A vitória do Brasil por 4 a 1 sobre a Argentina na final da Copa das Confederações de 2005, disputada na Alemanha, está gravada na memória de todos os brasileiros que gostam de futebol. A Seleção deu um baile nos hermanos, e Cicinho, lateral-direito daquele time, foi um dos grandes destaques da partida com participação nos quatro gols. Em entrevista exclusiva ao “Torcedores.com”, o ex-atleta relembra os bastidores daquele jogo, comenta o que não deu certo na Copa de 2006 e opina sobre o atual momento da Seleção. Nesta terça-feira (21), o time de Fernando Diniz recebe a Argentina, às 21h30, no Maracanã.
Os argentinos são os atuais campeões do mundo. Os momentos são totalmente diferentes. Na época da Copa das Confederações de 2005, era o Brasil quem ostentava o título. Mesmo assim, um fato totalmente inusitado serviu de combustível para a Seleção.
“Cada seleção teria direito a uma hora no estádio da final para fazer o reconhecimento do gramado. Depois desse treino, todo mundo foi para a ducha pois a Argentina chegaria em menos de uma hora para o treino deles. Estávamos saindo do estádio em nosso ônibus quando a Argentina chegou ao mesmo tempo. Eram aqueles ônibus com ar-condicionado e as janelas lacradas. Quando começamos a reparar no ônibus deles, vimos os jogadores nos xingando, cantando e batendo nos vidros. Até o técnico bateu no vidro e estava cantando. Não sei se alguém fez filmagem na época, mas foi algo surreal.”
Motivação para dar o troco
O ex-lateral comenta que a primeira reação entre os jogadores foi de perplexidade. Porém, o ocorrido se reverteu em motivação para a grande decisão no dia seguinte.
“O silêncio reinou dentro do ônibus. Todos ficaram sem entender nada. No dia seguinte, serviu de combustível. Quando chegamos para jogar a final, Maicon (lateral) e Ronaldinho começaram a puxar um pagode na saída do ônibus e todo mundo começou a pular, até o Rogério Ceni. O Adriano quebrou o teto do ônibus. Todo mundo ficou em um clima de confiança muito grande. O Ronaldinho Gaúcho comandou o pessoal. Na hora do jogo, foi aquela festa.”
Cruzamentos: a especialidade da casa
Cicinho foi grande destaque do Brasil, com duas assistências (passe direto para gols de Ronaldinho e Adriano) e participação nos quatro gols, já que nos outros dois contribuiu no início da jogada. No passe para o gol de Ronaldinho, o ex-lateral diz que seguiu ensinamentos de Luisão, ex-centroavante com quem jogou no São Paulo. Na assistência para Adriano, o fruto é de muito treinamento, como ele mesmo conta.
“Eu treinava muito cruzamentos. No São Paulo, ficava com o Rogério Ceni depois do treino. Ele batendo falta, e eu colocava uma barreira na lateral da área para fazer cruzamentos. Então eu tinha uma facilidade muito grande para cruzar quando chegava na frente.
O Luisão, centroavante, me ensinou uma coisa: quando o lateral chegar em velocidade, chuta para trás à meia altura, pois vai chegar alguém batendo de frente. Se você quiser colocar na cabeça de alguém, a bola provavelmente vai sair pela linha lateral. Consegui ver o Gaúcho chegando e tocar exatamente no espaço que ele estava. No quarto gol eu chego inteiro na bola, deu tempo de olhar e fazer o cruzamento na cabeça do Adriano.”
Copa de 2006. O momento era de Cicinho?
Cicinho reconhece que vivia melhor momento que Cafú em 2006 mas, mesmo assim, diz que Parreira fez o certo em deixá-lo no banco.
“Eu realmente estava em um momento melhor em 2006 e até o Parreira reconheceu isso, mas, em termos de respeito dos adversários, ter o Cafú é totalmente diferente. Enfrentaríamos a França com Zidane, Henry… uma seleção com grandes nomes como Roberto Carlos, Ronaldo e Cafú impõe outro tipo de respeito. Não acho que se eu e o Robinho tivéssemos jogado a história seria diferente em termos de resultado.”
O ex-jogador do Real Madrid culpa o insucesso na Copa da Alemanha pela falta de foco na preparação realizada em Weggis, na Suíça.
“O grande problema foi a preparação para a Copa, que não foi feita com a seriedade necessária. Muitas pessoas com acesso aos treinamentos. Lá em Weggis, o extracampo prejudicou demais, não tivemos uma programação bem definida. Fizemos um treino físico, e a torcida vaiou. O Parreira teve que mudar o treino. Treinos para 15 mil pessoas, com pessoas entrando no campo ao final. Faltou foco de modo geral. Em termos de nomes, era uma Seleção que era pra ter ganho.”
Atual momento da Seleção
O jogador campeão da Copa das Confederações ressalta que contra a Argentina é diferente, é “um capítulo à parte”. A rivalidade, segundo ele, faz com que os jogadores entrem de outra forma para o jogo.
“Contra a Argentina, o espírito é outro. Tem que entrar tirando a vontade de onde não tem. Pelo menos deveria ser assim. Hoje a Argentina não passa mais dificuldade como antes nas Eliminatórias, há um controle muito maior por parte deles. O meio-campo é muito forte. Agora, quem passa dificuldade somos nós. Mas não precisa ser dessa forma, temos qualidade para vencê-los e montarmos um time vencedor. Acima de tudo, os jogadores precisam ter personalidade. Tem jogador que no clube é um leão, mas na Seleção vira um gatinho.”
Cicinho elogia Militão
Cicinho é enfático ao comentar que, na Seleção atual, o melhor é ter um lateral marcador. Ele diz que não há grandes nomes na posição e indica Eder Militão como melhor opção no momento.
“Vou te falar que, além do Danilo, não consigo te dizer outro nome de lateral-direito para a Seleção. Você pega aquele Wesley do Flamengo, bom jogador. Mas ainda não está pronto. Perspectiva minha para a lateral direita é o Militão, improvisado. Se pegar em termos de qualidade, temos Rafinha e Fagner, mas os dois não têm mais idade. O lateral hoje não precisa chegar na linha de fundo. Na Seleção brasileira atual, é preciso um lateral que acima de tudo defenda. Você tem muitos atacantes de qualidade, não precisa de lateral que chega na frente.”
Cicinho atuou ainda como titular pela Seleção na estreia de Messi contra o Brasil. O amistoso disputado em Londres, em 2006, terminou 3 a 0 para a Seleção Brasileira, com dois gols de Elano e um de Kaká.
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