Enviado Especial
Belém — O ciclo para a Copa de 2026 tem um norte nas relações humanas estabelecido na capital paraense: como diz a canção "Nos bailes da vida", de Milton Nascimento, "todo artista tem de ir aonde o povo está". A Seleção precisa dar e receber carinhos. Fria, distante e até mesmo indiferente na interação com os torcedores na Copa do Catar em 2022, o elenco mostra mudança radical no início da caminhada rumo ao Mundial de 2026 no Canadá, Estados Unidos e no México. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, o técnico Fernando Diniz e os jogadores querem que seja assim.
Apaixonada por futebol, a população paraense ama e é amada pelos ídolos. Há contrapartida na relação. Principal astro da companhia, Neymar quebra o gelo com incansáveis autógrafos, acenos, cumprimentos e poses para selfies. É assim a cada saída e chegada ao Grand Mercure, o luxuoso hotel localizado na avenida Nazaré, no centro de Belém, onde o presidente da República Luiz Inácio da Silva Lula e outras autoridades ficaram hospedados recentemente na passagem pela cidade para a participação na Cúpula da Amazônia. Alguns torcedores fazem vigília na porta da concentração à espera de um olhar.
Carente depois da saída conturbada do Paris Saint-Germain, Neymar coloca a autoestima em dia na capital paraense. "É muito bom ser recebido assim com esse carinho. Estou muito feliz", disse ontem o jogador do Al-Hilal da Arábia Saudita. O camisa 10 está confirmado na primeira escalação de Diniz para a estreia verde-amarela nas Eliminatórias contra a Bolívia nesta sexta-feira, às 21h45, no Mangueirão: Ederson; Danilo, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Renan Lodi; Casemiro e Bruno Guimarães; Raphinha, Neymar e Rodrygo; Richarlison. Essa é a formação dos dois treinos.
A CBF recorre a uma velha estratégia: trocar os grandes centros do futebol brasileiro como Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre pelo calor humano de capitais carentes da presença da Seleção. Os pentacampeões não vinham a Belém desde 2011. Em outubro, irá ao Canadá. Como mostrou o blog Drible de Corpo do Correio Braziliense, Brasília deve receber o clássico com a Argentina, em novembro. Manaus e Recife estão na briga por partidas da Seleção em 2024. Não estão descartados jogos no grandes eixos, mas a preferência neste momento é por calor humano em uma tentativa de reativar a conexão entre os jogadores e a torcida.
"Sem dúvida, é muito legal. Vou falar para o público: muito obrigado, Belém, está incrível a sensação de estar aqui, o carinho que as pessoas têm. É com o Neymar, pelo jogador que é, mas com todos os jogadores. Só tenho a agradecer. A gente sabe que tem dificuldades, até pela distância, calor, mas vale a pena pelo carinho das pessoas aqui, correndo atrás do ônibus, em frente ao hotel, está muito bacana e só tenho a agradecer. São pessoas assim que nos inspiram a jogar pela seleção, vestir a amarelinha. Só tenho a agradecer", emocionou-se o volante Casemiro na entrevista coletiva.
O meia Raphael Veiga pode entrar em campo com a camisa da Seleção pela primeira vez no país. "Acredito que eles (torcedores) estavam com saudades também. Eu, particularmente, não joguei pela Seleção no Brasil e acho que a atmosfera vai ser muito legal e eu confesso que estou ansioso para isso", disse o jogador, encantado com a paixão da torcida paraense.
O carinho de fora para dentro aqueceu corações e quebrou o gelo no primeiro contato do elenco com Fernando Diniz. "A atmosfera entre os jogadores é realmente muito boa, a maioria já se conhece. Todo mundo tem um desejo nesse novo ciclo de mostrar e fazer acontecer. Está todo mundo disposto a aprender, é um estilo de jogo diferente, então acaba motivando os atletas a aprenderem. Todo mundo fica interessado. Com isso, a gente cria uma atmosfera boa com o desejo de ganhar e aprender, cria uma atmosfera boa entre jogadores e comissão", analisou Veiga.