Enviado especial a Belém — Uma olhadinha contrariada para o ar-condicionado gelado na sala de conferências antes da quebra do silêncio. Neymar não dava entrevista coletiva na Seleção Brasileira desde 2019, em Cingapura, na celebração de 100 jogos com a amarelinha. A temperatura ambiente não era o único incômodo. O camisa 10 repetiu várias vezes a palavra crítica, deu estocadas em veículos de imprensa, no Campeonato Francês, fez ponderações sobre as declarações de Jorge Jesus de que ele não está pronto para jogar, confirmou presença na partida desta sexta-feira contra a Bolívia, às 21h45, no Mangueirão, na estreia do Brasil nas Eliminatórias, e disse que jogar futebol e como andar de bicicleta: ningém desaprende.
Neymar ainda não disputou partida oficial nesta temporada. Sequer debutou com a camisa do Al-Hilal no Campeonato da Arábia Saudita. Disputou apenas um amistoso pelo PSG antes da transferência. Fez dois gols e deu uma assistência. Jesus chegou a dizer que não entendia a convocação da CBF. Segundo ele, o reforço não estava bem fisicamente.
"Eu me sinto bem, estou feliz, a cabeça está boa, o corpo também. Não vejo as palavras do Jesus com maldade. É preservação do jogador que ele tem. Não estou 100%, mas jogar futebol é igual a andar de bicicleta", comparou.
Maior artilheiro da Seleção ao lado de Pelé com 77 gols, Neymar pode deixar o Rei para trás nesta sexta contra a Bolívia ou na terça diante do Peru, em Lima. Ao responder sobre essa possibilidade, ele baixou a cabeça para domar a emoção de falar sobre o maior de todos os tempos.
"O Pelé é o Rei do Futebol. Imagina superá-lo. Depois que eu fizer o gol explico a sensação. Só de chegar aqui estou feliz. Na vida, a gente nunca está sozinho. Se eu fizer o gol será dedicado às pessoas que me ajudaram", afirmou o atacante.
Aos 32 anos, Neymar admitiu ter pensando em deixar a Seleção depois da Copa de 2022. Segundo ele, foi convencido pela família a continuar e está encantado com o início da parceria com Fernando Diniz. "Orgulho grande de trabalhar com ele. Vamos fazer de tudo para dar certo. Nosso sonho do Mundial foi adiado mais uma vez de uma forma que não quero lembrar, mas faltam três anos e meio para a próxima. Passa muito rápido", projeta.
O craque pediu paciência à torcida na primeira exibição sob a batuta de Diniz. Precisamos de tempo nesse recomeço. Diniz faz um trabalho diferente de tudo que presenciei. Mentalidade distinta. Ele gosta de reinventar o futebol. Cara muito interessante. Falamos para ele que é um trabalho totalmente diferente", compartilhou.
O retorno à Seleção contra a Bolívia fará Neymar atingir a marca de 125 jogos desde a estreia contra os Estados Unidos, em 2010. Você já saiu de casa? Sentiu saudade? Eu também. São 13 anos de Seleção. Uma hora isso aqui vai acabar. Deixei em dúvida porque era o que passava pela minha cabeça naquele momento (eliminação contra a Croácia). Aquela era a minha verdade. Fiquei na dúvida, sim, de voltar para a Seleção, mas quando você conversa com amigos revê algumas posições. Quando a gente está com a família, com os seus, vê que vale a pena continuar", ponderou.
Aos que colocam em dúvida a sequência dele por jogar na Arábia Saudita, o craque alfinetou o Campeonato Francês. "A bola lá é redonda, tem gol... Sei não se não é melhor do que o Campeonato Francês. Não tem muito segredo. O Campeonato Francês é o lugar em que eu mais apanhei na minha vida. Não vai ser fácil ganhar o Campeonato Saudita. É uma liga muito interessante. Eu estou feliz com a minha decisao e o futuro que vem pela frente. Saiu um monte de palpite, um monte de sabidos", cutucou.
O patrimônio do Al-Hilal encerrou exaltando o trabalho humanizado de Diniz. "Um cara muito diferente. Se preocupa muito com o jogador dentro e fora do campo. Ele diz que o importante é a gente estar feliz. São detalhes que parecem não fazer a diferença, mas ele tem um coração muito grande", disse.