Política esportiva

Do recurso de Ednaldo ao palanque eleitoral: a guerra política na CBF

Presidente destituído escala Dream Team de advogados liderado por ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff. Nos bastidores, Flávio Zveiter surge como favorito para assumir a entidade caso haja eleição

Tite anuncia o fim do ciclo pessoal na Seleção em 25 de fevereiro de 2022, nove meses antes antes do início da Copa do Mundo do Catar. Ednaldo Rodrigues ganha a eleição na CBF sabendo, em 23 de março daquele ano. Seiscentos e vinte e oito dias depois da posse, o cartola não tomou a decisão mais importante na lituurgia do cargo: o técnico definitivo do Brasil para a caça ao hexa 2026. A lentidão contrasta com a celeridade em defesa do trono. O dirigente convocou rapidamente uma seleção de nove advogados capitaneados pelo ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, para apresentar o contra-ataque no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao parecer do Tribunal de Justiça do Rio de destituí-lo da entidade. O Dream Team conta, ainda, com um sobrenome famoso. Rafael Barroso Fontelles é sobrinho do recém-empossado presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso. Igor Sant'Anna Tamasauskas, Pierpaolo Cruz Bottini, Gamil Föppel el Hireche, Gabriel Oliveira de Melo, Renato Fais, Otávio Ribeiro Lima Mazieiro e Giovanna Santos Beneton completam a "seleção".

A contestação contém 42 páginas. Foi protocolado às 17h35 de ontem endereçada à ministra do Superior de Justiça (STJ), Maria Thereza de Assis Moura. Em 16 meses no cargo, ela teve de lidar com alguns temas vinculados ao futebol. No mês passado, o Flamengo pediu indenização por perdas na meia entrada nos jogos e perdeu. O caso de estupro de Robinho na Itália também vai e volta à mesa da “discreta, trabalhadora e zelosa pelo cargo” nas palavras de um dos amigos da magistrada de 67 anos.

A resposta do STJ pode significar a volta de Ednaldo Rodrigues ao poder depois da nomeação do presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), José Perdiz, ao papel de interventor na entidade máxima do futebol brasileiro, ou consolidar o interino. Neste caso, ele terá de convocar eleições em 30 dias.

Motivo: em 2018, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) moveu uma ação contra a CBF. Entendia que o estatuto da entidade descumpria a Lei Pelé, cujo texto previa peso igualitário no colégio eleitoral entre as 27 federações, os 20 clubes da Série A e os 20 da B. Del Nero havia mudado. Atribuiu peso três às entidades estaduais (base de sustentação), dois aos times da primeira e um para os da segunda divisão. Enquanto a ação contrária a isso corria, Rogério Caboclo caiu sob acusação de assédio moral e sexual contra uma funcionária. Em 5 de outubro, o ex-dirigente foi inocentado pelo STJ.

Vice mais velho à época do escândalo, Ednaldo Rodrigues assumiu a CBF interinamente. Agiu rapidamente e negociou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPRJ. O pleito anterior, de Caboclo, tornou-se inválido. Ednaldo convocou outra eleição, concorreu e triunfou nas urnas por aclamação. Os vices Gustavo Feijó e Castellar Neto sentiram-se prejudicados. Perderam o mandato com Caboclo e acionaram a Justiça questionando o TAC. Para eles, Ednaldo fazia parte do combo de vices, deveria ter saído e não tinha legitimidade para se candidatar — e muito menos assumir em definitivo. Alegaram, ainda, que o juízo de 1º grau não tinha competência para homologar o acordo. O interino resistiu, herdou a caneta de Caboclo e a ação de Feijó e Castellar parecia adormecida, porém saiu das gavetas com força depois de articulações de dois ex-presidentes banidos do futebol pela Fifa: Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero.

O desfecho do Caso Ednaldo Rodrigues mexe com o tabuleiro de xadrez político do futebol brasileiro. O próprio Ednaldo e outros personagens atacam o colégio eleitoral formado pelas 27 federações, os 20 clubes da Série A e os 20 da B. Antes, é necessário o apoio de oito federações e de cinco clubes para protocolar a candidatura.

Uma fonte indica ao Correio o possível favorito à sucessão: “Jogaria minhas fichas no Flavio Zveiter”. O carioca de 42 anos contribuiu com Ednaldo Rodrigues na função de vice-Presidente de Desenvolvimento e Projetos e pediu demissão depois de romper com o cartola. Foi membro do Comitê de Ética da Fifa e presidente do STJD. É filho de Luiz Zveiter. Os outros nomes fortes são Francisco Noveletto, ex-presidente da Federação Gaúcha e um dos vices destituídos; Rubens Lopes (Federação do Rio) e Reinaldo Bastos (São Paulo). Castellar Neto, ex-da Federação Mineira, não é descartado.

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