A Fórmula 1 preparou uma receita caprichada para o Grande Prêmio de Las Vegas neste final de semana, com corrida noturna, shows de artistas mundiais, três retas, zebras com naipes de baralho, segundo maior circuito da temporada, leilão e até capela para casamento no paddock. No entanto, faltou considerar um elemento na equação: o frio durante a noite no deserto de Nevada. Com previsão de 11ºC no horário da largada, a penúltima etapa da temporada pode ser a mais fria da história da categoria e quem mais sofre com isso são os pneus.
A programação comum para provas durante a noite é por volta de 20h no horário local, porém, essa hora na Cidade do Pecado seria 4h da manhã em Londres. Para acomodar melhor a audiência europeia, a F1 passou a largada para as 22h de sábado (18/11) em Las Vegas, 3h da madrugada de domingo (19/11) no Brasil. Apesar do calendário da competição evitar o inverno e as baixas temperaturas, a organização do evento não levou em consideração as oscilações de temperatura no deserto, como admitiu Ross Brawn, diretor técnico da categoria.
“Uma coisa que não tínhamos considerado inicialmente, mas a fabricante de pneus lidou com isso, é que fica muito, muito frio à noite. Então, quando a corrida estiver acontecendo a temperatura já terá chegado a três ou quatro graus. Portanto, pode ficar realmente bastante frio, e é claro, fazer os carros funcionarem nessas temperaturas pode ser um desafio. A Pirelli fez alguns ajustes para garantir que os pneus possam funcionar com isso”, disse Brawn ao TalkSport.
Uma das medidas da Pirelli foi levar os componentes mais macios e com calibragens mais altas para o final de semana de corrida, buscando aumentar a rigidez das paredes dos pneus. Ainda assim, os pilotos e as equipes devem se preocupar com o graining, isto é, quando o composto é desgastado pelo atrito com o asfalto – semelhante ao que acontece com uma borracha escolar quando se apaga algo no papel. Entre os fatores que favorecem isso estão as freadas fortes, reaceleração, curvas de aceleração e, principalmente, andar com os pneus longe da temperatura ideal – esperado pelas condições de Las Vegas.
“Pilotar aqui é como estar sobre o gelo. A pista está evoluindo a cada volta. Então na primeira volta você está praticamente sobre o gelo, sem aderência. É complicado quando você está indo a 350 km/h em ambas as zonas de frenagem”, comentou George Russell, da Mercedes, à Sky Sports.
O horário da largada ainda influencia na temperatura do asfalto. Nesta época do ano, o sol na região se põe antes das 17h, então a pista terá cerca de três horas para esfriar antes da corrida começar. As retas, que são três, também não ajudam, pois os freios podem ficar frios e não funcionar corretamente na chegada das curvas.
Ver essa foto no Instagram
Se as condições já não fossem difíceis por si só, soma-se a questão de que apenas a F1 irá correr ali no final de semana. Sem provas de outras categorias, a pista fica mais “suja” pelo fato de menos carros passarem preparando o asfalto. Além disso, o traçado é novo para todos os pilotos, que irão precisar se adaptar e tiveram uma oportunidade a menos para isso, já que o Treino Livre 1 foi cancelado em razão da tampa de bueiro que estourou quando a Ferrari de Carlos Sainz passava por cima.
Outras passagens por Vegas
A cidade estadunidense só recebeu etapas de F1 em 1981 e 1982, mas em outro percurso e sem ser de noite. O local, inclusive, foi palco do primeiro título mundial de Nelson Piquet. O circuito atual passa pela Las Vegas Strip, a rua mais famosa da cidade, onde estão concentrados os principais hotéis, cassinos e atrações. Ao todo serão 50 voltas, cada uma com 6,12 quilômetros de extensão, o segundo mais longo da categoria, atrás apenas de Spa, na Bélgica. Além disso, são 17 curvas, duas zonas de ativação de DRS, duas chicanes e mais três retas.
Mesmo com o campeonato de pilotos e construtores já decidido com os títulos de Max Verstappen e da Red Bull, respectivamente, a corrida chama atenção por ser a terceira do ano nos Estados Unidos. Depois de Miami e Texas, o GP deste final de semana é uma estratégia da Liberty Media para emplacar de vez a Fórmula 1 na terra do Tio Sam, por isso o espetáculo de grandes proporções.
Ver essa foto no Instagram
No entanto, tamanha festa incomodou o tricampeão da RBR e outros pilotos. “Por mim, podia pular todas essas coisas. Não é sobre os cantores, é sobre ficar ali em pé, me senti como um palhaço. É 99% show e 1% evento esportivo. Para ser honesto, não sou muito dessas coisas. Quero apenas focar no lado da performance das coisas. Não gosto dessas coisas ao redor. Eu sei que faz parte, mas não é do meu interesse”, defendeu Verstappen.
Com tantos empecilhos, a própria Red Bull admitiu que pode ter dificuldade em Las Vegas, apesar do domínio na temporada. Problemas à parte, fato é que todos se alinham no grid de largada às 3h de domingo no Brasil. A corrida será transmitida pela Band TV e pela Band Sports.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br