A Conferência Distrital 2023 teve uma palestra de renome nesta terça-feira (26/9). Convidado pela seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Zico trouxe exemplos da vida no futebol para transmitir mensagens sobre liderança em diversas situações, em palestra realizada no Estádio Nacional Mané Garrincha.
Entre os tópicos citados, antes de diferenciar os tipos de líderes, o ex-atleta cita o que constrói um comandante em si. “O líder é que inspira, sabe ouvir, quem orienta, quem sabe comandar um grande time, como um técnico. Muitas vezes tem mais gente na comissão que o elenco e comandar isso não é fácil. Não entendo nada de medicina ou nutrição, mas é importante saber ouvir. A responsabilidade não pode ser transferida, tem que dar autonomia. Isso tem que ser assumido sempre. Como técnico, jamais deixei de assumir isso. Tem que ser sempre de quem comanda e lidera”, explica.
O primeiro dos exemplos durante a carreira começa na era juvenil, ainda nas categorias de base no Flamengo, onde a Seleção Pré-Olímpica esteve a ponto de descartá-lo. “Apenas pude ficar treinando, em termos. Não foi bem verdade. Eu ia todos os dias na Gávea, botava meu uniforme, mas ficava entre os não-utilizados. Pelo menos o técnico foi franco com todos nós. Depois de dois meses falaram comigo que eu não estava treinando ou jogando. Eu disse que a culpa não era minha, não era problema meu”, relata.
Em tal momento, os irmãos de Arthur, Eduardo e José, não permitiram que o jovem desistisse da carreira. “Passo a não acreditar mais com as pessoas. Aconteceu com meus irmãos e eu não quero que seja comigo. Ia voltar a estudar. Como jovens, às vezes, a gente toma decisões sem pensar direito. Depois de dez dias, tinha notificado isso ao Flamengo. Eles que me incentivaram a voltar, me disseram que agi errado com o Flamengo. Eles eram minhas referências, sofreram e tiveram a razão. Graças a Deus e a eles fiz uma história. A maior felicidade no futebol foi ter essa liderança em casa”, conta.
Em outro momento, Zico contou como as derrotas podem ensinar, dando o exemplo do Brasil de 1982, tido como um dos maiores times da história. “A gente passou a ter o conhecimento do que a Seleção fazia depois de tudo ter acontecido. Estive em outros lugares e sempre perguntavam como aquele time perdeu a Copa do Mundo. A gente não tinha, na Espanha, notícias da proporção da euforia no Brasil. A partir da segunda fase, é erro zero: errou, voltou para casa. Isso aconteceu contra a Itália”, justifica.
“Eu joguei 66 partidas oficiais pela seleção brasileira e a única que perdi foi essa. Não tenho nada que reclamar, só agradecer e tirar lições. A nossa derrota ajudou outras seleções a ganhar títulos. Todos esses jogadores, individualmente, tiveram grandes resultados e conquistas. Mas infelizmente essa não foi possível”, lamenta um dos integrantes da equipe liderada pelo técnico Telê Santana. Ainda assim, a lógica de lição a partir de um fracasso inesperado serve para moldar a personalidade de uma pessoa, de acordo com o ex-jogador.
Em uma fala sobre dedicação e esforço, o ídolo do Fla disparou sobre o novo modelo do mercado de transferências, com a venda precoce de jogadores, sobretudo os formados em uma base tradicionalmente forte, como no clube carioca. “Antigamente o Flamengo fazia craques em casa. Hoje eles são vendidos. É um lamento que esses jovens não sejam tão bem aproveitados”, declara.
Sobre o espírito de equipe, o palestrante remeteu à participação coletiva no título do Mundial de 1981, na hora das premiações individuais. “O presidente (do clube) nos chamou e disse que havia dois carros, que eram dados pela Toyota. A gente sabe que existem algumas posições que não tem o destaque que merece e a possibilidade de ganhar é menor, como o goleiro. Deram o prêmio para o alemão (Oliver Kahn) antes da final (da Copa do Mundo de 2002) e ele entregou dois gols para nós. Ótimo, melhor. A gente dividiu o valor do veículo pelos 17 atletas. Eu ganhei um, o Nunes outro, cada um desembolsou e todos ganharam. Ninguém ganha jogos ou campeonatos sozinho. Hoje só se fala dos jogadores individualmente, na mídia. Assim também é com os técnicos. O time também importa”, afirma.
“O Alex foi o maior jogador que eu treinei. Ele me disse que eu era ídolo dele e eu queria que ele me visse como treinador, não como ex-jogador. Eu tinha coisas a passar para ele sobre o jogo e sobre a liderança. Fiquei feliz de poder ter dirigido, treinado e ter dado o pontapé inicial para essa nova carreira dele como treinador”, diz o também ex-técnico. O também camisa 10 histórico de Palmeiras, Cruzeiro e Coritiba foi subordinado de Zico no Fenerbahçe, de Turquia, que tem Alex como um dos maiores ídolos da história.
Seguido a isso, o ídolo rubro-negro recebeu a honraria da entidade e cercado de seguranças atendeu a alguns pedidos de torcedores. Cerca de 70 flamenguistas participantes do congresso se juntaram perto do craque para tirar fotos e ter autógrafos em camisas e em folhas de papel. Tiveram uma recordação moral e afetiva da presença do Galinho de Quintino na capital federal.
*Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima