Copa do Brasil

Visitante indigesto: São Paulo vence Flamengo no primeiro jogo da final

No Maracanã lotado, tricolor bate rubro-negro, por 1 x 0, e fica a um empate do título inédito. Time carioca acusa o golpe, Sampaoli protagoniza cenas de descontrole e torcida vaia atuação dos jogadores

Nunca o tão aguardado título da Copa do Brasil esteve tão perto para o São Paulo. Mesmo sem fazer uma grande exibição, mas se mostrando à vontade no Maracanã, o tricolor paulista derrotou o Flamengo, neste domingo (17/9), por 1 x 0, com gol de Calleri. Agora, está a um empate no Morumbi para conquistar o primeiro título na competição.

Com o jogo encerrado, o torcedor são-paulino — que lotou espaço reservado no estádio — cantou a plenos pulmões que "o Maraca é nosso". Do outro lado, os rubro-negros gritavam "vergonha" e disparavam impropérios aos dirigentes do Flamengo. A festa do início de noite no Rio era paulista.

A final no domingo à tarde — o que acontece apenas pela terceira vez neste século — não foi a única novidade da decisão. Ela trouxe também uma dificuldade extra aos dois times: um calor de 32°C, que exigiu um esforço adicional dos jogadores.

A boa notícia é que pelo menos puderam jogar sobre um gramado (quase) digno de decisão e de Maracanã. Sem jogos desde o dia 26 do mês passado, período pelo qual recebeu tratamento especial, o campo de jogo estava em boas condições e, dessa vez, eventuais buracos não serviriam como desculpa.

Esquemas táticos

Os treinadores, cada um à própria maneira, também trouxeram novidades. Dorival Júnior decidiu dar uma dose de cautela e começou o jogo com Rodrigo Nestor em campo e Luciano no banco. Jorge Sampaoli optou por um esquema mais ofensivo, com Bruno Henrique, Gabriel Barbosa e Pedro.

Uma equipe mais afeita ao ataque era tudo o que o apreensivo torcedor rubro-negro, que lotou o Maracanã, esperava depois de semanas de incertezas e incômodo com as exibições abaixo da média do time comandado por Sampaoli. Mas o ânimo esfriou tão logo a bola começou a rolar, pois o trio ofensivo não conseguiu criar diante do quarteto defensivo do São Paulo. Arboleda e Beraldo se revezavam no miolo de zaga na marcação a Pedro. Caio Paulista não dava espaços para o impaciente Gabriel Barbosa na esquerda. E Bruno Henrique não vencia os duelos com Rafinha do outro lado.

Para completar, no primeiro tempo da decisão, quem levou mais perigo foi o São Paulo do aparentemente cauteloso Dorival. Não que o time tenha exercido severa de pressão, mas o tricolor demonstrava, pelo menos, saber qual caminho percorrer. E sempre começava com Lucas Moura. Partia dos pés do camisa 7 quase todas as jogadas mais lúcidas do São Paulo. Posicionado à frente do grande círculo, Lucas ora buscava as enfiadas para Calleri, ora tentava encontrar algum ponta pelos flancos. Havia repertório, mas faltava eficiência.

Isso começou a mudar na reta final do primeiro tempo, quando o São Paulo estava plenamente à vontade no Maracanã. Aos 45, Lucas encontrou Rodrigo Nestor na esquerda, que cruzou pelo alto, na segunda trave, onde Calleri, completamente livre, cabeceou para o gol de um indeciso Matheus Cunha, abrindo o marcador.

Na etapa final, o Flamengo esboçou reação, especialmente com a entrada de Everton Ribeiro para armar as jogados pelo meio. O rubro-negro exerceu relativa pressão, mas o São Paulo reforçou a defesa, com mais um homem na marcação, e segurou o placar até o final. No Morumbi, terá a vantagem do empate.

 

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Pressão sem eficiência no 2º tempo

Em tese, o gol quase ao fim da etapa inicial daria ao São Paulo uma tranquilidade maior para trabalhar a partida no segundo tempo. O time ainda poderia tirar vantagem do nervosismo do Flamengo, que voltou para o campo vaiado pelo próprio torcedor. O jogo, contudo, começou com uma dinâmica diferente daquela vista na primeira parte. Com Everton Ribeiro na vaga de Victor Hugo, o rubro-negro avançou as linhas e finalmente deu a entender que faria valer o fator casa.

As tabelas e triangulações ofensivas, que inexistiam até então, começaram a aparecer. Assim, o eficiente quarteto defensivo do São Paulo não tinha mais a mesma facilidade para quebrar o jogo do Flamengo. O time paulista também não conseguia mais trocar passes no meio. Restava à equipe se defender e tentar os lançamentos para um isolado Calleri no ataque.

Vendo o time acuado, Dorival Júnior tratou de mexer. Primeiro, saiu Alisson, o único da equipe até então com cartão amarelo. Depois, Lucas e Nestor deixaram o campo. Gabi, Luciano e Michel Araújo entraram.

As mudanças não foram suficientes para fazer o São Paulo voltar a se impor, mas ao menos tiraram o time do sufoco defensivo. Assim, bastaria deixar o tempo correr e assegurar a vitória no primeiro jogo das finais da Copa do Brasil. Deu certo. A primeira Copa do Brasil do São Paulo nunca esteve tão perto.

Inconformada com o futebol ruim e com o resultado da partida, parte da torcida do Flamengo deixou o Maracanã mais cedo. Houve uma grande vaia, acompanhada de xingamentos impublicáveis ao presidente Rodolfo Landim, quando o locutor do estádio anunciou a renda da partida. Os mais de R$ 26 milhões são a maior arrecadação da história do futebol brasileiro em uma única partida.

Treinador admite mau desempenho

Um time nas cordas e com um treinador sem tanto envolvimento com o elenco. Foi essa a impressão passada pelo técnico Jorge Sampaoli após a derrota para o São Paulo. Duas cenas chamaram especialmente a atenção. Faltando um minuto para o fim do primeiro tempo, o treinador argentino deixou a beira do gramado e se dirigiu ao vestiário — aparentemente, confundiu uma marcação do árbitro com o encerramento da etapa. Depois, após o apito final da partida, foi flagrado pelas câmeras desferindo um chute nas grades de proteção no túnel de saída. A frustração e o nervosismo eram evidentes.

No entanto, questionado se o Flamengo ainda crê na conquista do título no Morumbi, o treinador tentou passar uma ponta de esperança para o torcedor. "Nós vamos ser campeões. Tenho esse pensamento. Não só eu como o corpo técnico. Eu tenho certeza disso."

Apesar da frase de efeito, o abatimento acompanhou o técnico argentino durante toda a coletiva. Sampaoli creditou a derrota ao primeiro tempo muito abaixo do esperado e admitiu que o Flamengo ainda não conseguiu apresentar o futebol que ele almeja. "O São Paulo propôs o jogo no primeiro tempo e nós fomos muito imprecisos no último terço do campo. No segundo tempo, eles se plantaram no campo e conseguimos chegar ao ataque, mas faltou a convicção de matar o rival", afirmou o treinador.

Bombardeado por perguntas, principalmente pela opção em escalar Gabigol, Pedro e Bruno Henrique no ataque desde o início, Sampaoli falou sobre a falta de disposição da equipe carioca. "É um sofrimento para mim também. Estamos muito longe de montar em campo o time que eu pretendo. Até agora as apresentações que eu espero no Flamengo ainda não aconteceram."

Sampaoli eximiu o goleiro Matheus Cunha de culpa no lance do gol de Calleri e afirmou que o jogador conta com a confiança dele por tudo que vem fazendo desde que assumiu o cargo de treinador no Flamengo. "Não vou culpar ninguém. O Matheus Cunha tem um aproveitamento muito bom", disse.

Dorival prega cautela

O técnico Dorival Júnior se mostrou satisfeito após a vitória do São Paulo sobre o Flamengo. Nem por isso, contudo, o treinador se deu ao direito de comemorar com mais entusiasmo o triunfo na primeira partida da decisão da Copa do Brasil. Em pelo menos cinco momentos da longa entrevista coletiva que concedeu no estádio, o treinador alertou que a competição está indefinida e que o tricolor "terá de jogar mais" se quiser confirmar o título.

"A decisão não está definida, o campeonato não está definido. Conheço o adversário, temos de ter muito cuidado e correr muito mais", alertou Dorival, que no ano passado conquistou a Copa do Brasil justamente comandando o Flamengo. "É apenas a primeira etapa de um jogo de 180 minutos. Não podemos esquecer quem está do lado de lá, a qualificação desse grupo que eu conheço muito bem. Vamos ter de fazer muito mais."

O treinador elogiou a postura do time tricolor e agradeceu ao restante da comissão técnica. Segundo Dorival, a equipe fez no gramado do Maracanã tudo o que planejou nos treinamentos ao longo da semana. "Nos preparamos muito bem para essa partida. O pessoal da análise de desempenho, nossos auxiliares, eles fizeram um trabalho exemplar. Isso nos deu condições de colocar coisas importantíssimas aos jogadores", sustentou o técnico.

De acordo com Dorival, a escalação do Flamengo com três atacantes e com Everton Ribeiro no banco foi uma das duas que ele e os auxiliares imaginavam que poderia acontecer, o que reforça o comentário sobre o time estar bem preparado para o jogo. "Preparamos a equipe com a entrada do Everton num primeiro momento, como também jogando teoricamente num 4-3-3. Mas são apenas números. Gabriel entra muito bem pelo meio, Pedro flutua muito bem. Em determinado momento, fazem quase um losango. Eu esperava um Flamengo nessas duas possibilidades e foi com ela que trabalhamos ao longo da semana."