Quando a cerimônia começa e as inúmeras câmeras de transmissão são ligadas, o foco de toda premiação, claro, é reconhecer os destaques de um determinado segmento. No Prêmio eSports Brasil, marcado para quinta-feira (14/12), às 21h, isso não é diferente. No entanto, meses antes de chegar o dia escolhido para o tapete vermelho ser estendido, a equipe de produção do PeB atua de maneira constante e importante não apenas no mapeamento de quem receberá as honrarias, mas na abordagem de causas de diversidade e de inclusão tão importantes quanto. Head do evento, Marina Stoll é a personificação de tal objetivo.
"A gente acredita que o prêmio é, além de um porta-voz do cenário competitivo, somos porta-vozes de causas e estamos sempre abertos a elas", explica. E assim é. Na edição de 2023 do PeB, diversas modalidades de uma comunidade infinitamente extensa vão estar no foco dos holofotes. A valorização do cenário feminino, no entanto, têm tudo para roubar a cena. Isso começa na composição do super juri responsável por definir indicados e vencedores. Na composição do quadro de especialistas, houve um acréscimo de 20% na presença de mulheres. No palco, a atuação delas é notável a cada edição.
Quando o evento começar na quinta-feira (14/12), duas figuras importantes da comunicação do Brasil vão mostrar a força conquistada pelas mulheres no PeB. Apresentadora de todas as edições da premiação, Nyvi Estephan vai estar ao lado de Sabrina Sato na condução da entrega dos prêmios. Uma perfeita união de sinergia entre a comunidade gamer e o público geral. Fenômeno crescente a cada ano do evento, a presença de jogadoras no palco no status de premiadas tem tudo para ser bastante expressiva nas 25 categorias em disputa.
Em entrevista exclusiva ao Correio, a Head do PeB traz um panorama de outros detalhes da preparação para a cerimônia de gala do cenário dos eSports no Brasil. Marina celebra o crescimento e o alcance em números da premiação e do evento competitivo Multiplataform eSports Games (MEG). Realizado em novembro, o MEG impactou 45 milhões de pessoas. No PeB, há alta expectativa no mesmo sentido. Com mais troféus em jogo, a premiação vê a expansão sair do papel e adentrar na realidade a cada ano. "Essa crescente é vital para o projeto e não tem como não fazer", ressalta Marina.
Na conversa com a reportagem sobre as expectativas para a edição de 2023 do PeB, Marina Stoll garante duas nuances: a abertura de portas para a nova geração de gamers e muita emoção. O restante fica reservado com surpresa para o palco do Memorial da América Latina, em São Paulo. A cerimônia terá transmissão ao vivo do SporTV 3, do Globoplay e das plataformas oficiais do evento nas redes sociais. Na segunda tela, a comunidade poderá acompanhar os detalhes do tapete vermelho por meio do canal oficial da Flow Games, no YouTube, do Twitch do PeB e do Twitch da Player1.
Entrevista - Marina Stoll
- Em novembro, foi realizada mais uma edição do Multiplataform eSports Games (MEG). Qual o saldo?
Marina Stoll: Esse ano foi espetacular. Vem numa ascendência bacana na representatividade do cenário de eSports. É único no Brasil e junta uma porção de modalidades e comunidades diferentes. A quantidade de TV teve impacto em mais de 45 milhões de pessoas. É um número bastante maior do que o do ano passado. Alguns pontos importantes favoreceram esse resultado. O aquecimento do mercado aqui mesmo no Brasil. Costumo dizer e acredito que trabalhar com eSports cada um faz sua pequena parcela. A somatória dessas iniciativas justificaram uma ascendência bem grande no projeto. Foi muito bacana.
- E o MEG é sempre uma porta de entrada para o competitivo...
MS: Não só o projeto abrindo portas para a comunidade em termos de oportunidade. Atletas quase crianças que você acompanha a trajetória ao longo do ano e sabe que não é fácil. Atletas que não são de organizações e dependem deles mesmos. Quando você fica de perto com essas histórias, é ainda mais apaixonante. O MEG é meu projeto do coração. Traz uma motivação muito forte. Eles são engajados, acompanham cada passo... é bacana de ver não só como isso beneficia a grande legião de fãs do cenário, mas gera oportunidade para o atleta que vem em uma carreira solo sem patrocínio. Um amador, mas com toda a condição de se tornar um pro-player. Chega no MEG e consegue essa chancela. A gente chora junto, participa junto. É um projeto feito para a comunidade e pela comunidade.
- O que esperar do MEG para 2024? Há uma pressão de superar o resultado anterior?
MS: Não vai ser uma tarefa difícil. É continuar o trabalho. Entendemos que estamos no caminho certo. O projeto teve uma aceitação maravilhosa no mercado. Estamos indo para o terceiro ano. É continuar o trabalho e expandir cada vez mais. Modalidades, chances de competir ao longo do ano. O caminho foi descoberto, agora é trilhar com essa resiliência ao longo do ano. O projeto 2024 está saindo do forno. Acaba um, fazemos a análise de resultados. É importante ter. É trazer tudo aquilo que pode melhorar, crescer, pontos importantes para favorecer a comunidade. Esse momento de análise é importante para traçar as metas para o próximo ano e já começar o planejamento criativo, estratégico, funcional, colocar o produto no mercado. Realmente, é um projeto de 12 meses.
- Como está a organização do PeB? O que está sendo preparado para a comunidade?
MS: Estamos com grandes expectativas. Notei um turn over bacana, muito atleta novo que está chegando agora. E em um nível alto competitivo para passar pelo crivo do nosso corpo de super juri, vencer várias etapas e não ter nem 18 anos. É uma quantidade de atletas menores de idade. É muito gratificante. É uma quebra de tabus, uma geração de oportunidades, o mercado aquecido, as orgs olhando de uma forma de trazer novos nomes. A gente vê um espaço bacana sendo fomentado.
- Antes de seguirmos nos detalhes da edição, queria abordar a percepção de que o PeB busca sempre estar alinhado com temas de diversidade, inclusão. Como funciona o debate interno dessas pautas e sobre o que vai ser abordado nesse sentido a cada edição?
MS: É uma pauta importante para a gente. Tão importante quanto a parte da competitividade, quando a gente forma nosso super juri para ter nomes técnicos em cada uma das modalidades que a gente traz. Queremos ter, também, diversidade. Então, a matemática que a gente está sempre tentando equiparar, porque muitas vezes não é fácil. Na parte da valorização e inclusão das mulheres, a gente teve resultados melhores em termos de formação de super juri. Representa dentro do nosso corpo. É um projeto ainda em total construção dentro do prêmio. Aliamos isso na parte de competição e, muitas vezes, não conseguimos chegar na equação desejada. A gente acredita que o prêmio é, além de um porta-voz do cenário competitivo, somos porta-vozes de causas e estamos sempre abertos a elas. Isso está em constante evolução para discussões, pautas. Além de trazer o competitivo, abrir espaço para ser um porta-voz dessas questões através das marcas que temos envolvidas. O Itaú (um dos patrocinadores) tem isso como um pilar de diversidade. É um processo que estamos trabalhando e nos deparamos com questões que não são fáceis juntar através do nosso corpo de super juri.
- Esse ano houve um aumento de mulheres no super juri. O número de premiadas sempre cresce. A valorização do cenário feminino é algo muito notável no PeB. Como você avalia a caminhada nessa missão?
MS: Muito importante para a gente e para o cenário todo. É olhar para a causa de perto. Trazer para dentro, questionar, entender as mudanças que estão ao nosso alcance. Lembro que eu estava em uma roda de discussão conversando com outras mulheres sobre diversidade e questionamos o quão é importante cada um dentro do cenário fazer sua parte. O PeB premia os melhores do cenário, mas temos iniciativas privadas e públicos, projetos sociais, e outras iniciativas encorpando o cenário. Conseguimos ver esse resultado no palco do prêmio. Não é uma ação única e exclusiva. É em conjunto com o cenário. Cabe cada gestor olhar para a causa e propor soluções efetivas. Além de aumentar a representatividade de mulheres dentro do prêmio, fizemos uma alteração nas categorias de atleta revelação e revelação feminina. Não há um grupo de jurados para votarem nela. Todas as mulheres votam nessa categoria. Isso faz com que fomente melhor, com que essa revelação que ainda não conhecia todo o corpo de juri vai passar por esse crivo, vai olhar essa atleta de perto para analisar. É uma forma de fomentar ainda mais e diversificar.
- O PeB vai além do dia da premiação. Nesse ano, vocês lançaram o PeB Cards abordando justamente a experiência feminina no mundo dos games. Como o prêmio encara essa missão de apresentar à comunidade esse lado do cenário pouco explorado? Há planos de expandir esse projeto?
MS: Temos intenção de expandir o projeto e trazer essas vozes para a comunidade de minorias. Faz parte dos pilares da empresa. É muito latente essa questão. Tivemos questões de jogadores do MEG que a gente teve que fazer um processo de exclusão por alguns comentários que poderia trazer a tona racismo e outros comportamentos. Por mais que não tenham acontecido dentro do nosso projeto, nas partidas do MEG, entendemos que esse comportamento precisa ter uma penalidade. Não é aceito. Não é porque foi no vizinho que não vai prevalecer o que acreditamos.
- No ano passado, houve a criação do Comitê de Diversidade do PeB. Houve evolução?
MS: O ideal para nós é que o nosso corpo de jurados fosse um grande representante dos nossos indicados. Mas nem sempre isso é possível, porque precisamos prevalecer o aparato técnico. Estamos em busca de uma estratégia que não seja só uma escuta. O prêmio pode ir além disso. Podemos fazer mais. Entender uma mescla de como a gente consegue trazer efetivamente. Conseguimos ir além. Em relação ao Comitê, não sentimos que efetivamente possa fazer um resultado... nosso corpo de jurados faz a indicação. O prêmio oferece um regulamento. Neste ano, fizemos um trabalho direto com os jurados dos pilares, da diversidade e não somente os critérios técnicos. Fizemos um trabalho para o jurado olhar o mercado. Foi um trabalho interno. Entender como isso vai se representar nas indicações. Ter um comitê de diversidade e gerar um produto como o PeB Cards, a gente fica muito no espaço de escuta e podemos ir além. Esse ano foi um trabalho de ser direto com o super juri, entender como funciona, aumentar o número de mulheres no prêmio. Só o resultado desse ano vai dizer a conduta mais forte em termos de diversidade na próxima edição. Ver os frutos e como o PeB pode estar em constante evolução.
- Tem alguma questão sensível dentro da comunidade de games que o PeB ainda não tenha abordado e que esteja no radar de vocês para as próximas edições?
MS: Tem uma questão que nos dois projetos cabe. O cenário é maior do que o que a gente traz em termos de cenário competitivo que trazemos no MEG e maior na questão de premiação em relação ao PeB. Temos a vontade de ter aquele coração de mãe, onde abrangimos 50 modalidades no MEG e uma porção de categorias no PEB. É sempre uma questão que trazemos sobre como a gente consegue dar voz, oportunidade, visibilidade e trazer todos para perto de uma forma igualitária. Eu teria que pensar em uma questão que está na caixinha. Não vejo nada muito sensível que não pudéssemos abordar.
- Voltando para a edição deste ano... Houve um aumento de categorias. Como vê a importância do prêmio se expandir a cada ano para abraçar melhor a comunidade? É um desafio que vocês chamam para si?
MS: É vital para o prêmio. Não só o aumento, mas acompanhar o que está fazendo sentido naquele momento no cenário competitivo. Tem que fazer parte da nossa pauta. A gente quis trazer o streamer revelação para dar oportunidade para aquela pessoa que está chegando. Aos aspirantes. Faltou um pouco e estava muito latente. O Fortnite, que tem uma legião imensa de competidores e fãs. Não tinha como fazer parte só de outras modalidades. Era o momento de ter uma visibilidade específica. É vital. Não só para quem estar no cenário das luzes, mas esse backstage. Faz muito sentido olhar para o cenário todo. Essa crescente é vital para o projeto e não tem como não fazer.
- Quais os spoilers do PeB teremos nessa entrevista?
MS: Posso dizer que a emoção vai ser grande. Estamos com muita expectativa. Já dei o spoiler de ter nomes novos e é uma coisa muito interessante para a gente. A nova geração é muito importante mesmo.
- Um detalhe que me chama a atenção é que a cada edição a gente vê sempre algum detalhe novo no PeB. Como é para vocês essa digamos missão de colocar as mentes para funcionar em busca de sempre trazer algo inédito no evento?
MS: O maior desafio é englobar tudo. Ficamos querendo fazer 12h de prêmio e incluir todas as modalidades. Estudamos formatos esse ano. Entrega umas antes e outras depois para englobar cada vez mais. É uma missão que não tem como não trabalhar por esse viés. O prêmio precisa representar o que está acontecendo. Modalidades, jogos, categorias... mas precisa dar chance aos novos. Trazer mais uma categoria foi muito importante para a gente. Você tem que olhar não só para o cenário competitivo. Às vezes, você está premiando sempre os mesmos atletas e precisa prestar atenção nisso. Gerar oportunidade e poder abrir uma nova frente para dividir. Separar o cenário feminino. Precisamos acompanhar o tempo inteiro e entender como a comunidade está se construindo. Como está acontecendo e representar da melhor forma no palco.
- No ano passado, você disse a seguinte frase: "nossa meta é melhorar cada vez mais e, de forma transparente, aproximar o prêmio da comunidade". Acredita estarem no caminho certo desse objetivo?
MS: Estamos. Concordo 100% com essa frase, mas ela não é um ponto final. Podemos colocar reticências, pois o grande trabalho é continuar fazendo. Não pode ser engessado.