Dezessete de junho de 1997. A manchete de jornal mexicano Excélsior adotava uma versão bem sincerona para definir a derrota de virada da seleção do país para o Brasil, por 3 x 2 na fase de grupos da Copa América na Bolívia. O "Jogaram como nunca, perderam como sempre" era uma espécie de morde e assopra após a vantagem de dois gols ruir em Santa Cruz de la Sierra. Vinte e seis anos depois, o Fluminense inverteu aquele que se consagrou como um dos principais jargões do futebol. Neste sexta-feira (22/12), na final do Mundial de Clubes contra o Manchester City, foi goleado por 4 x 0, mas não abriu mão do dinizismo reinstalado em maio de 2022. Jogou como sempre, perdeu como quase nunca.
Desde que foi dada a largada para a segunda passagem de Fernando Diniz no Centro de Treinamento Carlos Castilho, o Fluminense sofreu quatro gols somente em duas partidas. Estamos falando de 597 dias de trabalhos desde a reestreia com o tricolor em 4 de maio, na vitória por 2 x 1 sobre o Junior Barranquilla, da Colômbia, pela Libertadores. Os dois tropeços mais dolorosos sob a batuta do técnico compartilhado com a Seleção Brasileira foram nesta temporada. Em 29 de abril, os cariocas visitaram o Fortaleza no Castelão e sofreram o 4 x 2. A "desculpa" era que o time não estava completo. Dos 11 titulares contra o Manchester City, apenas o goleiro Fábio, o zagueiro Nino e o volante André começaram jogando no Ceará.
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Cenário diferente de 16 de setembro, quando foi neutralizado pelo Vasco no clássico no Nilton Santos, pela 23ª rodada do Brasileirão. Naquela partida, Fernando Diniz colocou em campo sete dos 11 escolhidos para o confronto diante dos ingleses. O treinador tricolor, porém, ignorou os avisos prévios. Em uma partida na qual o sarrafo era muito mais alto do que em todos os 71 desafios anteriores, resolveu desafiar a lógica e tomou um choque de realidade. Espalhou o esquema tático 4-2-3-1 de Pep Guardiola, mas viu as ideias descerem por água abaixo em menos de um minuto.
Quarenta segundos nunca custaram tão caro ao dinizismo. A bola de Marcelo, mal atravessada à frente da área, praticamente minou o sonho do projeto de expansão da marca tricolor a nível mundial. Quiseram os deuses do futebol que o chute do zagueiro Aké servisse quase como assistência para Julián Álvarez. O gol do jovem atacante lapidado nas categorias de base do River Plate foi quase uma vingança pelo 5 x 1 carioca sobre os argentinos no duelo pela fase de grupos da Libertadores, no Maracanã.
Diniz se negou a seguir a receita de Paulo Autuori, Abel Braga e Tite nas finais de Mundial vencidas por São Paulo, Internacional e Corinthians contra Liverpool, Barcelona e Chelsea, respectivamente. Entre vencer e abandonar a identidade do jogo "aposicional", ofensivo e com riscos na saída de bola, optou por perder e manter as convicções.
"O time foi Fluminense do começo ao fim do ano. A gente pegou o melhor time do mundo nos últimos cinco anos, com muita capacidade de definir. Tomamos gol muito cedo. Tomamos o segundo com todo mundo atrás, não podia tomar. O time tentou jogar, jogou sob pressão alta o tempo todo e conseguiu sair na maioria das vezes. O time está de parabéns", avaliou após o apito final.
Para o dono da prancheta, a postura dos jogadores diante do baque precoce precisa ser reconhecida. Diniz também condicionou a derrota ao fato de duelos contra equipes da primeira prateleira do planeta bola não serem rotina. "Envolver o Manchester City, qual time no mundo que conseguiu isso durante 15, 20 minutos? Qual time envolveu mesmo? A gente envolveu", minimizou.
"A gente não tem oportunidades de jogar sempre contra times dessa qualidade. Quanto mais você vai jogando, mais tem chances de aprender e se aperfeiçoar, mas a gente vai continuar se aperfeiçoando mesmo jogando poucas vezes com times dessa qualidade", emendou.
O estranhamento de Diniz e equipe com duelos do mais alto quilate nas quatro linhas custou para além do título do Fluminense. A derrota para o Manchester City igualou a pior de uma equipe brasileira na decisão do Mundial sob a chancela da Fifa. Em 2011, o Santos de Neymar, Paulo Henrique Ganso e Muricy Ramalho sofreu com o 4 x 0 diante do Barcelona de Messi, Xavi, Iniesta. Advinha por quem eles eram orquestrados? Pep Guardiola.
O estudioso das quatro linhas é um papa-títulos. Chegou ao 37º na carreira e se tornou o primeiro treinador tetracampeão do Mundial de Clubes. Embora seja o embaixador do dominante futebol europeu, acredita que sul-americanos podem voltar a ser campeões. "A Europa é mais forte, pois tem o poder econômico que não tem na América do Sul. Todos os bons da América do Sul vêm para a Europa, por isso temos vantagem. Se o Fluminense saísse na frente, seria um jogo duríssimo", analisou.
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