Lisboa — Os ex-jogadores brasileiros Roberto Carlos e Gilberto Silva aproveitaram o lançamento, na Web Summit, de uma plataforma digital que permite a interação com os torcedores para dar um grito contra o racismo no futebol. Ao serem questionados sobre os frequentes ataques sofridos por atletas em estádios de todo o planeta, conclamaram as entidades responsáveis pelas organizações dos torneios a punirem, com rigor, os responsáveis pelos crimes de intolerância. Segundo Roberto Carlos, “o futebol não tem cor”.
Para Gilberto Silva, que jogou entre 2002 e 2008 no Arsenal, da Inglaterra, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e as confederações locais não podem fechar os olhos para a frequência com que o racismo tem se mostrado presente nos estádios. “Os jogadores enfrentam o racismo quando estão jogando e até mesmo quando estão em casa, pois as ofensas, agora, chegam pelas redes sociais. Portanto, as autoridades devem tomas as medidas adequadas para que esse tipo de crime seja punido”, afirmou.
Na avaliação do ex-volante da Seleção Brasileira, enquanto ninguém for, efetivamente, responsabilizado, os intolerantes continuarão atacando os atletas sem medo. “É preciso encontrar quem está fazendo isso. Não é uma questão de todas as pessoas, é uma minoria que vai aos estádios (para atacar os jogadores)”, assinalou. “Então, é preciso responsabilizar. É necessário que haja punição”, acrescentou.
Segundo Roberto Carlos, os ataques contra ele no período em que jogou no Real Madri, na Espanha, foram mais frequentes que os enfrentados atualmente pelo atacante Vinícius Júnior no mesmo time. Isso reforça a visão de que o racismo no futebol não é uma manifestação recente de intolerância. Sempre existiu e não houve o combate efetivo a esse crime. “Acredito que, quando as leis forem mais severas, as pessoas irão para os campos aplaudir os jogadores e não para ofendê-los, independentemente do time em que jogam”, destacou.
Na opinião dele, apesar de em minoria, os intolerantes acabam prejudicando os clubes e os atletas, que são a parte mais frágil do processo. “Os jogadores não podem fazer nada. Sendo assim, é importante que a Fifa haja, que a Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) atue, assim como as demais confederações”, disse. O que não pode, no entender dos dois jogadores, é que a intolerância, seja de que tipo for, prevaleça sem nenhum tipo de combate ou punição. No atual contexto, perdem todos.
Gilberto Silva também aproveitou a participação em uma das maiores feiras de tecnologia do mundo para defender a presença de jogadores de futebol nas redes sociais. Numa comparação entre os atletas de hoje e os de antes da disseminação das plataformas digitais, ele afirmou que os atletas têm todo o direito de se posicionarem. E devem fazê-lo, sobretudo, quando os seus times perderem, sem medo. “É preciso ficar claro que não se ganha todos os dias. Ninguém tem de ser bom o tempo todo. É normal perder. E as pessoas precisam entender isso”, frisou.
Sobre liderança, Roberto Carlos, um dos mais completos laterais-direito do mundo, ressaltou que nunca foi um capitão de time tradicional. Nos momentos em que teve de exercer essa função, especialmente no Real Madri, procurou sempre lidar com os demais colegas como num contexto de família. “Nunca fui um líder, mas sempre tratei todo mundo muito bem. É questão de educação”, salientou.
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