Um dia depois da derrota do Feyenoord por 3 x 1 para o Atlético de Madrid pela quinta rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa, Igor Paixão deu uma resposta a outra derrota fora de campo. Nesta quarta-feira (29/11), o atacante do Feyenoord publicou um texto sobre o termo racista utilizado pelo jornal As, na terça-feira (28/11).
O diário espanhol ofendeu o atleta de 23 anos em análise pré-jogo ao falar de um dos jogadores mais perigosos do ataque da equipe holandesa. O ex-Coritiba foi chamado de "descendente de escravos" pelo veículo, que alterou os termos utilizados em sequência e removeu publicação no X (antigo Twitter) após a repercussão.
No post, o amapaense não economizou nas críticas ao falar do racismo velado que foi empregado nos adjetivos sobre si. "Eles sempre se disfarçam. Por meios de palavras elegantes, de dinheiro, de formas de se portar e até mesmo dos cargos que ocupam. Eles são sutis. Nem sempre deixam a mostra todo o preconceito que carregam por gerações e gerações. Eles são espertos. Porque na maioria das vezes se safam ao cometerem um dos mais hediondos crimes da história: o racismo", diz parte do texto da publicação.
Igor Paixão ainda não foi às redes nesta edição da Champions League. O resultado em Madri deu a eliminação do torneio, mas classificou o time neerlandês à Liga Europa, com a derrota do Celtic para a Lazio, na mesma rodada. Os escoceses serão os adversários da rodada final, em Glasgow, no próximo dia 13.
Na temporada 2023/2024, o brasileiro soma cinco gols e três assistências em 28 jogos. Sua equipe é a vice-líder do Campeonato Holandês, com 32 pontos: sete a menos em relação ao ponteiro, PSV, próximo rival pela Eredivisie, em casa, no Estádio De Kuip, em Roterdã, no domingo (3/12).
Confira, a seguir, o texto de resposta de Igor Paixão ao ato racista do jornal As:
Eles sempre se disfarçam. Por meios de palavras elegantes, de dinheiro, de formas de se portar e até mesmo dos cargos que ocupam.
Eles são sutis. Nem sempre deixam a mostra todo o preconceito que carregam por gerações e gerações.
Eles são espertos. Porque na maioria das vezes se safam ao cometerem um dos mais hediondos crimes da história: o racismo.
Mas nem sempre eles disfarçam, nem sempre são sutis e nem sempre são espertos. Às vezes são explícitos e descarados, resultado de anos e anos de impunidade. E esperam o momento certo para destilar o preconceito que carregam dentro de si.
Nesta semana, foi a vez do Jornal AS, do país onde joga meu companheiro de profissão, de vida e de cor, Vinicius Junior, que sofre diariamente com o ódio de quem simplesmente não aprendeu a superar um mal que jamais deveria ter existido, mas que há tanto tempo é criminoso.
Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo "não-tão-velado": o descendente de escravos.
Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a "ameaça" que trago a eles. Fosse pelo que fosse, só há uma palavra para descrever isso: racismo.
Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais.
Somos livres para pensar, falar e ser o que queremos, e isso ninguém irá roubar de nós.
Sutis, como são, dirão que "entendi errado o contexto", e irão disfarçar "tirando o texto do ar", e de forma esperta continuarão fazendo, com outros, e me tornarão um alvo.
Mas tudo bem. Porque juntos somos mais fortes. Sempre seremos mais fortes. E nunca, nunca mais, caminharemos sozinhos.
Racistas jamais passarão.
#ALutaContinua
*Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima
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