Em tempos de combate ao racismo no esporte mais popular do mundo, os deuses do futebol estão derramando uma espécie de porção dobrada de talento sobre jogadores pretos. Eles são cada vez mais protagonistas de seleções de ponta e referências na batalha contra a discriminação. Vinicius Junior não está isolado na cruzada contra o preconceito nem precisa clamar sozinho no deserto. Se a Fifa levar realmente a sério o projeto de criar um grupo de trabalho para fazer recomendações de medidas contra o crime, como prometeu o presidente Gianni Infantino, é possível montar um exército com astros midiáticos neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
Vinicius Junior, Jude Bellingham e Kylian Mbappé somam mais 175 milhões de seguidores no Instagram. O número equivale a 80% da população do Brasil. O trio pode formar uma campanha global contra o racismo, reforçada por jogadores não menos massificados, como os jovens Lamine Yamal (Espanha), Jamal Musiala (Alemanha), Moise Kean (Itália), Rafael Leão (Portugal), Victor Osimhen (Nigéria) e Jérémy Doku (Bélgica).
As nações europeias se acostumaram a ter imagens vinculadas a protagonistas brancos. O título mundial da Espanha em 2010 tinha Xavi e Iniesta como protagonistas. A Itália tetracampeã em 2006 vivia o auge de Pirlo, Totti, Buffon e Cannavaro. Na era moderna, Portugal sempre esteve ligada a Cristiano Ronaldo, assim como a Alemanha a nomes Philip Lahm, Schweinsteiger, Klose e outros.
Uma coisa puxa a outra. Com mais espaços, os negros ganham mais relevância e munição para o discurso em prol da igualdade dentro e fora das quatro linhas. Não existiria vitrine mais formidável que o futebol. Alguns deles tinham tudo para jogar por outros países, fugir dos discursos de ódio e ter uma vida teoricamente tranquila. Musiala é um exemplo, poderia atuar pela Nigéria dos pais dele. Optou pela Alemanha e também tinha a oportunidade de defender a Inglaterra.
Jogou por equipes e seleções de base da Terra do Rei Charles III. Porém, na Baviera, tornou-se um dos principais nomes da nova geração. Hoje, o meio-campista ostenta o título de segundo melhor jogador jovem do mundo. Isso graças ao desenvolvimento no Bayern de Munique e a chance recebida pelo técnico Joachim Low em 2021. Musiala é o segundo boleiro mais precoce a defender o papa-títulos alemão na liga nacional. Estreou aos 17 anos e 115 dias. Orgulha-se de ser um dos negros da Mannschaft ao lado de Leroy Sané e Serge Gnabry.
A Inglaterra não saiu perdendo nessa história. Os gramados que foram de Bobby Charlton, Bobby Moore, Gordon Banks, Gary Lineker, Lampdard, Beckham e companhia agora é dominado pela geração negra com os atacantes Marcus Rashford, Nketiah, Saka, Watkins, o zagueiro Tomori e o meia Jude Bellingham. O movimento de protagonismo deles é um tapa na cara dos racistas.
Há dois anos, alguns deles sofreram com ofensas após a perda do título da Euro-2020 em casa para Itália, nos pênaltis. Hoje, as vitórias passam por eles. Os negros participaram ativamente de 13 dos 21 gols em sete jogos na campanha com classificação antecipada à Euro-2024.
Bellingham é a peça-chave do 4-3-3 montado por Gareth Southgate. Quando não balança as redes ou serve companheiros, chama a marcação e abre espaços para criação das jogadas. É o principal boleiro sub-21 do mundo e o terceiro atleta mais caro, segundo a plataforma Transfermarkt. A avaliação de 150 milhões de euros, cerca de R$ 792 milhões, fica atrás somente das de Kylian Mbappé e Erling Haaland — com passes estipulados na casa dos R$ 950 mi cada.
O quinto desse ranking é o único que atua por seleção fora da Europa. O centroavante Victor Osimhen, 24 anos, atua pela Nigéria e reforça o protagonismo negro nas quatro linhas. Vinculado ao Napoli, tem valor de mercado na casa dos 120 milhões de euros. Em 2022/23, marcou 31 gols e deu quatro assistências em 39 partidas. Tornou-se ídolo do time de Maradona na Itália ao encerrar o jejum de 33 anos de títulos nacionais do clube.
Além de Vini Junior, a América do Sul observa a importância do meio-campista Nicolás de la Cruz para a renovada seleção uruguaia. Foi dele o gol e o passe que sacramentaram as vitórias sobre Brasil e Argentina nos últimos dois compromissos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Atuações que justificam o interesse do Flamengo.
E se você acha a convocação de Endrick, 17 anos, para a Seleção precoce, o que pensará sobre Lamine Yamal na Espanha? Aos 16 anos, a joia do Barcelona se tornou o mais jovem a atuar e marcar pela Fúria. Em setembro, deixou a marca na goleada por 7 x 1 sobre a Geórgia, pelas Eliminatórias da Euro. O país agradece. Yamal recebia sondagens de Marrocos e poderia atuar pela Guiné Equatorial, nações do pai e da mãe dele, respectivamente.
A Euro-2024 pode ser o último torneio oficial de Cristiano Ronaldo por Portugal. Os lusitanos, porém, não precisam temer tanto assim. A passagem de bastão está sendo ensaiada conforme a evolução do sucessor Rafael Leão. Aos 24 anos, Leão é um dos destaques do Milan. Na temporada passada, colaborou para a campanha semifinalista do clube na Liga dos Campeões, a melhor em 16 anos. Em 2021, jogou a Euro sub-21 pela trupe da Terra de Camões. No ano seguinte, estava no maior palco do espetáculo: a Copa do Mundo.
Na Itália, Moise Kean "repete" Balotelli. Negro, de 24 anos, e jogador da Juventus, Kean é um dos principais jogadores do país tetracampeão do mundo. Algoz da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2018, a Bélgica é uma das pioneiras no assunto.
A geração belga com Kevin De Bruyne, Courtois, Hazard tinha os negros Kompany, Witsel e Lukaku. Hoje, a lista aumentou com Batshuayi, Openda, Lukébakio, Bakayoko e Jérémy Doku, ponta de 21 anos, contratado pelo Manchester City em agosto.
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