e conversa com Fernando Diniz
Não conversei ainda com o Fernando (Diniz). Com relação à comissão, venho conversando com o presidente. É um momento em que eu preciso ter ao meu lado pessoas que também confio, com quem já trabalhei. Algumas funções serão necessárias, dentro da liberdade que ele me deu, não que os que estão aqui dentro não sejam profissionais. Preciso ter pessoas ao meu lado com quem já tive momentos positivos e negativos. Algumas situações, com certeza, precisaremos intervir. O presidente me deu liberdade, mas com responsabilidade com os profissionais que aqui estão e com aqueles que poderão chegar.
Desfalcar times brasileiros na Copa América
Sofri bastante com tudo isso, mas nunca tirei a possibilidade de um profissional estar à frente do seu maior sonho. Em 2016, o Santos disputando a ponta do Campeonato Brasileiro e de repente nas Olimpíadas perdemos Gabigol, Zeca e Thiago Maia. Na sequência, Copa América, mais três jogadores do Santos convocados. Foi um problema muito sério, e o Santos ainda conseguiu um vice-campeonato daquela competição. Sei o quanto pesa a saída desses jogadores, mas o quanto são importantes na Seleção. Temos que ter equilíbrio entre a necessidade e a vontade do seu clube. Mas não é fácil. Já vivi o outro lado e agora vou ter que pensar dessa forma e me colocar na situação do outro treinador, do lado oposto. Não são situações fáceis.
*Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima
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