O Brasileirão de 2023 será lembrado por quatro fatos distintos, envolvendo três clubes cariocas e um paulista. Eles protagonizaram trajetórias tristes, mesmo que três delas tenham sido recompensadas, embora seja discutível taxá-las de premiações.
O Botafogo fez um primeiro turno praticamente irretocável. O suficiente para convencer a quase todos, inclusive seus próprios e supersticiosos torcedores, que a conquista do título era questão de tempo. São muitas as teorias sobre a perda. Na realidade, o Alvinegro desandou de vez após o chilique ridículo de John Textor após a derrota de 4 a 3 para o Palmeiras, que não teve influência de arbitragem. A atitude desestabilizou a todos, e comprovou o desconhecimento e a inexperiência do cidadão em relação ao futebol. A propósito, as muitas trocas de treinadores também prejudicaram o caminho. Afinal, as instruções e mudanças em penca não têm nenhuma utilidade, como ficou evidente. Restou, como consolo, a vaguinha na pré Libertadores.
O Flamengo fez a bobagem desmedida de contratar dois protótipos de técnico, Vitor Pereira – o que é Vitor Pereira? – e Jorge Sampaoli, incapazes de administrar grupos e problemas do cotidiano. Assim, jogou no lixo as oito competições que disputou: Taça Guanabara, Estadual, Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana, Mundial, Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil. E o lugarzinho na fase de grupos do torneio continental só ocorreu pela incompetência do… Botafogo. Na realidade, ou quase nada, diante de um orçamento milionário, um centro de treinamento de Europa e uma torcida fanática e gigantesca.
Brasileirão para esquecer
E, no entanto, a nota mais triste do Brasileiro de 2023 foi a queda do Santos para a segundona pela primeira vez em sua gloriosíssima história. Parece que Pelé estava adivinhando. Ele, que comandou o clube que colaborou – e muito – para tornar o Brasil conhecido em todo o mundo, e fez o Peixe eventualmente maior que a própria Seleção, antecipou a sua despedida antes de testemunhar tal vexame.
Os jovens não podem ter idéia de como é difícil acreditar que o Santos, símbolo do próprio futebol nas décadas de 1960 e de 1970, não faça mais parte da Série A. O clube paulista teve 11 craques, um time inteiro, entre os tricampeões mundiais de 1958, 1962 e 1970. Carlos Alberto Torres (1970), Clodoaldo (1970), Coutinho (1962), Edu (1970), Gilmar (1962), Joel Camargo (1970), Mauro (1962), Mengálvio (1962), Pelé (1958, 1962 e 1970), Pepe (1958 e 1962) e Zito (1958 e 1962).
Mesmo em anos mais recentes, o Santos obteve uma sequência de sete títulos regionais, além de façanhas nacionais e internacionais – de 2006 a 2016. Mas as dificuldades financeiras e as trapalhadas administrativas afastaram pouco a pouco o clube das primeiras posições tão comuns em sua existência. O passado fantástico e a condição de gigante não morrerão. Mas será obrigado a dar a volta por cima em cenário desconhecido para regressar ao mundo dos vivos.
Alguém dirá que a conquista do Palmeiras também foi um fato marcante. Foi. Mas o Alviverde soube – mais uma vez – driblar as crises e eventuais desacertos que enfrentou ao longo de 2023, como fez em anos anteriores, para continuar no topo. E terminou o Brasileiro pela porta da frente.
Siga o Jogada10 nas redes sociais: Twitter, Instagram e Facebook.