Aquilo que nem mesmo Vítor Pereira foi capaz de separar, talvez Adenor Leonardo Bachi, o Tite, consiga. Nove meses após entrarem em rota de colisão pelo treinador português, Corinthians e Flamengo estão em cabo de guerra para ver quem fica com o dono da prancheta da Seleção Brasileira nas últimas duas Copas do Mundo, na Rússia e no Catar. Embora tenham apelos populares semelhantes, os dois clubes se apegam a pontos diferentes para convencer o pretendido.
A diretoria rubro-negra está mais próxima de Tite. Nenhuma proposta foi apresentada ao treinador, mas há conversas em curso. Segundo o portal ge.globo, ontem, o presidente Rodolfo Landmim, o vice Marcos Braz e o diretor Bruno Spindel jantaram com o técnico. Estão mais animados, considerando que há alguns meses o profissional não cogitava trabalhar em 2023. Um dos trunfos do clube é o novo desafio para tirá-lo da “zona de conforto”.
O salário também seduz. O gaúcho de 62 anos teria vencimentos superiores aos R$ 2 milhões pagos a Sampaoli e embolsaria mais que os quase R$ 20 milhões anuais como funcionário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
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Outro facilitador para o acerto pode ser a Cidade Maravilhosa. Tite mora em um condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, desde 2016. O Flamengo treina no Ninho do Urubu, na mesma região da capital fluminense. Caso aceite o convite, teria uma rotina pouco mudada. A oportunidade de comandar o elenco mais valioso da América do Sul também pesa. O foco inicial de Tite pós-Seleção era a Europa, mas a possibilidade de recolocar o clube mais popular do país nos trilhos anima.
O maior entrave dos avanços tem nome e sobrenome: Jorge Sampaoli. Por questões éticas, Tite não negocia com times vinculados a outros treinadores. Embora não tenha mais clima com jogadores e dirigentes, com exceção do presidente Rodolfo Landim, o argentino ainda é o comandante. Para romper com Sampaoli antes do término do contrato em 31 de dezembro, a cúpula terá de desembolsar quase 2 milhões de euros (cerca de R$ 10,6 milhões).
Outro ponto ruim para Tite no Flamengo pode ser o estilo de jogo. O presidente Rodolfo Landim não é o maior entusiasta da filosofia do gaúcho, embora tenha frequentado, como chefe de delegação, o vestiário da Seleção Brasileira na campanha do nono título da Copa América de 2019. O discurso é comprado por parte a torcida.
A sombra do trabalho feito por Jorge Jesus há três anos tende a gerar impaciência das arquibancadas com eventuais tropeços, resultados ou desempenhos insatisfatórios. Nos últimos dias, porém, Landim foi convencido de que Tite é a melhor opção e que a inteligência tática e a gestão de vestiário podem alavancar o time.
Retorno a São Paulo?
A situação poderia ser diferente no Corinthians. Mentor de seis conquistas em três passagens pelo alvinegro, entre elas o Mundial de Clubes e a Libertadores de 2012, Tite teria carta-branca no CT Dr. Joaquim Grava. Teria respaldo do elenco, da torcida e da diretoria. O clube passará por eleições em 25 de novembro, mas o ex-treinador do clube tem unanimidade entre a situação e a oposição. A soma dos fatores tornaram o trabalho confortável. O apego aos feitos do passado poderiam levar o gaúcho de Caxias do Sul a avaliar o projeto. Contudo, uma decisão de cabeça frustraria os planos de retorno.
A situação financeira corintiana está longe de ser boa. A dívida atual está na casa dos R$ 900 milhões. Nesse cenário, Tite deveria receber salário inferior ao da Seleção Brasileira e ao que o Flamengo pode oferecer. A falta de grana no caixa impacta diretamente o planejamento para a próxima temporada. O atual elenco é repleto de medalhões e carece de novas peças. Os cartolas alvinegros sabem disso. Ontem, segundo a coluna do jornalista André Hernan, no UOL, a diretoria paulista teria desistido de Tite após não responder ao convite horas depois da demissão de Vanderlei Luxemburgo. Entretanto, o clube não manifestou oficialmente a retirada no páreo.
Mas, diferentemente do Flamengo, o Timão tem um “plano B” caso não convença Tite. Campeão da Série B de 2008 e da Copa do Brasil de 2009 pelo time paulista, o gaúcho está livre no mercado após a demissão no Internacional, em julho. Mano almoçará hoje com a diretoria, em São Paulo. O Corinthians corre contra o tempo, pois luta para se distanciar mais da zona da confusão no Campeonato Brasileiro. No sábado, enfrenta o São Paulo, às 18h30, no Morumbi. Três dias depois, disputa uma vaga na final da Copa Sul-Americana contra o Fortaleza.
Ao desembarcar no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, no domingo, Tite se esquivou sobre negociações com a dupla mais popular do Brasil. O treinador também evitou alarde pela chegada na capital fluminense após estadia em Porto Alegre. “Estou vindo com a família. Tenho residência aqui, faz sete anos. Qualquer coisa que eu falar, vocês vão fazer uma analogia. Se alguma coisa me pauta, é o respeito. A educação, os princípios. Respeito o Flamengo e o Corinthians”, discursou Tite.
A relação entre Timão e Fla esfriou. O caso Vítor Pereira respingou nas diretorias. Em agosto, os paulistas negaram o aluguel da Neo Química Arena aos cariocas, sem estádio para o duelo contra o Athletico-PR em 13 de setembro, pelo Brasileirão. A tensão deve aumentar nas próximas horas e dias. A dupla se enfrenta em 7 de outubro, em Itaquera.
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