LIBERTADORES

Boca x Flu: entenda as filosofias de Fernando Diniz e Jorge Almirón

O brasileiro combate o etarismo e pode fazer do Flu o campeão mais velho no século, enquanto o hermano condena o chutão, mas não vê o problema em o Boca jogar feio pelo hepta

De um lado, Fernando Diniz Silva, 49 anos, disposto a peitar com o Fluminense um dos principais debates do mundo corporativo à caça do título inédito da Copa Libertadores da América: o etarismo. Do outro, Jorge Francisco Almiron Quintana, um treinador capaz de anular as próprias ideias guardiolistas e lavolpistas a fim de se adaptar à realidade de um Boca Juniors carente de talento, porém farto de tradição para conquistar o heptacampeonato no sábado (4/11), às 17h, no Maracanã, e alcançar o recorde do “Rei de Copas” Independiente na sala de troféus.

A cinco dias da disputa pela Glória Eterna, no Rio, o Correio inicia uma série de apresentações de personagens da decisão do principal torneio do continente. O ponto de partida é a prancheta dos pensadores. A conquista será inédita para um deles. Compartilhado com CBF, o comandante interino da Seleção Brasileira, Fernando Diniz, disputará a final pela primeira vez com a missão de curar o trauma tricolor de 2008.

Há 15 anos, o time perdeu a taça nos pênaltis para a LDU do Equador. Jorge Almirón quase assumiu a Argentina depois de levar o Lanús ao título nacional em 2016. Esteve na mira da AFA antes de a entidade tirar Edgardo Bauza do São Paulo e nomear Patón.

Diniz é um dos técnicos diferentões da América do Sul. Se na Argentina há uma guerra entre adeptos do bilardismo, do menotismo e do bielsismo, referências a três dos melhores pensadores de futebol no país portenho, por aqui nos acostumamos a lidar com o dinizismo. O estilo autoral consiste na saída de bola desde a defesa, variações na construção, movimentações sem posição física (jogo aposicional em tempos de preferência pelo posicional), assimétrico e de busca pela pressão alta no ataque.

Tudo isso demanda juventude, correto? Errado! O Fluminense combate o etarismo. A provável escalação contra o Boca Juniors tem média de idade de 31,1 anos. Se conquistar o título, será o time mais velho a ganhar a Libertadores no século 21. Desbancará o rival Flamengo. O atual campeão tinha 28,8 quando venceu o Athletico-PR em 2022. A trupe xeneize desbancou o Palmeiras com 29,5 anos.

Dos 11 possíveis titulares de Diniz, sete superam a faixa dos 30 anos. Dois romperam a barreira dos 40: o goleiro Fábio e o zagueiro Felipe Melo. Isso é quase um atentado aos padrões do futebol europeu. Na banda de lá do Oceano Atlântico, os clubes investem cada vez mais em jogadores sub-18. A fórmula da juventude virou mantra no Velho Mundo. Pés de obra acima dos 20 anos sofrem para atrair times de ponta. Nino (26), Arias (25), André (22) e John Kennedy (21) são as doses homeopáticas de juventude.

Vice-campeão da Libertadores em 2017 pelo Lanús, Jorge Almirón desfruta de um time titular quase dois anos mais novo do que os onze de gala de Diniz. A média de idade no triunfo contra o Palmeiras bateu 29,5 anos. Como Marcos Rojo, de 33 anos, foi expulso na semifinal, há possibilidade de um time ainda mais rejuvenescido na final.

Jorge Almirón é uma metamorfose ambulante. Ama os conceitos de Pep Guardiola e de Ricardo La Volpe, mentor da badalada saída de três batizada de lavolpista, mas é capaz de se adaptar às carências de um elenco como o atual do Boca Juniors. Há um Cavani no papel de Batistuta ou Palermo. No entanto, falta um enganche do náipe de Riquelme no meio de campo. Portanto, a ordem é buscar o hepta no Maracanã ao estilo Carlos Bianchi. O técnico recordista de títulos da Libertadores fez do velho Boca especialista em vencer decisões por pênaltis neste século. As conquistas de 2000 e de 2001 foram assim. O atual ressuscitou a fórmula.

Uma vez, Jorge Almirón defendeu ideias semelhantes às de Diniz ao criticar comandados viciados em mandar a bola para onde o nariz aponta. "Onde aprenderam a jogar na infância? Quem ensina os guris a dar chutão para o alto?" Ele gosta dos passes desde a defesa. O Boca finalista da Libertadores não consegue entregar sonho. Logo, o treinador aprende a lidar com a realidade para bugar o dinizismo até com... chutão!

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