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Entenda os planos de Augusto Melo e André Negão para o Corinthians

Em entrevista ao Correio, os candidatos detalham planos para assumir o segundo clube mais popular do país. A quitação da casa própria está no centro do debate do processo eleitoral alvinegro

Clube que defendeu a redemocratização do país na ditadura militar e o direito ao voto à Presidência da República na década de 1980 no movimento Diretas Já, o Corinthians volta às urnas, neste sábado (25/11), a partir das 9h30. O segundo clube mais popular do país elegerá o novo presidente para os próximos três anos. Augusto Melo (oposição) e André Luiz Oliveira, o André Negão (situação), são os candidatos da eleição mais polarizada da história alvinegra.

Membros do movimento social corintiano há 40 anos diriam: "Ganhar ou perder, mas sempre com democracia". Na prática, o pleito de 2023 é muito mais desafiador. Nos bastidores do Parque São Jorge, há tensão e a apreensão pelo resultado e como a torcida o receberá também. O Correio conversou com Augusto Melo e André Negão. Sanar as dívidas é prioridade dos dois. Tornar o clube uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) está fora dos planos.

Veja, a seguir, outros pontos considerados importantes do futuro dono da caneta do Timão a partir de 4 de janeiro, e entenda como funciona o colégio eleitoral responsável por apontar o sucessor de Duílio Monteiro Alves à frente de 32,2 milhões de torcedores espalhados por São Paulo, pelo país e o mundo. A apuração tem hora para começar: 17h.

Augusto Melo, 59 anos

É ex-conselheiro do clube e empresário do ramo têxtil e acessórios de vestuários. Vive os bastidores do Corinthians há 40 anos. Foi assessor das categorias de base de 2015 a 2017. Concorreu à presidência alvinegra em 2020 como candidato da oposição e ficou em segundo lugar.

Panorama de 2020 para 2023

"Ficar em segundo lugar, em 2020, foi uma experiência desafiadora. Serviu como impulso para continuar trabalhando incansavelmente pelo Corinthians. A campanha contínua nos últimos anos reflete meu comprometimento com o clube e a crença em um futuro melhor. Comparando com o último pleito, vejo um cenário mais otimista. As propostas e ideias apresentadas ganharam mais espaço e ressonância entre os sócios".

Primeiro ato

"A prioridade será uma auditoria interna para ver como está o clube. A reestruturação financeira é essencial, mas não podemos negligenciar o departamento de futebol. Acredito em um plano estratégico que abranja ambas as áreas, buscando estabilidade financeira e competitividade no futebol".

Clube precisa ser visto como empresa?

"Minha experiência empresarial me ensinou a importância da transparência, responsabilidade e estratégia. Pretendo implementar práticas de gestão empresarial, tratando o clube com a seriedade que ele merece. Transparência será um pilar fundamental. Acredito que o Corinthians pode ser gerido de forma eficiente, assim como uma empresa, com correções de rumos sempre que necessário".

Dispensa a jogadores veteranos?

"É fundamental ter um diálogo aberto com todos os jogadores, incluindo os veteranos. Renato Augusto, Gil, Giuliano, Fagner e Paulinho são nomes de grande importância. Pretendo discutir com cada um sobre planos e contribuições para o futuro do clube. Quanto a Mano Menezes (técnico), abrirei uma conversa para entender visões e estratégias dele".

Desafio financeiro

"Sanar as dívidas é um desafio. Com uma abordagem estratégica, acredito que é possível. Planejo captar recursos de forma inteligente, explorando parcerias, patrocínios e, quando necessário, a venda de atletas, mas com paciência e cautela para não comprometer o desempenho esportivo".

Brasília e ampliação na Arena

"Meu recado é de esperança e oportunidade. O Corinthians valoriza o talento, independentemente da origem. Quanto a expansão da Neo Química Arena, será uma prioridade para tornar o estádio do tamanho que o torcedor merece. Aumentando a capacidade da arquibancada, você cativa o torcedor a retornar ao estádio com preços mais acessíveis".

Quem seria o seu diretor de futebol?

"Além de Rodrigo Caetano, buscaria executivos que compartilhem da visão de modernização e crescimento do clube, todos qualificados à altura do Corinthians. Quanto a contratações bombásticas, priorizaria jogadores que não apenas reforcem o time, mas representem a grandeza do Corinthians, possam decidir jogos, campeonatos e claro, tragam receita no âmbito de vendas de camisas, entre outras vertentes. No futebol feminino, a intenção é ampliar os investimentos e consolidar a hegemonia do clube no cenário nacional e internacional".

Temporada 2023: copo meio cheio ou vazio?

"Assumir um Corinthians na Série A, garantido na Sul-Americana, é um desafio que encaro com determinação. Vejo o copo meio cheio. Minha meta é entregar o clube, em 2026, com contas equilibradas e diversos títulos, sem limitação. O Corinthians é muito grande para ficar quatro anos sem vencer nada. Nossa intenção é sempre estar disputando na ponta, almejando o melhor desempenho possível dentro das competições".

André Negão, 63 anos

Empresário e conselheiro vitalício do Corinthians. Foi diretor administrativo do clube durante a segunda gestão de Andrés Sanchez e vice-presidente do mandato de Roberto de Andrade. Presidia o conselho de ética alvinegro até 4 de julho, quando deixou o cargo para seguir campanha.

Mandato Duilio: agiria diferente?

"Toda gestão é marcada por acertos e erros. O Duilio reconheceu recentemente que lhe faltou um título. Tomou decisões que não deram certo. No futebol, o resultado fala mais alto. Por outro lado, trouxe a KPMG e a Falconi, empresas respeitadas no mercado de auditoria e consultoria, que ajudaram na profissionalização. As receitas do Corinthians dobraram e, ao final deste ano, vão chegar próximo de R$ 1 bilhão. Ele equalizou as dívidas e pavimentou o terreno para investirmos com sabedoria".

Andrés Sanchez

"Ele foi o maior presidente da história do clube. No primeiro mandato, costurou toda a construção do estádio, foi responsável por uma das maiores contratações, o Ronaldo Fenômeno, teve participação fundamental na redemocratização do Parque São Jorge garantindo ao sócio direito a voto. Na segunda passagem, trouxe o Naming Rigths para a Arena. Sempre ganhou títulos. É benéfico tê-lo na minha gestão. Todos no futebol o respeitam. Contar com alguém que possui essa experiência e consegue dialogar e impor respeito nos bastidores é importante".

Primeiro desafio caso seja eleito

"A remontagem do elenco para que a gente volte a ganhar títulos. Vamos sentar e conversar com o técnico Mano Menezes para entender as principais necessidades dele. Investiremos no futebol, mas isso será feito com responsabilidade financeira. Não podemos destruir os avanços da atual gestão. Estou trazendo para a diretoria financeira o ex-vice-presidente do Banco Safra, João Carlos Chede, e manteremos os trabalhos desenvolvidos pela KPMG e a Falconi".

Ampliação em Itaquera

"Eu não via como algo viável até o acordo costurado com a Caixa aparecer publicamente. Isso vinha sendo construído há longos meses e dará uma nova perspectiva na dívida do Corinthians. Vamos praticamente quitar a Neo Química Arena. Nossa arena foi projetada estruturalmente para receber essa ampliação de mais 10 mil lugares tanto no setor Norte quanto no Setor Sul. A partir do momento que quitarmos a nossa dívida, vamos atrás de parceiros para começar a realizar essa segunda etapa".

SAF interessa?

"O Corinthians não tem preço. Sou contra. O Corinthians fez acordo com a Caixa que vai nos ajudar a quitar a Neo Química Arena. Também existe projeto para colocarmos 49% do estádio na bolsa e captar recursos. Poderíamos, por exemplo, amortizar bastante a dívida do clube".

Como enxerga o clube hoje

"O Corinthians é uma marca sólida, com 35 milhões de torcedores que consomem e garantem o interesse de empresas e patrocinadores. Em 2024, novos espaços vão se abrir na camisa, novos acordos de televisão serão discutidos, além é, claro, de seguir aprimorando nossa geração de receita com a Neo Química Arena. Mostramos também, na última gestão, a capacidade de gerar receita por meio de negócios digitais, o que ampliou nossas receitas nos últimos dois anos. As linhas de licenciamento tiveram aumento de mais de 80%. Não há indício de que a gente tenha batido no teto. Sei de muitos projetos em andamento, o que me dá a certeza de que há muito a ser desenvolvido. O sócio e o torcedor não precisam cair em pessimismos vendidos por aventureiros. Quem acompanha a gestão no detalhe, olhando o todo, sabe que nosso futuro está muito bem encaminhado".

Descontente com 2023?

"O Corinthians entra sempre com a obrigação de brigar pelo título. Essa é a nossa visão. Mas é óbvio que estamos falando do futebol brasileiro, o mais competitivo no mundo. O Atlético-MG ficou 50 anos para conseguir levantar o segundo Campeonato Brasileiro. O São Paulo não ganha desde 2008 e o Palmeiras ficou de 1994 até 2015 sem levantar um Brasileirão. O meu compromisso é trabalhar para deixar o clube saudável financeiramente e com o máximo de títulos".

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