Basquete

Armador Matheus Buiú, do Cerrado, sofre racismo em jogo do NBB

Nos instantes finais da vitória sobre o Minas, líder do campeonato, o argentino Copello proferiu termos racistas ao atleta alviverde, que registrou boletim de ocorrência; clube mineiro se dispôs em investigação

A vitória do Cerrado sobre o Minas pelo Novo Basquete Brasil (NBB), por 68 x 67, nesta quarta-feira (6/12), custou além dos fatores esportivos e não parou na quadra de jogo da Arena UniBH, em Belo Horizonte. O armador Matheus Buiú foi vítima de racismo nos instantes finais da partida, cometido pelo armador argentino Nicolás Copello.

O próprio jogador da equipe candanga relatou à assessoria de imprensa o caso em detalhes, em áudio de acesso exclusivo do Correio. "No segundo tempo, ele começou a me agredir com cotoveladas e chutes, deu tapa na minha cara. Isso não me afeta, continuei jogando. Estava determinado a ganhar. Só que nisso, ele continuou, eu falei com a arbitragem, até que eu cavei uma falta de ataque onde ele me empurrou no peito com as duas mãos", diz, no princípio.

Entretanto, o estopim das agressões teve parte no lance decisivo da partida, que marcou a vitória do time da capital federal. "Quando o Gui (Santos) pegou a bola com dois segundos (para o fim do jogo), sofreu a falta e ele foi bater o lance livre aí ele veio para o meu lado, conversar. Perguntou o que eu já tinha ganho na minha vida, o que eu era, onde eu joguei. Eu disse que não fiz nada ainda, estou construindo minha carreira, sou novo", relata.

"'Então cala sua boca, você está falando muito', e eu disse que eu falo com ele na mesma altura. Do jeito que ele respeita, eu respeito de volta. Aí ele riu da minha cara e falou 'negro de m*', saiu com cara de deboche. Nesse momento eu já fui ao árbitro, fui na mesa, não dava para continuar. Disse ao Gui para não bater o lance livre. Eu não aceito isso", declara. A partida não teve continuidade após o ocorrido.

Matheus ainda indica que companheiros do argentino saíram em defesa do agressor. "O Paranhos e o Gemerson vieram na minha direção e disseram que ele jamais faria isso. Ele (Copello) disse que tinha amigo preto e não faz isso. Na hora que ele falou isso, tive a confirmação de que ele é racista. Se fosse uma mentira minha, uma coisa errada, me diriam que eu estava louco. Mas apenas negaram. Teve um breve empurra-empurra depois", completa.

Após deixar o ginásio, o atleta registrou boletim de ocorrência em uma delegacia da cidade. O camisa 14 alviverde foi um dos destaques no triunfo sobre o líder do campeonato, com 18 pontos e quatro assistências, sendo o segundo principal anotador do time atrás do ala Gui Santos, com 22. Nas médias da equipe por partida, Buiú é o terceiro em pontos (10,7), segundo em assistências (4) e quinto em eficiência (8,5).

Em nota oficial, o Minas se dispôs a colaborar com a apuração do caso, mas trata o caso apenas como uma denúncia. "O Minas informa que não tolera e repudia todo e qualquer tipo de preconceito. Reitera ainda que, como referência no cenário esportivo e na formação de atletas e cidadãos, sempre se pauta em valores e princípios do esporte e da educação, com cidadania e respeito", diz a resposta institucional.

O Cerrado é o 14º colocado no NBB neste momento. A viagem a Belo Horizonte foi apenas a primeira de uma série tripla de jogos que segue nos próximos dias, agora pelo interior paulista. No sábado (9/12), a visita será ao Franca, no Ginásio Pedrocão, e na segunda-feira (11/12) vai à Panela de Pressão encarar o Bauru.

A Liga Nacional de Basquete (LNB) informou que aplica no caso o chamado Protocolo Antirracista, uma novidade em fase final de testes. Assim, a coordenadora geral do Departamento Técnico da entidade, Lilian Gonçalves, recebeu o relato do jogador cerradista, com o caso sendo posteriormente encaminhado às autoridades de julgamento na esfera esportiva.

*Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima

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