A festa teve direito a churrasco, bateria, sinalizadores, faixas e bandeiras, mas chegando a hora de cantar o parabéns, tudo foi por água abaixo. Assim se resume a concentração de torcedores do Internacional em Brasília para acompanhar a eliminação do clube gaúcho na semifinal da Libertadores, nesta quarta-feira (4/10). Cerca de 200 colorados reuniram-se em um bar da capital para “fazer da Asa Norte o Beira-Rio” e apoiar o time rumo a mais uma final continental, mas a virada no fim estragou os planos.
Apoio não faltou. A festa começou antes mesmo da bola rolar e a torcida cantava a plenos pulmões para fazer os jogadores ouvirem a mais de 2 mil quilômetros de distância. No meio da rodinha com sinalizador aceso, carne na brasa e incentivo máximo, a euforia ficou ainda maior quando Mercado cabeceou na saída errada de Fábio para fazer 1 x 0 no Fluminense. Eram abraços, cerveja no ar, cadeira voando e tudo que se tinha direito para comemorar a dianteira no placar.
Com o Inter melhor no jogo e criando boas chances, os colorados não escondiam a empolgação e sonhavam com a nova final de Libertadores após mais de uma década. Ao passo que as oportunidades surgiam e eram desperdiçadas por Enner Valencia, o grito ganhava ainda mais fôlego e a vaga parecia estar se tornando real, mas logo o cenário começou a mudar.
Com o terceiro gol perdido pelo atacante equatoriano, um torcedor gritou “isso pode fazer falta lá na frente”. Ao lado, outro respondeu com confiança: “não vai!”. E acabou fazendo. Em menos de 7 minutos, John Kennedy e Germán Cano colocaram uma bola na rede cada e viraram o jogo. Alguns resolveram ir embora e houve até um princípio de confusão, mas o silêncio tomou conta. Vez ou outra um bradava “vamos Inter”, mas sem ter o coro respondido pelos demais.
Com o apito final, as emoções das mais diversas apareceram. Uns incrédulos e sem esboçar reação para o ocorrido, outros xingavam, alguns choravam e eram consolados, também tiveram os que logo rumaram para casa. A tristeza misturada com a decepção deu contornos fúnebres à bonita festa na Burgueria dos Anões e no Bar dos Amigos, na SQN 410.
Voz do povo
A gaúcha Victória Salomão, de 28 anos, explicou o sentimento. “É frustração. Estou irritada e triste. O Inter estava surpreendendo, jogou melhor o jogo inteiro. Eu estava com esperança de levar esse título, a gente fica sempre na expectativa quando vai para uma semifinal de campeonato, então é frustrante. Como torcedora, fico insegura e desmotivada. Não sei se é azar, se é uma coisa predestinada do destino, se é falta de tática, se é jogador cansado, mas não vejo culpado”, detalha.
No Distrito Federal há dois anos, a moradora do Sudoeste acrescenta que a campanha do Colorado na Libertadores indiretamente ajudou na adaptação à nova cidade. Com amigos gaúchos no meio da torcida, ver a festa com símbolos tradicionais do Sul fez ela poder se sentir em casa e serviu de consolo nos últimos meses.
Um dos integrantes dessa festa é Luis Alberto Ramirez, 55, membro do consulado do Internacional no DF. Para o bancário, foi motivo de orgulho ver a reunião colorada, mas lamenta o resultado final. “O futebol é isso, a bola pune. O Inter deixou de fazer gol no Maracanã e no Beira-Rio. Aí a bola cai no pé de um Cano, por exemplo, que ali ele é mortal, e dá nisso. Não pode. É frustrante e revoltante. O time estava bem e merecia o resultado, a torcida também. Fizemos da Asa Norte o Beira-Rio. Mas merecer no futebol não quer dizer muita coisa”, diz.
O morador de São Sebastião e conselheiro pelo movimento "O Povo do Clube" acredita que o time errou nos dois jogos. Na ida, Renê falhou nos tentos do tricolor carioca, enquanto no Sul Valencia esteve fora do padrão habitual. Com apenas o Brasileirão para disputar e mais perto do Z4 do que da zona de classificação para a próxima Libertadores, o brasiliense espera uma virada de chave por parte dos jogadores para encerrar bem a temporada.
“Eles têm que fazer a parte deles. A situação do Inter no campeonato não está fácil, então eles têm que tomar uma atitude e fazer diferente. O time está jogando bem, mas precisa dar um jeito de colocar a bola para dentro”, opina.
Apesar do momento em baixa com a eliminação, a dupla colorada chama o torcedor do DF para apoiar e confia na recuperação já no final de semana, quando o Gigante do Beira-Rio recebe em casa o Grêmio, às 16h de domingo (8/10). “Vou assistir e vou torcer, porque faz parte de ser uma torcedora. É na alegria e na derrota, sofrendo muito. O Inter é o nosso time, é algo que muitas vezes a gente carrega de gerações, como é o meu caso, é o amor da nossa família. E o futebol é isso aí, não dá para desanimar, temos que ir com o Inter onde o Inter estiver”, compartilha Victória.
“Se a gente conseguir abstrair o que aconteceu hoje e jogar futebol, a gente ganha do time do Grêmio. Agora é ver se consegue virar a chave e jogar. O recado que eu tenho que dar a torcida é para continuarem sendo colorados como estão sendo. Hoje aqui lotou. Vamos continuar lutando e vencendo, porque ser colorado é isso: não desistir nunca”, encerra Luis.
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