O Flamengo virou terapia para técnicos frustrados com a passagem pela Seleção Brasileira. Ao pisar no Ninho do Urubu, conhecer colaboradores do clube e comandar o primeiro treino como treinador rubro-negro, ontem, em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio, Adenor Leonardo Bachi se tornou o terceiro ex-comandante canarinho a retomar a carreira no clube carioca, neste século.
Mário Jorge Lobo Zagallo fez escala na Portuguesa-SP depois do vice na Copa de 1998, antes de aterrissar na Gávea. Mano Menezes teve o sonho de disputar o Mundial de 2014, no Brasil, frustrado pela demissão injusta tramada pelos ex-presidentes da Confederação Brasileira de Futebol José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Tite amargou duas eliminações nas quartas de final contra a Bélgica, na Rússia, em 2018; e diante da Croácia, no Catar, em 2022. Trezentos e cinco dias depois de 10 meses sabáticos, recluso com a família, ele escolheu trocar a Nação pela "nação" na retomada da carreira.
Há uma boa e má história para Tite se inspirar. Em 22 de outubro de 2000, Zagallo assumiu a prancheta do Flamengo para colocar a casa em ordem em meio aos investimentos da firma suíça ISL no time. Não havia técnica capaz de domar o zagueiro Gamarra, os meia Petkovic e Alex e os atacantes Denílson e Edilson. O elenco cheio de grifes não conseguia funcionar minimamente como um time.
A experiência de quem comandou Carlos Alberto Torres, Gerson, Tostão, Jairzinho, Rivellino e o Rei Pelé na conquista do tricampeonato na Copa de 1970 iluminou o Velho Lobo. Assim como Tite, o senhor marcado por frases de efeito preferiu a discrição. Ciente da dimensão da crise à espera dele, foi comedido nas primeiras palavras. "Estou entrando em uma situação delicada. Para mim, quanto menos falar é melhor". A estratégia política do então presidente Edmundo Santos Silva lembra a de Rodolfo Landim. Aposta no sucesso de Zagallo para turbinar a candidatura dele à reeleição, mas sofreu impeachment. Landim pretende fazer o sucessor no fim de 2024.
Zagallo entregou títulos. Quase infartou à beira do campo e matou outros tantos rubro-negros no Maracanã e em frente à tevê no lance do gol de Petkovic na conquista do tricampeonato carioca contra o Vasco. A campanha no Estadual teve ainda a conquista da Taça Guanabara. Na sequência, brindou o Flamengo com o título da extinta Copa dos Campeões contra o São Paulo. Novamente com uma obra-prima assinada pelo sérvio Petkovic na meta de Rogério Ceni. Zagallo aposentou-se como técnico no Flamengo antes de voltar ao cargo de coordenador técnico da Seleção na Copa do Mundo de 2006.
Plano B da CBF depois da Copa da África do Sul em 2010, Mano Menezes assumiu a Seleção depois do não de Muricy Ramalho a Ricardo Teixeira. Renovou o grupo e fazia bom trabalho até a conquista do Superclássico das Américas de 2012. Derrotou a Argentina nos pênaltis, em La Bombonera, e foi premiado com bilhete de demissão.
O primeiro emprego de Mano depois da Seleção foi no Flamengo. A postagem nas redes sociais empolgou 40 milhões de rubro-negros na mesma proporção que a repentina saída. "De Nação para a 'nação'. Ser técnico do CR Flamengo é meu novo grande trabalho. Um orgulho!", publicou no Twiter, ao assinar contrato na gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Quatro meses e 19 jogos depois, o treinador comunicava o pedido de demissão. Estávamos fechando um ciclo de quatro meses e senti, no resumo do jogo de hoje, que não consegui passar para esse grupo aquilo que penso de futebol. E quando é assim, é porque o técnico precisa sair", afirmou, depois de perder para o Athletico-PR, no Maracanã.
Tite é o terceiro técnico a sair da Seleção para a "nação". Chega na linha tênue entre repetir Zagallo ou Mano em um elenco talentoso, mas difícil. O gaúcho de Caxias do Sul é o terceiro comandante rubro-negro no ano. "Orgulho, uma responsabilidade muito grande e um desafio profissional. A estrutura te permite toda a qualidade de trabalho possível. De alto nível, como o Flamengo exige. Espero poder fazer esse trabalho de forma conjunta", afirmou, ontem, em entrevista à FlaTV.
O sucessor de Vítor Pereira e de Jorge Sampaoli falou diretamente à torcida. "Que eu tenha a capacidade do Tite enquanto profissional, mas, antes, do Adenor, enquanto pessoa; de poder representá-los. A dignidade, a força e o trabalho para que a gente possa merecer o sucesso. Ser melhor que os outros é o nosso objetivo. Ser melhor que nós mesmos talvez seja melhor ainda". A estreia será contra o Cruzeiro no próximo dia 19, no Mineirão.
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