Futebol

Gianni Infantino vira o "Todo Poderoso" e deixa a Copa de ponta-cabeça

Como o "onipotente" presidente da Fifa copiou-colou a mesma estratégia adotada por ele e Michel Platini na Uefa nos 60 anos da Euro e emplacou a edição centenária do Mundial em três continentes

Como no filme Todo Poderoso, Gianni Infantino tomou o controle dos deuses do futebol e faz o que quer com o mais nobre evento de futebol da Fifa -  (crédito: Valdo Virgo/CB.DA Press)
Como no filme Todo Poderoso, Gianni Infantino tomou o controle dos deuses do futebol e faz o que quer com o mais nobre evento de futebol da Fifa - (crédito: Valdo Virgo/CB.DA Press)
postado em 05/10/2023 00:01 / atualizado em 05/10/2023 09:42

Sinopse do filme Todo Poderoso (2001): Bruce Nolan (Jim Carrey) é um jornalista com bom emprego na tevê e uma bela namorada, Grace (Jennifer Aniston). Em um acesso de fúria, ele xinga e questiona o modo de Deus fazer tudo funcionar. Ele desce à Terra como homem e lhe entrega o poder de comandar o planeta por um dia como desejar. Bruce percebe o quão difícil é brincar de ser Deus e tomar conta de tudo o que acontece no planeta.

Qualquer semelhança entre Bruce Nolan e Gianni Infantino não é mera coincidência. O presidente da Fifa resolveu peitar os deuses do futebol, tirar tudo de ordem e gerar um caos no mundo do esporte mais popular do planeta. A última invenção do Todo Poderoso da bola nem é tão original. Trata-se de um Ctrl C Ctrl V no que ele e Michel Platini planejaram para celebrar os 60 anos da Euro em 2020. A edição centenária da Copa, em 2030, será realizada em seis países de três continentes diferentes. A festa começará no Uruguai, palco da primeira versão em 1930, na Argentina e no Paraguai. Na sequência, atravessará o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo para continuar na Europa (Espanha e Portugal) e na África (Marrocos). No fim das contas, três partidas na América do Sul e 101 divididos entre Europa e África.

O jeitinho para agradar a todos beneficia, por tabela, a Arábia Saudita. A nova meca do futebol é favorita a hospedar o evento em 2034. Apenas nações da Ásia e da Oceania podem se candidatar. O país do Oriente Médio é o primeiro. Austrália, Nova Zelândia, China, Japão e Coreia do Sul e Índia avaliam entrar no páreo.

Originalmente, a candidatura conjunta de Espanha e Portugal tinha a Ucrânia como convidada em um recado à Rússia devido à guerra. O país do Leste Europeu desistiu e Marrocos ocupou o vácuo. A candidatura sul-americana de Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai foi retirada em troca dos três jogos na abertura de 2030. Antes, Arábia Saudita, Egito e Grécia haviam recuado.

Infantino adaptou à Família Fifa o roteiro usado nos tempos de secretário-geral da Uefa. Em 2012, o chefe dele, o então presidente da entidade Michel Platini, teve a ideia de celebrar os 60 anos da Eurocopa no continente inteiro. Sem sede fixa. Batizou a invenção de "Uma Euro pela Europa". Infantino convenceu os filiados. "Uma Eurocopa em toda a Europa. O torneio de 2020 será espalhado pelo continente", comunicou.

Disputada em 2021 devido à pandemia, a Euro-2020 foi itinerante. As 52 partidas rodaram por 11 países até a final, em Wembley. Os 104 da Copa do Mundo cigana circularão por seis países em 2030. "Em um mundo dividido, a Fifa e o futebol estão se unindo", defende Infantino. "A Copa Centenária 2030 começa onde tudo começou. Uruguai, Argentina e Paraguai sediarão as partidas de abertura", afirmou o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguéz.

Ao brincar de Todo Poderoso, Infantino cria impasse nas Eliminatórias da América do Sul. O que será feito dela para 2030? O processo seletivo para 2026 é disputado por 10 seleções. O continente pode emplacar sete na Copa! Seis direto e uma via repescagem. Pois bem. Levando-se em conta as classificações de Argentina, Paraguai e Uruguai em 2030, pode-se projetar a classificação de pelo menos nove seleções desta banda do Oceano Atlântico se uma delas ficar pelo caminho na fase de recuperação. A entidade avaliará critérios técnicos e anunciará oficialmente a organização no fim de 2024.

A Copa em três continentes é mais uma das revoluções de Infantino. O suíço rompeu contrato com a revista France Football, anunciou o divórcio na eleição de melhor do mundo e criou o Fifa The Best. Inaugurou o VAR na Copa do Mundo. Extinguiu a Copa das Confederações e lançará o novo Mundial de Clubes da Fifa em 2025 com 32 times. Estuda a criação do Mundial de Clubes Feminino. Ampliou a Copa delas para 32 seleções.

A onda de mudanças revoltou fãs da Copa do Mundo nas redes sociais do mundo inteiro. "A Fifa prossegue seu ciclo de destruição contra o maior torneio do mundo", atacou a associação Football Supporters Europe na rede social X (antigo Twitter). O grupou chamou a fórmula de "horrível" para os torcedores e "sem consideração" com o meio ambiente".

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