Brasília está habituada aos holofotes quando o assunto é basquete. Dos títulos nacionais ao celeiro de craques, a cidade é casa de três taças do Novo Basquete Brasil (NBB) e local de nascimento do único representante brasileiro na NBA atualmente, o ala Gui Santos, do Golden State Warriors. Agora, o quadradinho também desempenha um papel diferente na história do novo talento e esperança do Brasil para alçar grandes voos no mundo da bola laranja: Patrick Otey.
Filho de mãe brasiliense com pai estadunidense, o jovem de 16 anos tem um pé no Distrito Federal e outro em Boston, onde mora com a família desde o nascimento. Do alto dos 1,91m de altura, ele representou a Seleção Brasileira na Copa América sub-16 e terminou a competição como cestinha, com 14,5 pontos de média. Na terra do Tio Sam, Otey é o número 5 do país entre atletas da idade e aproveitou as férias para fazer um camp em Brasília, na última semana, com jovens entre 13 e 17 anos para uma imersão de três dias de basquete.
"Nos Estados Unidos, a maioria dos jogadores estão no mesmo nível de habilidade, com mais conhecimento do jogo e dos fundamentos, além da altura, que é algo genético. Já no Brasil, é um pouco diferente. Por isso, quis fazer esse camp para mostrar um pouco do basquete americano e ter esse intercâmbio com o pessoal. Quero ajudar a criar um caminho para os brasileiros virem jogar nos Estados Unidos, seja no nível acadêmico ou profissional", conta o atleta, ao Correio.
Esse tipo de evento para treinamentos é muito comum nos Estados Unidos, muitas vezes promovidos por estrelas da NBA. A ideia de fazer um em Brasília veio da mãe, Ilana, nascida na capital, e contou com a ajuda do empresário Wankes Leandro, da Peripécia Digital. A matriarca, inclusive, é responsável pelo apelido pelo qual o filho é conhecido na Seleção, Perna, que na realidade é o outro sobrenome de Patrick.
Entre as visitas frequentes ao solo brasileiro, Patrick está começando a aprender mais a falar português, principalmente para ter o idioma na ponta da língua na interação com companheiros da Seleção de base. Convocado para representar o Brasil, a escolha por vestir a camisa amarelinha foi para unir o melhor dos dois mundos.
"Tenho minha vivência na escola brasileira e estadunidense. Se pegar um pouco de cada e juntar em um só, acredito que seria uma combinação única e que pode me acrescentar muito dentro de quadra. Sou metade brasileiro. Então, sempre quis explorar mais esse meu lado", diz o jogador.
A torcida de Patrick é que no futuro possa olhar para a trajetória na carreira e tenha se tornado um exemplo para os novos jogadores do país, assim como Gui Santos é para ele. Além de compartilharem uma relação com Brasília, o jovem quer seguir os passos do jogador do Warriors e chegar na NBA.
"Quero ser o próximo Gui Santos, algumas pessoas até dizem que nós parecemos um pouco, pelo cabelo, o físico. Ele é meu ídolo. Quero jogar na elite, assim como ele, mas sei que existem muitos níveis para ser profissional. Tem opções na G-League, na Europa, e jogar basquete é o que eu amo fazer. Então, quero poder entrar em quadra profissionalmente, seguir aprendendo e fazendo eventos como esse em Brasília, para repassar esse conhecimento para as novas gerações que vierem depois", declara.
Atuar no Brasil também pode ser uma opção para Patrick. O jovem diz assistir pouco do basquete nacional, mas gostava de acompanhar jogos do São Paulo durante a passagem de Bruno Caboclo pela equipe, além dos candangos Cerrado e Brasília. Ainda assim, ele não esconde que o foco principal sempre será a NBA, apesar da pressão.
"É meu grande objetivo. Sinto um pouco disso (pressão), mas na verdade é mais como um nervosismo do que pressão em si. Sei que trabalho duro para estar no meu melhor e que jogo esse jogo o tempo inteiro, então tento mentalizar isso e manter a confiança que sou bom para fazer o que é preciso", reforça Otey.
Agora, o foco de Patrick continua a ser o aprendizado dentro e fora das quadras. De um lado, o objetivo é evoluir no jogo, do outro a meta é ficar craque também no português. Atualmente ele assume que sabe mais palavrões e cumprimentos, mas promete evoluir cada vez mais na língua e deixa o recado: "sigam em frente, um dia a sua hora vai chegar". Enquanto isso, o Brasil fica na torcida.
*Estagiário sob supervisão de Danilo Queiroz