Do início em 1979, quando o time campeão faturava uma garrafa de refrigerante e dois pães com mortadela, até os dias atuais, quando passou a reunir milhares de aficionados pelo esporte em uma mega estrutura montada no Taguaparque, o Torneio Arimatéia de Futsal trilhou um caminho digno de fortalecimento para se transformar em uma tradição no calendário esportivo do Distrito Federal. A edição de 2023, no entanto, tem tudo para ser especial. De volta após uma parada forçada de três anos pela pandemia de covid-19, o torneio xodó dos amantes do esporte da bola pesada promete emocionar e ser palco para o surgimento de novos craques entre hoje e 7 de janeiro.
Tudo começou na rua de casa, quando José de Lima Téia, o Arimatéia, organizou um campeonato com a ajuda dos pais. Na época, os quatro times participantes competiam pelo prêmio de dois pães com mortadela e uma garrafa de refrigerante, enquanto o vice ficava com um pão e um copo da bebida. Os uniformes eram panos pintados e as traves eram feitas com duas pedras. O importante, porém, era a diversão da garotada e dali virou um sucesso. A quantidade de participantes foi dobrando, aumentando e, agora, o campeonato vai reunir, ao todo, 104 equipes.
Os times serão disputar o torneio em 11 categorias, divididas desde o sub-9, voltado para crianças com menos de 9 anos, até o supermaster, restrita para aqueles acima dos 45. Entre as classes, a de maior destaque é a principal. Nela, atletas de todas as idades jogarão por 48 planteis inscritos, entre eles os tradicionais LocTrad, atual bicampeão; Juventus, presente desde as primeiras edições; e Creyssons, xodó da arquibancada.
A competição migrou para o Taguaparque há 13 anos e, novamente, promete fazer a festa para o público da região e de todo o Distrito Federal. A expectativa é de reunir mais de 2 mil pessoas na abertura e 150 mil ao longo dos 21 dias de evento, marcado para acabar no primeiro domingo do ano, com a final de todas as categorias. "É uma responsabilidade tocar isso tudo. Eu olho as arquibancadas e vejo pessoas de 70, 90 anos, vejo bebês, adolescentes, adultos. Ter as pessoas aqui me deixa muito emocionado. Temos estádios de primeira linha em Brasília que nem sempre estão com bola rolando ou que não traz o povo para ver, então poder dar esse tipo de espetáculo para a galera traz uma sensação de gratidão e felicidade", conta Arimatéia, ao Correio.
"Meu pai chorava de alegria, porque ele nunca imaginava que o filho dele fosse chegar onde chegou. Do campeonatinho que fizemos lá atrás para o que se tornou hoje em dia. A gente veio da roça, de Dores do Turvo, em Minas Gerais, chegamos a Brasília em 1962 e conseguimos fazer algo marcante para a cidade. Uma vez o secretário de esportes do DF me disse: 'seu Arimatéia, aqui só existem dois grandes eventos no final do ano, o Réveillon e seu futebol'. Então, fico feliz por deixar esse legado e pretendo continuar por quanto tempo for possível", complementa.
Recomeço
Mesmo certo em todo final de ano na capital, a tradição do evento precisou ser interrompida por três anos, devido à pandemia de covid-19. O objetivo era ter voltado em 2022, mas o investimento não foi suficiente e precisou ficar para o ano seguinte. "Ano passado, meus patrocinadores não tinham verba. O comércio estava falido, eu saía batendo de porta em porta desde junho e escutava que não tinham dinheiro. Hoje, o torneio custa na casa de R$ 1 milhão, levando em conta a infraestrutura, água, energia, árbitro, vestiário, banheiros, prêmios. Esse ano, conseguimos alguns patrocínios de volta e tivemos a ajuda da senadora Leila, que nos deu uma emenda parlamentar. Então, tiramos os planos do papel", relata.
Com tudo pronto para a bola rolar, o organizador deixa claro que as dores dos anos sem poder fazer o campeonato não foram esquecidas e quer que o retorno sirva como uma homenagem ao que aconteceu no período. "Depois de tantas perdas de amigos, anos tão difíceis, a alegria volta novamente no esporte amador. Quando entrar na quadra durante a abertura sei que o coração vai palpitar mais forte, lembrando de todas as pessoas que se foram, o apito inicial vai trazer a saudade de todas elas. É uma celebração por esses parceiros queridos que se foram. Então, espero o público aqui de braços abertos para sair com um sorriso no rosto e ter um momento legal nesse Natal e Ano Novo", explica.
Além da diversão, o torneio serve como palco para o surgimento de novos craques do futebol brasileiro, como os candangos Endrick, do Palmeiras, e Reinier, ex-Flamengo. O atual campeão nacional jogou pelo time do Valparaíso, enquanto o rubro-negro vestia as cores do Guará. Para a atual edição, Arimatéia já antecipa que foi avisado sobre a presença de olheiros nas arquibancadas e torce pelos talentos locais.
"Eu fico muito emocionado em poder, mesmo que indiretamente, dar algum palanque para que essas crianças sejam vistas. Agradeço muito a Deus e Nossa Senhora Aparecida por trazer esses atletas aqui e eles terem oportunidade de crescer. O Endrick já me mandou mensagem agradecendo e são histórias como essa que fazem tudo valer a pena", relata o devoto da Santa Padroeira do Brasil.
Celeiro de desenvolvimento
Entre as 104 equipes garantidas na competição, a expectativa é por se destacar e utilizar a quadra montada no Taguaparque e, quem sabe, trilhar o mesmo caminho de tantos craques com passagem pelo Torneio Arimatéia. Nesse sentido, o maior foco de ansiedade fica concentrado nos pequenos jogadores, vivendo as primeiras experiências com a bola pesada.
Treinador do LocTrad, André de Oliveira Barros não esconde a expectativa para a competição e para ver os jogadores brilharem. Ele conta que a preparação se estende ao longo do ano, mas o torneio tem um aspecto especial por ser durante as férias. Então, alguns dos atletas estão viajando ou podem jogar apenas uma parte do campeonato. Mesmo assim, o plano é brigar pelo título e ajudar no desenvolvimento da garotada.
"Tem gente que vai passar o Natal em outro estado, aí entra só na fase de grupos, outros que desde o começo já sabemos que não vamos poder contar. Mas faz parte, o importante é disputar e fazer uma boa competição. O Arimatéia traz uma vitrine muito boa para ajudar no sonho desses meninos e meninas. Temos alguns que já foram chamados para times maiores, outros que, com certeza, serão em pouco tempo. Ainda soma o fato de ser uma experiência maior para eles, jogar com torcida, um grande evento, ajuda a criar casca e deixá-los mais preparados para os próximos passos", detalha o técnico.
Entre os jogadores, a expectativa também está alta. "É um sonho poder jogar no mesmo lugar que outros craques também jogaram, principalmente nós, de pouca idade. Espero conseguir fazer um campeonato muito bom, tentar ser campeão e torcer por oportunidades de ir atrás do meu sonho", compartilha o jovem Lucas, de 11 anos, ala-direita do LocTrad.
*Estagiário sob a supervisão de Danilo Queiroz
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